O acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul pode impactar especialmente em preços mais baixos para a cadeia produtiva de lácteos no Brasil. Segundo Rodrigo Sant'Ana Alvim, presidente das comissões de leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Federação de Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), o País precisa ficar atento às negociações principalmente em relação a acordos de ofertas bilaterais. "Se não apenas eles embarcarão produtos para o Brasil e a gente não embarcará para eles", afirma, lembrando que o Brasil e a União Europeia precisam avançar em acordo sanitário.
O Itamaraty, na última quarta-feira, apresentou ao segmento uma proposta da União Europeia que condiciona a integração comercial com o Mercosul à livre entrada de queijos e soro de leite nos mercados brasileiro, argentino e uruguaio. Dia 30 de novembro, o setor deve se reunir com o governo para debater a medida.
De acordo com Alvim, a proposta inclui também outros setores da economia e agricultura. "Precisamos minimizar os impactos, já que competir com eles [UE] é difícil, pelos subsídios concedidos à exportação."
Para Rafael Ribeiro de Lima Filho, analista da Scot Consultoria, com os subsídios que os países da União possuem, o produto consequentemente entraria mais barato no País. Por outro lado, segundo o analista, para o leite e derivados europeus chegarem ao Brasil é necessário competir com preços em primeiro lugar com o produto de Argentina e Uruguai, além do nacional. "As importações de leite em pó, longa vida e derivados do leite da Argentina e Uruguai já jogam o mercado para baixo", diz o analista.
Segundo Filho, algumas das alternativas para driblar os efeitos das importações seriam fortalecer o mercado interno e abrir portas para exportação. "Para isso, o Brasil deveria atuar em parceria com a Argentina para exportar para os mesmos destinos."
O País embarca apenas 2% de sua produção, e consome por ano uma média de 145 litros per capita, enquanto o recomendado gira em torno de 220 litros. Dados da Scot mostram que nos Estados Unidos o consumo por habitante ao ano está entre 260 e 270 litros.
De acordo com Alvim, o setor ainda possui tarifas compensatórias sobre as importações de lácteos, que podem sofrer alterações com o acordo.
Como medida de defesa comercial, em 1999, o Brasil aplicou, além da alíquota de 27%, um direito antidumping de 14,8% e de 3,9% sobre as importações de leite em pó da União Europeia e da Nova Zelândia, além de estabelecer compromissos de preços com a Argentina e Uruguai.
Estudo da Scot prevê uma elevação de 2,22% na produção de leite da União Europeia entre 2000 e 2010. Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) mostram que no início da década o país produzia 135 bilhões de litros de leite.
Estatística baseada nas projeções do USDA, elaborada pela Milk Point, mostra que este ano, a União Europeia deve produzir 134 milhões de toneladas de leite fluído. A produção brasileira deve fechar em 30,2 milhões de toneladas, os Estados Unidos em 86,7 milhões de toneladas e a Argentina em 10,3 milhões de toneladas.
Diante desse cenário de aumento de oferta e competição de mercado, de acordo com Filho, o consumidor final poderá contar com preços mais atrativos nas gôndolas dos supermercados.
Preços
De acordo com Filho, no pagamento de outubro, que remunera a produção de setembro, o preço do leite ao produtor ficou estável, com ligeira alta em algumas regiões. "Em novembro, os preços devem se manter, mas com possibilidade de ligeira alta entre R$ 0,01 e R$ 0,02", estima.
Para o analista, a menor oferta de matéria-prima para a indústria, em função da seca e da alimentação mais cara, sustentou o mercado. "A retomada da produção e a demanda é que vão definir os preços em 2011."
A cotação média do litro de leite em outubro, em São Paulo, no mercado spot, ficou em R$ 0,73. Em Minas Gerais o valor médio praticado no mesmo período foi de R$ 0,74, e em Goiás R$ 0,70.
Segundo Filho, considerando a média entre os três estados, os negócios ocorreram em R$ 0,76 por litro, variação de 5% em relação ao mês anterior.
Veículo: DCI