Andorinha expande área, na contramão dos hipermercados

Leia em 6min 10s

Varejo: Com clima de supermercado de bairro, varejista deve faturar quase 30% mais este ano

 

Enquanto os hipermercados vêm perdendo faturamento e diminuindo a área de vendas para recuperar rentabilidade, um supermercado a quase 20 quilômetros do centro de São Paulo vive uma realidade diferente. No bairro do Horto Florestal, na zona norte da capital, o Andorinha está em reforma: todas as lojas de apoio que ficavam na frente dos caixas foram retiradas, abrindo espaço para aumentar a área de vendas de 5,5 mil m2 para 6,6 mil.

 

Até o início de 2011, o número de caixas do Andorinha vai pular de 84 para 107 - um hipermercado padrão tem de 3 mil a 4 mil m2 e de 30 a 50 caixas. E o faturamento, que no ano passado foi de R$ 234, 9 milhões, deve chegar a R$ 300 milhões até dezembro, quase 30% mais. Qual é o segredo?

 

"O Andorinha é um hipermercado que não perdeu o jeitão de vendinha de bairro", diz Amauri Gouveia, diretor operacional da empresa, fundada por seu pai em 1974. Na época, o armazém funcionava em 232 m2 com três caixas, no mesmo endereço, entre a rua Vaud e a avenida Parada Pinto.

 

Hoje, o prédio tem mais de 110 mil m2 e inclui um shopping com 80 lojas (para onde os lojistas à frente dos caixas foram transferidos), com adega de vinhos, salão de beleza, correios, uma unidade do Magazine Luiza, entre outros. O shopping foi inaugurado no fim do ano passado, com investimentos de R$ 20 milhões. Na garagem, com 1.480 mil vagas, o Andorinha construiu um túnel por baixo da rua ligando os dois prédios.

 

Por sugestão dos clientes, os irmãos Gouveia vendem clara de ovo engarrafada e fazem baile no estacionamento

 

Apesar da presença de outros três supermercados grandes em um raio de 2,5 mil metros, todo dia cerca de 35 mil pessoas frequentam o Andorinha, administrado por Amauri Gouveia e seus dois irmãos Alécio e Adilson Gouveia.

 

Os três começaram a trabalhar na empresa aos 14 anos. Amauri, depois de começar como empacotador, foi ajudar no açougue. Sua experiência no setor de carnes começou a mudar o supermercado, no início dos anos 80. "Comecei a vender rabada fatiada. De cinco sacas de 20 quilos que vendíamos por semana, passamos para 50", recorda.

 

Foi a partir daí que os irmão passaram a tentar antecipar desejos e soluções que pudessem facilitar a vida do cliente. É por isso que a loja até hoje ainda tem empacotadores. Eles embalam os produtos gelados em sacolinhas de cor diferente das normais. "Os perecíveis vão nas sacolas amarelas e os itens normais na branca. Assim, a dona de casa que faz a compra apressada antes de ir para o trabalho, chega em casa e não precisa ficar procurando de saquinho em saquinho o que tem que colocar na geladeira", diz Gouveia.

 

Seguindo essa filosofia, o Andorinha é um dos poucos supermercados onde é possível, por exemplo, encontrar claras de ovos vendidas separadamente, embaladas em garrafas plásticas, depois de pasteurizadas. Na área de frios, o cliente não precisa ficar na fila do presunto fatiado na hora junto com seu carrinho: bem ao lado há uma espécie de estacionamento para eles. A antiga máquina de moer café na hora - aposentada em quase todos os supermercados - no Andorinha continua funcionando a todo vapor. Sugestões de clientes também passaram a ser bem-vindas. Uma delas foi vender filé de peito de frango moído. "É um dos sucessos da área de carnes", afirma Gouveia.

 

A participação dos clientes não para por aí. "Há algum tempo uma empresa de alimentos congelados deixou de nos fornecer um produto e os clientes começaram a reclamar. Quando expliquei que era a empresa que não estava mais querendo nos entregar o item, os cliente começaram a ligar no atendimento ao consumidor da companhia e não deu outra: no dia seguinte o fornecimento estava normalizado", lembra Gouveia.

 

Na tarde de 23 de setembro, enquanto caminhava com a reportagem do Valor pelos corredores do supermercado, Gouveia - uma figura sorridente e difícil de confundir, com sua medalha de São Jorge no pescoço e diversos "bottons" na camisa - foi parado várias vezes por consumidores que o cumprimentavam. "O Andorinha é o orgulho do bairro", disse a professora Maria Luiza Bastilha. "Nós conhecemos os donos, eles estão sempre aqui para resolver qualquer problema e aceitam nossas dicas", completou. No estacionamento, cerca de 30 velhinhos curtiam seu "Baile da Terceira Idade", promovido pelo próprio Andorinha. "No bairro tem muita gente de idade. Por isso os funcionários estão fazendo até um curso de primeiros socorros, caso aconteça alguma coisa", diz Gouveia.

 

Os 1080 funcionários do hipermercado, segundo o diretor, são treinados periodicamente. "Toda semana há algum curso". Por isso, um auditório de 118 lugares - com cozinha gourmet - está sendo construído para abrigar as aulas, que agora serão estendidas aos clientes. Estes terão cursos gratuitos a partir do fim de ano.

 

Loja é uma das mais rentáveis por m2

 

A proximidade com o cliente não é o único fator que levou o Andorinha a se tornar um dos supermercados de maior faturamento por metro quadradro entre os 50 maiores do Brasil, conforme o ranking da Associação Brasileira de Supermercados (Abras). Segundo a listagem, o Andorinha vendeu R$ 33,5 mil por metro quadrado no ano passado. O Carrefour ficou com R$ 17,9 mil e o Grupo Pão de Açúcar, com R$ 15 mil.

 

"Somos apenas uma loja, não somos uma rede como a maioria. Focamos todas nossas forças nessa unidade", diz Gouveia.

 

Além disso, o Andorinha nunca deixou de ter seu depósito próprio - prática abandonada na década de 90 pela maioria dos varejistas de alimentos. "O custo de manter um depósito é menor que o custo causado pela perda de venda provocada pela ruptura no fornecimento", diz João Galassi, novo presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas).

 

No mesmo prédio em que funciona o supermercado e o shopping, o Andorinha tem seu depósito com espaço para cerca de 5 mil "pallets", mais uma geladeira para outros 1 mil "pallets" de produtos perecíveis. "O que o cliente menos gosta é vir na loja e não encontrar o produto que ele quer", diz Amauri Gouveia, diretor operacional.

 

A variedade de produtos, segundo ele, é um dos pontos fortes da loja, que tem hoje cerca de 20 mil itens diferentes (sem contar suas variações de sabor ou aroma). Um supermercado do mesmo porte tem em média de 17 mil a 18 mil itens. "Temos, por exemplo, do palmito mais barato, de R$ 3 a R$ 4 , até a marca mais cara, de R$ 16", diz Gouveia. "Nosso público é variado. Vem gente aqui de muitos bairros. Temos quer ter mix para o consumidor mais pobre e também para o mais 'elitizado'", diz o diretor. (L.C.)

 


Veículo: Valor Econômico
 


Veja também

Kraft Foods amplia capacidade em todas as suas fábricas no País

A gigante global de alimentos Kraft Foods precisa ampliar sua produção no Brasil. Segundo o diretor de Pes...

Veja mais
Preço do feijão baterá recorde e superará R$ 300 por saca

As cotações do feijão carioca devem ultrapassar a casa dos R$ 300 até o fim do ano. De acord...

Veja mais
Makro reinaugura loja São Luís

A rede Makro, maior atacadista de autosserviço do País, acaba de reinaugurar a loja de São Lu&iacut...

Veja mais
L'Occitane planeja estar em 500 farmácias em três anos

Venda começa na rede Panvel, no Sul, e agora chega à DrogaRaia em SP  Nesta semana, na sede brasilei...

Veja mais
Desodorante

A Unilever investe R$ 5,5 milhões para reforçar a presença de sua marca de desodorantes Axe no segm...

Veja mais
Padarias falham ao informar preços

Quase metade das padarias paulistanas fiscalizadas pelo Procon-SP na semana passada apresentam irregularidades. Esse &ea...

Veja mais
Produção de coco é crescente no Estado

A evolução de preço do coco-da-baía em Minas Gerais deve possibilitar safras crescentes do p...

Veja mais
Indústrias preparadas para atender a demanda

As indústrias de alimentos do interior do Estado já estão se preparando para atender ao aumento da ...

Veja mais
Alcalinas

Depois do Nordeste e do Estado de São Paulo, as pilhas alcalinas Red Force chegam ao Sul. A empresa, com sede em ...

Veja mais