O ministro do Interior da Argentina, Florencio Randazzo, reconheceu que existe "uma briga de interesses" comerciais entre seu país e o Brasil. Contudo, o ministro afirmou que "de nenhuma maneira" a presidente Cristina Kirchner vai partir para o confronto com o colega Luiz Inácio Lula da Silva.
Randazzo voltou a negar medidas oficiais de restrições às importações de alimentos, as quais poderiam prejudicar cerca de US$ 500 milhões de exportações brasileiras. O ministro também disse que, durante a visita de Lula a Buenos Aires, na última terça-feira, para a festa do bicentenário argentino, o presidente brasileiro "não se manifestou irritado em nenhum momento" sobre a relação comercial. Tampouco, segundo ele, houve alguma queixa formal do governo brasileiro sobre as supostas barreiras, porque "não há nenhum impedimento para que as importações entrem no país".
No entanto, o ministro deixou claro que a Casa Rosada pretende manter sua política de proteger a indústria nacional. "Brasil tem uma balança favorável com a Argentina, ou seja, a Argentina importa muito mais do que exporta. Isso não implica que nós não defendamos a indústria argentina, os trabalhadores e o preço nas prateleiras dos supermercados", disse o ministro. Depois de vários caminhões brasileiros terem sido barrados e, posteriormente liberados pela aduana argentina nas duas últimas semanas, ontem outros oito carregamentos de alimentos foram impedidos de entrar no mercado vizinho.
As advertências que o secretário de Comércio Exterior do Mdic, Welber Barral, fez ontem sobre a possibilidade de o Brasil retaliar a Argentina tiveram ampla repercussão no país. O presidente da Câmara de Exportadores, Enrique Mantilla, disse que não acredita nesta hipótese. "Creio que se trata de uma ação preventiva do Brasil para o caso de Moreno [o secretário de Comércio, Guillermo Moreno] ter alguma ideia que o afete, mas formalmente não há nada", disse o presidente da Câmara. Contudo, na Fiesp, a informação do diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior, Ricardo Martins, é de que 25% das compras de alimentos brasileiros já foram canceladas desde o último dia 17.
Até a aplicação do artigo do Protocolo de Olivos demoraria, no mínimo, 15 dias para a fase de consultas entre os países, além do tempo necessário para a instalação do tribunal, a convocação dos árbitros e o processo natural que eles necessitam para julgar o assunto, conforme explica o advogado brasileiro Antônio Garbelini Júnior.
Veículo: DCI