Os preços recordes do algodão, que chegaram a atingir 147 centavos de dólar a libra-peso nesta semana na bolsa de Nova York, fizeram saltar também as vendas antecipadas da pluma que será plantada neste ano e colhida no ano que vem. Até meados de outubro, o mercado estimava que 700 mil toneladas da commodity estavam comprometidas. Esse volume já está em 1,1 milhão de toneladas, de acordo com estimativas da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
Haroldo Cunha, presidente da entidade, afirma que o salto ocorreu após as cotações superarem os 120 centavos de dólar por libra-peso, em 26 de outubro. "Até então, 700 mil toneladas tinham sido comprometidas ao preço médio de 75 centavos de dólar por libra-peso", recorda. O volume vendido antecipadamente é o maior já feito pelo setor e representa cerca de 64% da colheita esperada para 2011 - 1,7 milhão de toneladas, de acordo com a Abrapa.
Se confirmado, o volume será 47% superior às 1,15 milhão de toneladas colhidos na safra 2009/10, que foi penalizada com clima ruim e teve quebra. Por conta da baixa oferta doméstica, os preços internos da pluma vem subindo desde agosto, mesmo com o início da colheita da commodity, e bateram níveis recordes. Segundo o indicador Cepea/Esalq, a libra-peso valorizou-se 23% desde o final de agosto.
A escassez de algodão no mercado interno fez com que a indústria têxtil, em acordo com produtores de algodão e exportadores, solicitassem ao governo federal a liberação da importação sem imposto de 250 mil toneladas da pluma para abastecer o mercado interno. O pedido foi concedido e as regras de importação foram publicadas no dia 27 de outubro.
Mas com a guinada dos preços da commodity no mercado internacional e interno, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT) já avalia que os 250 mil toneladas são insuficientes. "O abastecimento está difícil e tende a se agravar a cada dia", diz Aguinaldo Diniz Filho, presidente da associação.
Diniz afirma que pretende reunir novamente Abrapa e Anea, que representa os exportadores de algodão, para estudar um novo pleito: ampliar o volume de importação sem imposto.
"O que não podemos é descuidar e autorizar a importação de uma quantidade de algodão que, somada à grande safra nacional esperada para o próximo cause uma pressão nos preços internos", diz Cunha, da Abrapa.
De acordo com um trader, se a importação sem imposto for liberada sem limites, há espaço para entrar no país em torno de 450 mil toneladas da pluma.
Veículo: Valor Econômico