Alimentos: Com aumento da renda, consumidor busca versões mais sofisticadas de itens básicos
O caldo de carne em tablete foi inventado há quase 100 anos, em 1912, pelo alemão Carl Heinrich Knorr. No Brasil, o produto está no mercado desde 1961. Desde então, pouca novidade aconteceu nesse setor. Nos anos 80, foi lançado o caldo granulado. Nos anos 90, o em pó. De lá para cá, houve no máximo um lançamento de sabor novo aqui, uma redução de sódio ali - e nada mais. Neste ano, entretanto, o cenário mudou. A Unilever, dona da marca Knorr, saiu em junho com o Potinho de Caldo Knorr - a versão em gel do produto. Neste mês, veio a reação da Nestlé, dona da marca Maggi. A empresa está colocando agora nas prateleiras o Caldo Maggi Líquido. Mas por que os novos formatos estão vindo só agora - depois de quase duas décadas de poucas inovações? Os números do segmento explicam.
As vendas de caldos movimentaram R$ 547,6 milhões em 2009 (um aumento de 5% em relação a 2008), segundo a Nielsen. Este ano, até julho, elas somaram R$ 377,7 milhões (998 milhões de litros em volume), também com crescimento de 5%. É um avanço, mão não tão expressivo.
Os formatos alternativos (pó e granulado), entretanto, dispararam em vendas. Os caldos em pó tiveram alta de 12% nos sete primeiros meses do ano e os granulados, de 87% - em relação aos mesmos meses de 2009.
"Com mais dinheiro no bolso, há uma tendência de o consumidor buscar mais sofisticação em categorias mais básicas, já que o desembolso delas é bem menor", explica Luciana Sender, analista de mercado da Nielsen.
Daniela Lins Refinetti, diretora da divisão de culinária da Nestlé, concorda, mas acrescenta que há também uma mudança no comportamento do consumidor. "Há alguns anos, cozinhar era uma atividade das mães para alimentar a família. Agora, o ato de cozinhar está virando um momento de conexão muito mais importante que no passado. O namorado cozinha para a namorada, o solteiro para receber amigos em casa e assim vai", diz a executiva. Quando uma atividade cotidiana passa a ter uma aura de "hobby", segundo ela, é normal que haja uma certa sofisticação dos produtos envolvidos nessa prática.
Aproveitando essa onda, a Unilever investiu R$ 40 milhões no lançamento do produto em gel no Brasil. "Pela primeira vez um alimento industrializado de massa recebeu o endosso do mais renomado chef do país, o Alex Atala", diz Leandro Barreto, gerente de caldos e temperos da Unilever. O produto, segundo ele, tem apresentado um desempenho acima do esperado. "O potinho já atingiu 1,7% de participação em valor em apenas três meses de mercado, segundo a leitura Nielsen de agosto", diz.
Seja em um formato ou em outro, os dois fabricantes garantem que os novos caldos têm o mesmo sabor e propriedades nutricionais que o tablete. "A diferença está na praticidade e na multiplicidade de usos que o formato gera", diz a diretora da Nestlé.
Veículo: Valor Econômico
A Knorr é a líder de vendas no setor, com 43% do mercado. A Nestlé, com a marca Maggi, tem 30,2% do volume vendido. Com o novo caldo em formato líquido a multinacional suíça quer tirar a liderança da concorrência. "A Maggi precisa ser tão forte no Brasil quanto é na Europa e no restante da América Latina", diz Daniela.
Como se não bastasse a briga entre as duas multinacionais, o mercado tem ficado mais competitivo com a entrada de novos competidores - geralmente empresas de alimentos de porte médio, como a Yoki, a Apti Alimentos e a Zaeli.
Não é para menos. Hoje, 85% dos lares compram caldos regularmente. Categorias com grande giro de vendas como a de caldos e de faturamento em ascendência acabam atraindo novos fabricantes que precisam aumentar seu portfólio de produtos para gerar mais rentabilidade.
Veículo: Valor Econômico