Afastamentos crescem 22 vezes

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De 2006 a 2009, auxílios a trabalhadores por doenças como depressão saltam de 612 para 13.478 - Aumento dos registros de transtornos mentais e comportamentais pela Previdência está ligado a maior exposição de casos

 

A quantidade de afastamentos de profissionais por transtornos mentais e comportamentais registrada pela Previdência Social cresceu 22 vezes entre 2006 e 2009.

 

Estresse e depressão, entre outras doenças, afastaram 612 pessoas em 2006 e 13.478 no ano passado, segundo relatório do Ministério da Previdência obtido pela Folha.

 

A principal causa, afirma o diretor de saúde e segurança ocupacional do ministério, Remígio Todeschini, é a mudança em 2007 da notificação -o profissional não tem mais de provar que a doença foi causada pelo trabalho (leia nas págs. 2 e 3).

 

Além disso, diz ele, "as fontes de mal-estar no emprego estão aumentando".
Para o médico Kalil Duailibi, da Associação Brasileira de Psiquiatria, a dificuldade de diagnóstico desses tipos de transtorno é grande.

 

Estresse e depressão são maioria

 

Doenças somam 9 em cada 10 casos de afastamento por transtorno mental e comportamental

 

Jornadas excessivas, ambientes competitivos e hostis e pressão por metas estão entre os principais detonadores

 

Doenças relacionadas ao estresse e ao transtorno de humor, como episódios depressivos recorrentes, encabeçam a lista de transtornos mentais e comportamentais que mais afastaram trabalhadores no ano passado.

 

Juntas, equivalem a 12.277 auxílios-doença acidentários nessa categoria -91% dos concedidos pelo Ministério da Previdência em 2009.
"São pessoas que não só adoeceram mas também ficaram incapacitadas [temporariamente] para o trabalho", diz a coordenadora do grupo Organizações do Trabalho e Adoecimento da Fundacentro, ligada ao Ministério do Trabalho, Maria Maeno.

 

Mesmo assim, afirma ela, essa somatória está mascarada. Inclui apenas casos reconhecidos pela perícia do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) no mercado.
"Muita gente incapacitada está trabalhando, na esfera privada e na pública", diz.
Alguns se escondem com receio de ser estigmatizados, esclarece o psiquiatra Kalil Duailibi. Temem ser demitidos ou ter o salário reduzido, acrescenta o psiquiatra Ca-tulo César Barros, do Hos- pital Nove de Julho.

 

Com medo e sob a pressão de metas e resultados, de maior intensidade de trabalho e de ambientes competitivos e hostis, esses profissionais tentam manter o nível de produtividade elevado.
Estendem a jornada quase automaticamente, com acesso constante aos e-mails e de prontidão para telefonemas.

 

Até o dia em que, como o publicitário Sérgio de Oliveira, 42, têm taquicardia "toda vez em que o telefone toca".

 

Com jornadas diárias que chegavam a 18 horas, cortou todas as fontes de lazer. Numa reunião, enquanto apresentava um projeto, cochilou. "Contornei a situação. Foi a gota d'água para readequar meu estilo de vida", conta o publicitário, que diminuiu o ritmo de trabalho.

 

O publicitário Eduardo Meireles, 23, mudou de emprego em fevereiro para fugir das jornadas de 12 horas. "Estou com pressão alta. Tenho de ir a um cardiologista."


 
Monitoramento é recurso para avaliar saúde mental de equipes

 

Governo aprova política para combater "sofrimento psíquico'

 

Para combater estresse e depressão no trabalho, a iniciativa privada se arma de estatísticas e programas voltados à qualidade de vida. Os números vêm de empresas contratadas para monitorar a saúde dos funcionários. A SulAmérica e o Fleury são duas das companhias que fazem o mapeamento.
 


Na primeira, os remédios mais vendidos aos 150 mil segurados são antidepressivos e ansiolíticos, usados no tratamento de estresse e depressão. "[Essas doenças são] quase uma epidemia", sinaliza o coordenador do programa, Roberto Galfi.

 

No Fleury, que acompanha 13 mil profissionais, depressão e estresse figuram no terceiro lugar entre as doenças que mais atingem os profissionais, segundo Graziela Lanzara, coordenadora médica do programa Gestão de Doenças Crônicas.

 

Para evitar dentro da própria "casa" os problemas verificados em seus clientes, a SulAmérica investe em um programa que inclui acompanhamento por telefone, dança, coral e massagem.

 

Uma vez por ano, promove terapias alternativas, como reflexologia e bambuterapia. "[Após as ações,] na avaliação anual, tivemos crescimento dos índices de satisfação no quesito equilíbrio da vida pessoal e profissional", relata Maria Helena Monteiro, vice-presidente de recursos humanos da seguradora.

 

GOVERNO

 

Além de oferecer um programa estruturado -e não pontual- visando ao bem-estar do trabalhador, é preciso acompanhar a frequência dos colaboradores, recomenda a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da Isma Brasil, associação de pesquisa e desenvolvimento da prevenção do estresse.

 

Neste mês, o governo também entrou nessa cruzada. No dia 5, foi publicada a portaria nº 1.261, do Ministério do Planejamento, com diretrizes para projetos de saúde mental a servidores federais.
 


Para o órgão, uma legislação própria sobre o tema se justifica porque a maior parte dos afastamentos do trabalho "são de ordem mental".

 

Entre as ações estão programas educativos, monitoramento de riscos ambientais e assistência terapêutica.

 

Essas iniciativas evitariam que alguém em "sofrimento psíquico" desenvolvesse "transtorno mental".

 


Veículo: Folha de S.Paulo


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