Com o mercado interno aquecido, as fábricas de calçados estão acelerando a produção para dar conta das encomendas de fim de ano. Algumas empresas, como a Piccadilly, chegaram a registrar uma leve retração nos pedidos de produtos de verão na segunda metade de outubro devido à demora da chegada do calor, mas no início de novembro a situação se normalizou e conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) a produção do setor no país deve crescer entre 8% a 9% na comparação com os 813,6 milhões de pares estimados em 2009.
Conforme o diretor-presidente da Piccadilly, Paulo Grings, depois da retração de outubro as quatro fábricas da empresa no Rio Grande do Sul iniciaram novembro produzindo 60 mil pares por dia, 25% mais que no mesmo período de 2009. "Estamos operando a pleno", disse Grings, que ainda prevê encerrar 2010 com estoques inferiores a 50 mil pares, contra 100 mil a 150 mil nos últimos anos.
Grings informou que a Piccadilly está com a carteira de pedidos praticamente tomada até o fim do ano, mas ainda espera algumas encomendas de produtos de giro mais alto. Segundo ele, a produção do ano vai alcançar 8,9 milhões de pares, ante 7,9 milhões em 2009.
O diretor-executivo da Abicalçados, Heitor Klein, disse que o refluxo temporário de pedidos como o que ocorreu em outubro com a Piccadilly é "normal" e não afetará o desempenho do mercado interno, que absorve cerca de 85% da produção do setor e será a "salvação da lavoura" neste ano. As exportações até cresceram 10,2% de janeiro a outubro em relação a 2009, mas devem ter em 2010 o pior desempenho desde 2002.
Os maiores problemas das exportações não são novos: real valorizado e concorrência chinesa. Conforme Klein, a alta até outubro é fruto de uma "bolha" registrada de março a maio, quando a China não conseguiu atender aos pedidos e os importadores recorreram ao Brasil para suprir a falta. "Mas este não é um movimento virtuoso porque ganhamos com o erro do adversário", comentou. Na Piccadilly, os embarques deste ano devem alcançar 2,8 milhões de pares, em linha com 2009.
Na West Coast, os pedidos não tiveram desaceleração em outubro e a carteira para o restante do ano está fechada desde o fim de agosto, um mês antes do que ocorreu em 2009, disse o diretor Eduardo Schefer. "O consumidor e os varejistas estão mais confiantes neste ano", afirmou. Segundo ele, as fábricas da empresa no Rio Grande do Sul e em Sergipe estão produzindo a plena capacidade.
O volume alcança 16 mil pares por dia, 33% a mais do que no mesmo período de 2009, e a produção acumulada de 2010 vai chegar a 2,3 milhões de pares, com alta de 21% sobre o ano passado, sendo 20% destinados ao mercado externo, revelou o diretor. Em Sergipe, onde chegou neste ano com um investimento de R$ 5 milhões na fábrica local, a West Coast está produzindo 2,2 mil pares por dia, mas até o fim de 2011 esse número deve saltar para 8 mil pares/dia com a construção de mais quatro unidades industriais na mesma cidade.
Veículo: Valor Econômico