Nada de alarme no cenário varejista, apesar de o Grupo Pão de Açúcar (GPA) ter fechado o terceiro trimestre com queda de 30% do lucro líquido. A rede, por outro lado, viu alta de 15,9% nas suas vendas brutas, e, para o analista da Fecomércio, Fábio Pina, a gangorra é algo comum com empresas que fizeram aquisições, como GPA, Casas Bahia e Globex. "Fusão é algo que gera gastos, pois, além da compra, é necessário unir culturas diferentes. Este é um resultado pelo qual a maioria das empresas que se uniram devem passar este ano, quando apresentarem seus números", explicou.
Casos semelhantes podem, ou não, se repetir no mercado, já que outras redes engrossaram essa onda de fusões, como o Magazine Luiza, que comprou em julho a Lojas Maia; o Ricardo Eletro e a Insinuante, que se uniram e criaram a Máquina de Vendas, e a rede de supermercados Cencosud que comprou a brasileira Bretas.
Para o presidente do grupo GPA, Enéas Pestana, é tudo natural, e a economia brasileira vai bem. "Vivemos um momento de ascensão social e crescimento do Produto Interno Bruto, fatores que têm grande impacto em nosso negócio", afirmou. O Grupo Pão de Açúcar destacou ainda, depois da apresentação dos resultados, que tem como principal desafio a redução de despesas financeiras para retomar o crescimento de ganhos. "Essa é a lição de casa que temos de fazer. As despesas financeiras cresceram, e cresceram muito. O aumento da dívida líquida foi por uma causa nobre: para adquirir Globex", disse o vice-presidente executivo do GPA, Hugo Bethlem.
Ele também afirmou que estes resultados estavam previstos, até, pelo mercado, e que agora é justamente o momento de a empresa fazer as sinergias necessárias entre Ponto Frio e Casas Bahia. " A parte de compras deve ficar pronta até março do ano que vem, e a sinergia das despesas deve terminar em outubro de 2011", explicou.
Segundo Bethlem, a companhia, em contrapartida, já começou a rever a forma de vendas para o consumidor e passou a reduzir o prazo de parcelamento sem juros; por outro lado, aumentou o de pagamento com encargos. "Intensificamos [essa ação] em outubro e os resultados já são bastante positivos", disse o executivo, acrescentando que, com isso, acredita ter conquistado maior participação de mercado ante os concorrentes.
No demonstrativo de resultados, a companhia atribui a queda à despesa financeira líquida do grupo e da Globex (atualmente, Nova Casas Bahia). Nos três meses até setembro, o resultado financeiro líquido do grupo representou perda de R$ 191,7 milhões, ante R$ 67,4 milhões negativos um ano antes. O valor representou 2,7% das vendas líquidas.
"Nesse trimestre tivemos R$ 18 milhões de gastos não-recorrentes de Globex em função da alteração do critério de apropriação do custo dos descontos de recebíveis, que passa a ser reconhecido no próprio mês do desconto", afirmou o executivo do Grupo Pão de Açúcar.
Na ponta do lápis, se desconsiderado o efeito não-recorrente, a despesa financeira líquida teria sido de R$ 173,7 milhões, e o lucro líquido ajustado, de R$ 132,6 milhões.
Nos nove meses até setembro, a maior varejista do País acumula lucro líquido de R$ 303,6 milhões, o que significa uma queda de 22,4% ante igual intervalo de 2009. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) da companhia somou R$ 493,5 milhões de julho a setembro, aumento de 41,8 %.
Já a margem Ebitda cresceu de 5,7 para 7%. A varejista encerrou o trimestre passado com receita líquida de 7,1 bilhões de reais, volume 16,6 por cento superior na comparação anual. No período, as vendas brutas totalizaram 7,9 bilhões de reais, crescimento de 15,6 por cento. No ano, o grupo acumula faturamento bruto de R$ 23,5 bilhões. A companhia espera encerrar 2010 com vendas brutas de R$ 33 bilhões.
Lojas em destaque
À frente de concorrentes como Carrefour e Walmart, entre outros, o GPA tem planos de manter a liderança, tanto que do total de R$ 1,3 bilhão programado para ser investidos este ano, a varejista conta com um saldo de R$ 250 milhões a cumprir até o fim de dezembro. O aporte, segundo ele, será destinado à reforma e conversão de 70 lojas CompreBem e Sendas que passarão a ter bandeira Extra Supermercado, além de reforço logístico para atender o período de fim de ano.
"Vamos acelerar a ampliação de lojas, tanto de hipermercados quanto do modelo compacto. Retomamos com mais força a expansão dos hipermercados", acrescentou o executivo. Segundo o vice-presidente do GPA, até o fim deste ano 70 pontos devem ter sua bandeira modificada, e "em meados do próximo ano devemos finalizar esta operação". Nos resultados, quem também ganhou ênfase de forma positiva no terceiro trimestre foram Assaí e Extra Supermercado, as vendas brutas de cujas lojas comparáveis cresceram, respectivamente, 19,6% e 24,1%.
Veículo: DCI