Aqui, gigantes não entram

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Aproveitando a expansão da renda dos brasileiros, redes de porte pequeno e médio resistem à presença dos grandes concorrentes e conseguem crescer em Minas Gerais

 

 
Enquanto os hipermercados e grupos multinacionais não entram nas cidades de menor porte, especialmente naquelas com menos de 200 mil habitantes, o varejo local ganha cada vez mais espaço, abocanhando o mercado do interior. Embarcando no crescimento da renda do brasileiro, as redes regionais lideram uma revolução para se consolidar em um “super mercado”, espalhado, em Minas, por mais de 800 municípios. Em 2010, 40 lojas serão abertas no estado, com a contratação de 7 mil funcionários e investimentos de R$ 200 milhões, sendo que 90% destes novos negócios estão no interior. Dados da Associação Mineira de Supermercados (Amis) apontam que as redes varejistas, localizadas além da Região Metropolitana de Belo Horizonte, vão movimentar este ano R$ 9,1 bilhões, o que representa 70% dos R$13 bilhões estimados para todo o setor.

 

Com redes que se tornaram fortes a partir da união de diversos pequenos e médios associados, organizados em centrais de negócios e compras, o interior oferece lojas com boa estrutura e sortimento de produtos, inclusive de alimentos importados. Com faturamento e custos distantes das multinacionais, as redes regionais dominam o mercado local, usando a seu favor a expertise de conhecer de perto as preferências e o gosto do cliente, que exibe hábitos diferentes do consumidor dos grandes centros.

 

Para entrar no mercado e se firmar no interior, é preciso uma estratégia bem consolidada de vendas, com grande força dos produtos regionais. Desvendar este caminho, diferentemente de ser um para casa simples, pode se tornar uma pedra no caminho de quem enfrenta a primeira experiência em um novo mercado. "Para ter uma loja no interior, é preciso respeitar a cultura local e levar em conta que em cada região o consumidor tem um tipo de comportamento", garante o sóciofundador do Supermercado Epa, José Nogueira. A rede, com grande presença em Belo Horizonte, comprou há cinco anos sete lojas em Sete Lagoas, cidade com pouco mais de 200 mil habitantes, na Região Central do estado. Algum tempo depois, a rede revendeu as lojas para os antigos donos, devido às dificuldades impostas pelo mercado do interior.

 

Redes hipermercadistas ainda observam de longe o crescimento do poder de consumo destes mercados de pequeno porte. As restritas experiências de grupos internacionais estão concentradas em cidades polo, como Juiz de Fora,na Zona da Mata, Uberlândia e Uberaba, no Triângulo. Por outro lado, enquanto os grandes não chegam, os pequenos se expandem. Das 55 centrais de negócios presentes em Minas, 53 estão no interior de Minas.

 

O superintendente da Amis, Adilson Rodrigues, acredita que a concorrência no interior deve se acirrar nos próximos anos. Ele cita o percentual de investimentos como um termômetro de que o mercado fora da capital anda mais promissor. "Dos R$ 200 milhões em investimentos, cerca de R$ 180 milhões estão concentrados fora da capital, no interior." Para ele, grandes grupos já estão observando com interesse estes pequenos mercados e não devem demorar a desenvolver estratégias para engrossar a concorrência.

 

Mas para entrar no interior não basta ser grande, é preciso investir no conhecimento. "O fato de você ter um supermercado no interior não quer dizer que está pronto para ter um supermercado na capital. E vice-versa", garante o presidente da rede Bretas, Estevam Duarte de Assis. Uma força no interior, com 59 lojas, o hipermercado Bretas deve inaugurar 12 lojas em 2010. Para Assis, um dos principais desafios do seu negócio é conseguir se manter como grande empresa, mas continuar funcionando como uma empresa pequena a ponto de, em algumas regiões, comprar de um fornecedor que vende para um só cliente. "Um bom exemplo ocorre com o café. Em cada lugar tem um café que é líder. No Bretas são mais de 200 fornecedores locais, o que representa 25% do total", garante.

 

Há 28 anos atuando no interior do estado, a rede ABC, com faturamento de R$ 450 milhões/ano, começou no Centro-oeste, mas já está presente em 10 municípios, também na região Sul e Alto Paranaíba. O ABC conta com 21 lojas e tem previstas mais duas inaugurações este ano, informa Thulio Fernandes Martins. A empresa quer cravar o crescimento de 15%, mais do dobro da média do estado, estimada em 6%. “Tanto o atendimento quanto os produtos ofertados nas pequenas cidades são diferenciados”, aponta Martins. Para não correr o risco de perder o foco deste mercado específico, o ABC tem só no Centro-Oeste 250 fornecedores regionais e mantém uma parceria com agricultores, em que a própria rede fornece treinamento, formando os produtores/fornecedores dentro dos padrões de qualidade do negócio. Em parceria com órgãos como Emater e Banco do Brasil, o supermercado promove eventos educativos regionais com seus fornecedores, corpo a corpo que vale como uma espécie de receita para o sucesso.
 

 

Veículo: O Estado de Minas


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