Brasileiros da InBev compram Burger King

Leia em 5min 40s

Negócio de US$ 4 bi envolve principais acionistas da InBev e Lojas Americanas; desempenho recente é pior que o do McDonald's

 

Brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira são maiores investidores do fundo americano 3G

 

A rede de fast-food Burger King, a segunda maior dos EUA, anunciou ontem acordo de US$ 4 bilhões (R$ 7 bilhões) que deve transferir o controle da marca ao fundo 3G Capital, cujos principais investidores são brasileiros.

 

Segundo o contrato, a 3G pagará US$ 24 (R$ 42) por ação da rede, uma valorização de 46% em relação a seu preço antes de o acordo ser divulgado. Ontem, as ações do Burger King tiveram o maior ganho desde maio de 2006, com alta de 25%.

 

O valor total da compra inclui as dívidas da cadeia, que foi vendida diversas vezes nos últimos anos e vem tendo um desempenho pior do que o do seu principal rival, o McDonald's, desde o início da crise econômica nos EUA.

 

Em comunicado divulgado ontem, Burger King e 3G Capital afirmam que "a transação deve ser fechada no último trimestre deste ano".
O fundo multibilionário é sediado em Nova York, mas, entre seus principais investidores, estão os brasileiros Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, também acionistas da Anheuser-Busch InBev e das Lojas Americanas.

 

BRASILEIROS

 

Após a transição, o brasileiro Alex Behring, da 3G, dividirá a presidência do conselho da companhia com o atual presidente do Burger King, John Chidsey.
Behring, em comunicado, afirmou que a 3G "tem grande respeito pela marca Burger King e pelo negócio que administradores, empregados e franquias construíram". Outro brasileiro, Bernardo Hee, também deve ser nomeado.
"A marca icônica, sua sólida rede de franqueados e suas ótimas ofertas de produtos se ajustam perfeitamente à 3G Capital, que tem um forte histórico de investimentos de longo prazo em marcas globais e companhias de varejo", escreveu o brasileiro.

 

O "New York Times" noticiou o acordo como "marca da contínua ascendência do Brasil como um grande jogador".
Segundo o jornal, a 3G vê o Burger King como uma ""oportunidade de virada" que aproveitará a experiência operacional adquirida em seus investimentos prévios.
Dentre os planos para a rede, está o crescimento internacional da marca, que possui 93 restaurantes no Brasil e pretende abrir 500 franquias na América Latina nos próximos cinco anos.

 

Hoje, o Burger King possui mais de 12 mil restaurantes no mundo e está presente em mais de 75 países.

 

Negócio aponta novo protagonista global

 

Expansão da economia brasileira cria classe de prósperos empreendedores sem medo de investir fora do país

 

Muitos dos novos ricos brasileiros são pessoas de origem mais rústica, seguindo um modelo familiar aos americanos

 

A oferta de aquisição do Burger King apresentada ontem por um grupo de investimento de capital brasileiro, assim como a aquisição da Anheuser-Busch (há dois anos e envolvendo alguns dos mesmos investidores), é uma dessas transações emblemáticas que parecem simbolizar o surgimento de um novo protagonista nos negócios mundiais.

 

Mas isso era previsível já há um bom tempo. O crescimento da economia brasileira nos últimos anos criou toda uma classe de prósperos empreendedores em busca de oportunidades de investir suas fortunas e que não se deixam assustar pela ideia de tentar a sorte além das fronteiras brasileiras.

 

Tradicionalmente, os negócios brasileiros sempre foram dominados por uma elite muitas vezes cautelosa, radicada em São Paulo, o polo industrial e financeiro do país. Mas a disparada econômica dos dez últimos anos mudou o quadro.

 

Segundo o Boston Consulting Group, entre 2006 e 2008 o número de milionários brasileiros subiu em quase 70%, de 130 mil para 220 mil. É um dado estatístico notável.

 

Com cerca de um sexto da população da Índia, outro membro dos Brics, o Brasil abriga mais milionários que o país asiático. E o clube dos bilionários, ainda mais exclusivo, também vem crescendo em ritmo sem precedentes no Brasil.
Jorge Paulo Lehman, figura importante na aquisição da Anheuser-Bush e na oferta pelo Burger King, é um executivo de investimento bem preparado, educado em Harvard, filho de imigrantes suíços. Mas muitos dos novos ricos brasileiros são pessoas de origens mais rústicas e enriqueceram depois de começar a vida humildemente, seguindo um modelo bastante familiar aos americanos.

 

A companhia de aviação TAM, que em agosto anunciou fusão com a LAN Chile e se tornará a maior empresa do setor na América Latina, foi criada nos anos 70 como uma modesta empresa de carga aérea.

 

A força propulsora no caso da TAM foi Rolim Amaro, um antigo piloto de origem humilde e que comandou a empresa de maneira ousada e astuta até morrer em acidente de helicóptero em 2001.

 

FRIBOI

 

Mas talvez o mais intrigante e dinâmico dos novos empresários brasileiros seja Joesley Batista, que começou a trabalhar ainda menino no açougue do pai, em Goiás, e hoje comanda a JBS-Friboi, a maior empresa global de processamento de carne.
Quando o Brasil passou por uma crise cambial, em 1998 e no começo de 1999, Batista e seus irmãos entenderam o momento não como ameaça, e sim como oportunidade de ganhar o mercado de exportações, e obtiveram empréstimos no BNDES para colocar a ideia em prática.

 

Capital adicional foi levantado por uma oferta pública inicial de ações e, em 2007, a JBS-Friboi tomou o controle da Swift, outra marca americana conhecida. Em 2009, acrescentaram a Pilgrim's Pride à sua lista, e isso ajudou sua empresa a superar a Tyson Foods e chegar à liderança no mercado mundial de processamento de carne.

 

Além disso, o hoje bilionário Joesley Batista afirmou que superar a Tyson Foods era apenas "o primeiro passo" de uma estratégia mais ampla que envolve fazer da JBS-Friboi uma potência também no ramo de leite e laticínios. Com isso, como prever o que pode acontecer?

 

Uma coisa fica clara, no entanto: o domínio brasileiro sobre todas as etapas do setor mundial de carne. O país já é o maior exportador mundial de carne bovina e agora, com a oferta pelo Burger King, disporá de mais um veículo para encorajar o consumo em todo o mundo.
Isso é que é sinergia.

 


Veículo: Folha de S.Paulo


Veja também

Oferta de café permanece em queda, diz a OIC

O mercado de café continua passando por um aperto na oferta, redução de estoques e elevaç&at...

Veja mais
Farmácia cheia

A partir deste mês, a capacidade da farmacêutica EMS atingirá 480 milhões de unidades por ano,...

Veja mais
Pernambuco e Rio são destaque da indústria têxtil em julho

As indústrias têxteis de Pernambuco e do Rio de Janeiro foram as que tiveram o melhor desempenho do setor e...

Veja mais
Cartões comemorativos sobrevivem à internet

Rubens Passos, presidente da Tilibra, dona de 35% do mercado brasileiro de artigos de papelaria, que movimenta R$ 1,5 bi...

Veja mais
Fundo de investidores brasileiros compra Burger King por US$ 4 bi

O 3G Capital Management, comandado por Jorge Paulo Lemann, Carlos Alberto Sicupira e Marcel Telles, assume o controle da...

Veja mais
Unipac lança frascos de menor volume

Produtos, com 250 ml e 500 ml, foram criados para utilização em uma gama maior de aplicações...

Veja mais
L´acqua di Fiori: expansão dos pedidos

Na L’acqua di Fiori, indústria mineira de perfumes e cosméticos, as encomendas do varejo para Natal ...

Veja mais
Marfrig compra fábrica argentina de congelados da Arcor

A Marfrig, por meio da subsidiária argentina Quickfood, reforçará sua atuação na &aac...

Veja mais
Mais de dez varejistas disputam operações do Carrefour na Ásia

A primeira rodada do leilão das operações do Carrefour no sudeste asiático atraiu mais de de...

Veja mais