Consumo está mais sofisticado no país

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Brasileiro ampliou a sua lista de compras e agora se permite experimentar novidades e produtos mais caros - Segundo pesquisa, bebidas de soja e salgadinhos ganharam espaço nos carrinhos dos supermercados

 

Com o forte aumento da renda e do crédito no país no início deste ano, o brasileiro encheu mais o seu carrinho de compras.

 

Não apenas adquiriu uma quantidade maior de itens mas também diversificou e sofisticou a sua lista. E o fenômeno aconteceu em todos os estratos sociais, segundo uma pesquisa realizada pela Kantar Worldpanel divulgada ontem.

 

Alimentos e bebidas foram os grupos cujo consumo mais cresceu no primeiro trimestre de 2010 ante o mesmo período de 2009. Em número de unidades, as altas foram de 20% e 10%, respectivamente. Em valor, as elevações foram de 15% e 16%.

 

Em penetração (presença nas compras das famílias no período de um ano), destacaram-se o sorvete, os salgadinhos, o iogurte, as bebidas à base de soja e as massas instantâneas.

 

Perderam importância na lista o café solúvel, a manteiga, o sabão em pedra, a esponja de aço e a polpa e o purê de tomate.
"Os dados mostram que o consumidor está se permitindo ter acesso a novas categorias de mercadorias, de maior valor agregado. Sobra mais dinheiro para comprar itens que não são só os básicos", afirma Christine Pereira, diretora comercial da Kantar Worldpanel.

 

Na opinião da especialista, o brasileiro está se tornando mais "experimentador" e menos buscador de preços e promoções.

 

NOVOS MERCADOS

 

Se, antes, com o orçamento curto, o consumidor batia perna para comprar barato, agora entende que há vantagens em pagar um pouco mais por um item diferenciado. "Aumentou a consciência sobre o dinheiro", resume Pereira.
Para as indústrias, nessa tendência existe uma grande oportunidade. Mas as empresas precisam conhecer profundamente o seu público e as preferências de cada faixa, a fim de aproveitar a maré.

 

De acordo com Pereira, na hora de adquirir uma mercadoria, são três os principais critérios levados em consideração pelo consumidor: a conveniência, a praticidade e quanto tal item é saudável.

 

ABISMO

 

No caso dos alimentos, isso significa que os que têm preparo mais fácil e não são cheios de conservantes e corantes levam vantagem, por exemplo. Na categoria de produtos de limpeza, ganham os mais eficientes.
"É importante notar que ainda existe um buraco entre o que é consumido pelas classes A e B e o que as classes C, D e E compram", afirma Pereira.

 

Enquanto os mais ricos estão levando para casa mais requeijão, temperos, sucos prontos e ketchup, que antes entravam no carrinho de forma mais esporádica, os demais brasileiros só agora estão conhecendo o leite fermentado.
"E essa classe média ascendente quer ter acesso aos mesmos itens preferidos por quem está no topo da pirâmide", afirma Pereira.

 

Melhora na distribuição de renda vai ditar o ritmo de avanço do consumo


 
A crise internacional em 2008 e 2009 que solapou as bases das principais economias do mundo abalou também o Brasil, porém de modo muito pouco significativo. A razão para essa situação absolutamente inédita é que o país mudou.

 

A implementação das políticas anticíclicas para suavização dos efeitos depressivos vindos dos mercados externos, a partir de setembro de 2008, só foi possível em razão desse ambiente.

 

Para compreender, entretanto, a evolução do consumo e tentar delinear suas possibilidades é preciso retroceder a 1994, data da edição do Plano Real.

 

O Real estabeleceu as precondições para o crescimento posterior do consumo. Sem a estabilidade da moeda, não teria sido possível avançar.

 

Na verdade, de 1998 a 2003, o Brasil cresceu pouco em comparação a outros países emergentes: entre zero e 2,6%. Somente após 2003 é que a economia passa a registrar crescimento vigoroso.

 

Boa parte dessa expansão foi catapultada pelo aumento da disponibilidade de crédito. Entre 2003 e 2009, o volume de crédito em termos nominais cresceu a taxas anuais entre 9% e 11%.

 

Esse ritmo foi sustentado fundamentalmente por uma dilatação dos prazos médios de pagamento. Nesse período, a taxa de juros declinou e a renda real cresceu.
O avanço do consumo nos últimos anos é, portanto, muito compreensível. Entretanto, qual a importância relativa de cada um deles? Esse aspecto é essencial para que se possa vislumbrar a evolução futura do consumo.

 

Um trabalho recente realizado com dados estatísticos procurou medir a sensibilidade do consumo às alterações da renda e do volume de crédito. Verificou-se que um aumento de 1% no volume de crédito induz ao aumento do consumo da ordem de 0,1%.
O mesmo aumento de 1% na renda propicia elevação do consumo da ordem de 0,75% (Felisoni Consultores). Esse fato explica por que o crédito ainda é muito caro.

 

A renda, portanto, é absolutamente essencial para sustentar o consumo. Porém não apenas a renda mas também sua distribuição. Melhoras da distribuição de renda e aumentos da renda real dependem também dos investimentos e do ritmo de evolução dos preços.

 

O que se pode esperar no futuro próximo? O Brasil apresenta condições favoráveis para expansão do consumo. Evidentemente, considerando a ainda baixa renda per capita e a elevada concentração, é de esperar que o consumo cresça vigorosamente nos próximos anos.

 

O atendimento dessa demanda de consumo se dará em um ambiente muito competitivo, com a presença marcante de novas formas e formatos de comercialização.
Uma superposição de atividades será a marca desse ambiente. O consumidor é o alvo. Esse alvo será perseguido com menos especialização e mais tenacidade.

 


Veículo: Folha de S.Paulo


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