O publicitário Paulo Salles teve que providenciar novo passaporte mês passado. O anterior já está totalmente preenchido, dois meses antes de completar o vencimento. Como principal executivo e presidente do conselho do grupo Publicis, o quarto maior conglomerado de comunicação do mundo, Salles passou 70% dos seus dias úteis nos últimos anos fora do Brasil. "Dormia duas noites por semana no avião", conta ele, sem saudade.
A partir de hoje, Salles vai ficar mais tempo não só em terra firme, como em chão brasileiro: deixa o comando executivo da Publicis, onde continua como "chairman" e vai se dedicar à Aggrego, consultoria do ex-ministro Alcides Tápias, e à Interamericana, outra consultoria, essa fundada pelo pai, o também publicitário Mauro Salles.
"É um plano de sucessão que já estava sendo delineado há mais de um ano", diz ele, que será substituído por dois na presidência executiva. Alejandro Cardoso, na Publicis desde 2003, vai acumular a presidência da empresa no México com a de toda a região latino-americana, exceto o Brasil. Por aqui, quem fica com o comando é Orlando Marques, ex-presidente da Brasil Mídia, que chegou ao grupo no início de 2007. No Brasil, Marques ficará responsável pelas agências Publicis, Dialog e Salles Chemistry. Outras agências em que o grupo tem controle ou participação - Saatchi & Saatchi, Leo Burnett, F/Nazca e Neogama, além da Andreolli MS&L - permanecem independentes.
Salles negociou em 2002 a venda da antiga BCom3, um grupo de comunicação do qual era presidente, para a Publicis. Agora, além de se manter como presidente do conselho da Publicis para a América Latina, ele mantém consigo o atendimento a dois dos maiores clientes do grupo francês no mundo - a GM e a Telefônica. "São clientes com quem tenho um relacionamento de longa data que não pode ser rompido de uma hora para outra", afirma. Nesta semana, ele viajou à Espanha para discutir, na sede da Telefônica, o planejamento estratégico para 2010. Na GM, Salles ajudou a implementar novidades na operação brasileira, como a venda online do Celta.
Os planos do publicitário voltam-se nesse momento à busca de oportunidades para o Brasil na economia mundial. A turbulência atual não o assusta: "Ninguém sabe aonde essa crise vai dar, pode ser que diminua a oferta de produtos financeiros, e que o varejo se torne mais agressivo para desovar os estoques", afirma. "Seja como for, uma coisa é certa: será preciso redefinir conceitos, formatos, produtos e nisso a Aggrego e a Interamericana podem ajudar", ele.
Enquanto a Aggrego se dedica principalmente a operações de fusão, aquisição e reestruturação financeira, a Interamericana foca nas estratégias de negócio. Ambas funcionam no mesmo endereço, na Avenida Paulista, e já atenderam vários clientes em comum, como Odebrecht, Brasken e Brasil Telecom. A lista pode aumentar, inclusive com clientes da Publicis.
"A América Latina já vinha crescendo mais do que Europa e Estados Unidos antes da crise e isso não deve mudar", diz. No primeiro semestre, enquanto a expansão orgânica do Publicis no mundo foi de 5,4%, o da América Latina saltou 6,9%. Em 2007 o grupo faturou US$ 6,38 bilhões.
Veículo: Valor Econômico