Negócio da Pfizer ilustra influência chinesa em fusões

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A venda de um ativo de US$ 50 milhões não deveria significar muito para uma fusão mundial de US$ 68 bilhões. Mas, no caso da venda de alguns negócios chineses da americana Pfizer Inc., ela ressalta a influência crescente do governo chinês sobre as fusões e aquisições de empresas dos países ricos.

 

A Pfizer vendeu semana passada sua filial chinesa de vacinas para suínos a uma subsidiária da Harbin Pharmaceutical Group Co., sediada no nordeste da China.

 

A transação foi realizada para cumprir um julgamento da comissão de defesa da concorrência do Ministério do Comércio chinês sobre a fusão entre a Pfizer e a Wyeth no ano passado. Ela oferece mais um vislumbre de como Pequim pretende usar sua lei antimonopólio, de 2008, para influenciar planos de fusões transnacionais, criando um novo obstáculo para esses negócios.

 

O governo chinês está interferindo em fusões do mesmo jeito que o dos Estados Unidos e a União Europeia, que também obrigaram a Pfizer a vender certas operações de medicina veterinária para liberar a fusão.

 

Desde que as novas regras chinesas entraram em vigor, quase dois anos atrás, a China estabeleceu condições em pelo menos cinco outras grandes transações e chegou a bloquear uma delas: a oferta de US$ 2,4 bilhões da Coca-Cola Co. para comprar um fabricante chinês de sucos.

 

Um advogado ocidental que trabalha há anos na China disse que o país está se tornando o "terceiro pólo do universo das autoridades antitruste", mesmo em negócios em que o mercado chinês é insignificante. O Ministério do Comércio é habitualmente chamado de "MofCom" nessas situações, numa referência às iniciais de seu nome em inglês.

 

O MofCom determinou que a fusão entre as duas farmacêuticas americanas deixaria a nova empresa com quase a metade do mercado chinês de certos tipos de vacinas suínas, um nicho lucrativo num país em que o rebanho total chega a 500 milhões de animais.

 

A fusão da Pfizer é considerada a primeira em que a China obriga uma empresa a vender um negócio local.

 

O ministério não retornou pedidos para que comentasse. Uma porta-voz da Pfizer disse que a venda integrou o processo de aprovação das autoridades antitruste, mas não quis dar maiores detalhes.

 

Banqueiros de investimentos dizem que a Harbin Pharmaceuticals fez a melhor oferta pelos negócios da Pfizer, que também atraíram o interesse da Novartis AG e da Eli Lilly & Co. Nem a Novartis nem a Eli Lilly quiseram comentar.

 

Mas os parâmetros estabelecidos pelo Ministério do Comércio também podem ter aumentado as chances de existir um comprador chinês, disse uma pessoa envolvida na transação.

 

"Surgirão futuramente muito mais casos do tipo", disse Euan Rellie, diretor-gerente sênior do Business Development Asia LLC, o banco nova-iorquino de investimentos que representou a Pfizer.


"As autoridades chinesas usarão os novos controles de regulamentação antitruste para proteger empresas emergentes locais do que a China enxerga como multinacionais dominadoras", disse ele.

 

O acordo é pequeno e se refere à venda da tecnologia de produção e distribuição na China de vacinas de marca para combater a pneumonia micoplásmica suína.

 

O surto recente do vírus H1N1 em humanos, descrito inicialmente como "gripe suína", é um tipo "A" do vírus influenza, mas difere da doença encontrada nos suínos, segundo os Centros de Prevenção e Controle de Doenças dos EUA, mais conhecidos pela sigla em inglês CDC.

 

A Harbin Pharmaceuticals receberá acesso durante três anos a uma instalação da Pfizer no Estado americano de Nebraska que produz e comercializa a vacina, e onde seus funcionários receberão treinamento, disse uma pessoa a par da transação. A tecnologia pode servir como uma plataforma de lançamento para a Harbin produzir outros tipos de medicamentos veterinários.

 

Veículo: Valor Econômico


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