Presidente da Abras, Sussumu Honda, atribui alta de 6,8% no volume no ano ao aumento do consumo das classes C, D e E
O aumento da renda dos consumidores proporcionou ao setor supermercadista registrar entre janeiro e agosto de 2010 o maior crescimento na quantidade de produtos vendidos desde 2005, quando a Associação Brasileira de Supermercados (Abras), em parceria com a Nielsen, passou a monitorar o volume comercializado nos autosserviços. Ao contrário do que aconteceu em 2005, quando o volume avançou 5%, mas o faturamento dos supermercados recuou 0,66%, nos oito primeiros meses deste ano tanto o faturamento quanto a quantidade vendida cresceram, com altas, respectivamente, de 4,7% e 6,8%.
"Nunca se comprou tanto nos supermercados", resumiu o presidente da Abras, Sussumu Honda. Segundo ele, isso é explicado pelo incremento do consumo das classe C, D e E, que procuram nas prateleiras dos supermercados, principalmente, produtos mais baratos e de segunda linha. "Os consumidores não estão comprando as marcas de refrigerante líderes, mas sim as regionais, com preços mais baixos", exemplificou. As bebidas foram justamente a categoria de produtos mais vendida neste ano, com as alcoólicas registrando avanço de 16,3% e as não alcoólicas 11,1%.
A procura por estes produtos mais baratos, aliada ao recuo dos preços nos supermercados, por outro lado, vem desacelerando a receita dos supermercados, segundo Honda. "Com preços mais acessíveis, o consumidor passou a comprar mais, mas o faturamento não vem acompanhando este ritmo." Após encerrar os três primeiros meses deste ano com uma alta de 8,6%, o faturamento do setor desacelerou, encerrando o período de janeiro a agosto com um incremento de 4,7%. Parte desta retração no ritmo de crescimento das vendas é explicada pelo recuo acumulado de 3,1%, entre maio e agosto, no valor da cesta de 35 produtos mais consumidos nos supermercados, medido pela GfK.
A Abras projeta que o volume comercializado nos supermercados encerre o ano com um avanço na faixa de 6% a 6,5% sobre 2009. Já a estimativa para o faturamento dos autosserviços é que se acelere a partir de outubro, com a perspectiva de aumento nos preços de produtos que têm grande representatividade na cesta do consumidor, como carnes e feijão. Mesmo prevendo um aumento nos preços até o final do ano, Honda pondera que a maior participação de produtos importados, beneficiados pela valorização do real, deve compensar parte desta pressão.
Outro fator que vem contribuindo para a desaceleração do ritmo de faturamento nos supermercados é a maior concorrência com outras categorias de produtos, de maior valor agregado, puxados pela expansão do crédito. Entre eles, estão os móveis e eletrodomésticos, materiais de construção, informática e telefonia.
Segundo a Abras, as vendas reais, deflacionadas pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), cresceram 1,2% em agosto em comparação ao mesmo mês do ano passado. Em relação a julho, as vendas do setor recuaram 1,4%. O valor da cesta de 35 produtos considerados de largo consumo, como alimentos, limpeza e beleza, teve queda de 1,27% nos preços em agosto ante julho, para R$ 270,94.
Sustentabilidade é preocupação do "metaconsumidor"
O mundo do marketing criou um novo verbete para explicar o consumidor moderno: o metaconsumidor. Este representa uma evolução do neoconsumidor, ao agregar às preferências por utilizar novas mídias no momento de definir suas comprar e estar aberto a um relacionamento próximo com o varejo também preocupações com o meio ambiente e a responsabilidade social.
Ontem, na reunião-almoço Tá na Mesa, da Federasul, o diretor-geral da consultoria Gouvêa de Souza GS & MD, Marcos Gouvêa de Souza, mostrou um estudo comparando o metaconsumidor brasileiro com os de 16 países. Segundo Gouvêa, eles pensam de forma seme-lhante quanto à parcela de responsabilidade de governos, empresas e de si próprios perante temas como reciclagem e preservação ambiental, mas o brasileiro acredita na sua própria responsabilidade em relação à sustentabilidade.
"A empresa que não apresentar alinhamento com estas definições será gradativamente discriminada pelo consumidor", comentou. Para Souza, as ações das companhias precisam se comunicar com seu público-alvo levando em conta a visão deste pelos temas da sustentabilidade, de forma a compreender e atender seus anseios.
O surgimento do metaconsu-midor no Brasil também está ligado ao bom momento econômico. O varejo do País é o quarto que mais cresceu no primeiro semestre, com alta de 11% em relação ao mesmo período do ano passado.
Este movimento gerou um novo período na economia brasileira e na oferta de produtos. Entre os fenômenos perceptíveis estão a chegada de novos players e o fortalecimento das marcas próprias, com os quais os varejistas tentam assegurar mercado utilizando preços mais baixos.
Veículo: Jornal do Comércio - RS