No ano passado, em plena ressaca da crise financeira, a L’Óreal completou 100 anos de fundação e 50 de atividades no Brasil. A recessão, no entanto, não impediu que o grupo fechasse 2009 com saldo positivo, com crescimento de 2,8% nas vendas em relação ao ano anterior. A participação no mercado mundial também apresentou incremento, passando de 15,2% para 15,8% no período, o que gerou uma receita superior 17 bilhões de euros. O cenário nacional é considerado um dos mais favoráveis para ampliação do segmento, possibilitando planos ambiciosos para o diretor-geral da divisão, Philippe Mottard. O executivo aponta que a companhia pode duplicar os rendimentos no mercado nacional, principalmente com a inclusão de itens especialmente dirigidos para os consumidores brasileiros e firmando parcerias com farmácias.
JC Empresas & Negócios - Para uma empresa que já era consolidada em outros segmentos, como foi a entrada dos dermocosméticos no País?
Philippe Mottard - A Divisão Cosmética Ativa começou com a aquisição de uma linha de produtos solares de fotoproteção chamada Helioblock, que pertencia à Gaderma. Então, em 2000, a Le Roche Posay se lançou no Brasil, recuperando essa gama de produtos e lançando categorias de antirrugas, produtos para corpo, capilar, antimanchas, formando toda a gama completa que compõe a marca. No ano 2001, lançamos a Vichy e a Innéov. Então, agora a divisão apresenta três marcas aqui no Brasil.
Empresas & Negócios - De maneira geral, como está o andamento desse mercado no País?
Mottard - Esse mercado está em pleno desenvolvimento, com um crescimento anual de 15% há muito tempo. O contexto brasileiro é muito favorável à dermocosmética. Primeiro, porque as brasileiras gostam de cuidar da aparência, então isso passa por uma demanda natural muito forte das consumidoras. Segundo, porque o Brasil tem a dermatologia mais avançada do mundo na parte estética. Temos 6 mil dermatologistas no País, 400 especialistas novos por ano. É uma disciplina que está crescendo fortemente e beneficia as marcas de dermocosméticas, já que somos o complemento terapêutico ideal dos tratamentos estéticos que fazem esses profissionais. A terceira razão é que aqui no Brasil temos um canal farma moderno e que está investindo forte na dermocosmética, ela faz parte da estratégia das grandes redes de farmácias para se desenvolver. Aqui em Porto Alegre temos um exemplo, a rede Panvel, que sempre foi precursora no mercado para dar atenção à dermocosmética dentro de suas lojas. O quarto ponto, e que eu acho mais importante, é que produtos de dermocosmética são muito ativos, concentrados e comprovados clinicamente. A consumidora vê os resultados e isso faz com que os itens tenham sucesso. E a Divisão de Cosmética Ativa aproveita esse cenário positivo.
Empresas & Negócios - Existem cálculos da movimentação que esse segmento gera no Brasil?
Mottard - No Brasil, o mercado dermocosmético representa R$ 1 bilhão anual, com crescimento de 15% por ano. É um mercado importante. O País está entre os top da dermocosmética mundial.
Empresas & Negócios - Esse tipo de produto está muito ligado à venda direta no mercado brasileiro. Como a L’Óreal trabalha com isso?
Mottard - É verdade que o porta a porta está muito desenvolvido na América Latina e especialmente no Brasil. Não temos marcas de porta a porta, focamos nos investimentos para desenvolver produtos específicos para as peles brasileiras, estimular o conselho através do dermatologista e do canal farmácia. Acreditamos muito que nossas fórmulas, nosso ativos, frutos da investigação da L’Óreal, estão muito bem valorizados e compreendidos pelos dermatologistas e pelos químicos farmacêuticos das farmácias.
Empresas & Negócios - Qual a representatividade do segmento para o grupo?
Mottard - Estamos focando no cuidado da pele e do couro cabeludo. E aqui os perfumes, xampus e condicionadores são muito desenvolvidos. O mercado hair care brasileiro é o primeiro mercado mundial para o segmento, sendo que a dermocosmética representa 3% do mercado total e para L’Óreal significativamente mais, uma margem de 10% a 15%.
Empresas & Negócios - É possível dizer que no Brasil o segmento está consolidado?
Mottard - Ainda não. Falta o que já está acontecendo, quer dizer, o desenvolvimento de uma classe média que tenha acesso a produtos mais valorizados. Um produto nosso de cuidado da pele, por exemplo, em média custa de R$ 60,00 a R$ 180,00, está ainda um pouco seletivo, mas o desenvolvimento da classe média vai fazer com que esse mercado se democratize mais. A abertura de farmácias, porque ainda temos regiões que estão menos desenvolvidas nesse sentido. E também o crescimento no número de dermatologistas. A cada ano 400 profissionais a mais focados a maioria em questões estéticas. O futuro está muito lindo para a dermocosmética no Brasil.
Empresas & Negócios - As farmácias devem ser as principais parcerias que vão ser naturalmente formadas?
Mottard - Absolutamente. A recomendação primeira (para o uso desse tipo de cosmético) vem do dermatologista, que é o expert da pele, mas dentro da farmácia a paciente, a consumidora que for a esse profissional precisa ter um acompanhamento e um serviço de atendimento que desenvolva o mercado e a compra desses produtos complementares.
Empresas & Negócios - Panvel e L’Óreal fecharam parceria para a distribuição?
Mottard - A Panvel é um parceiro histórico da cosmética ativa. Nos lançamento da Vichy, a rede esteve sempre muito envolvida, com uma história comum muito bonita, que estamos continuando para crescer em um mercado mais competitivo que no passado.
Empresas & Negócios - Existem perspectivas de expansão para a dermocosmética da companhia no Brasil?
Mottard - A nossa ambição é duplicar a cifra nos três próximos anos. Isso vamos conseguir através de muitas coisas. Primeiro desenvolver, cada dia mais, produtos específicos para a pele brasileira. Segundo, reforçar as parcerias, e em terceiro lugar lançar novas marcas dentro dessa divisão, que serão complementares às atuais.
Empresas & Negócios - E o Estado nesse panorama?
Mottard - A região Sul é muito favorável para nós, porque temos um grande número de farmácias Panvel que tem uma distribuição ampla. Então, o paciente e o consumidor encontram facilmente o produto prescrito. A gaúcha acredita muito no nosso expertise e solução de beleza. Temos dentro dessa região participação de mercado superior à metade do que é consumido no País. É um local estratégico para nós. Pode ser também que o clima daqui esteja ainda mais adaptado porque tem estações definidas, inverno e verão, então nossas marcas que têm inspiração europeia têm aceitação para esse tipo de região.
Veículo: Jornal do Comércio - RS