Pão de Açúcar altera política de parcelamento

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Ao reduzir número de pagamentos fixos, grupo quer diminuir despesas financeiras e aumentar capital de giro.

 

O maior varejista do Brasil mudou sua política de vendas parceladas. Desde o mês passado, o consumidor das bandeiras Extra e Ponto Frio do Grupo Pão de Açúcar encontra condições diferentes na hora de fazer suas compras de móveis, eletrodomésticos e eletroeletrônicos. A média de 9,5 vezes fixas no cartão de crédito caiu para 7,5 vezes. Já as compras com juros, parceladas em até 24 vezes, receberam uma taxa de 2,99% ao mês, contra a de 4,99% praticada anteriormente.

 

A mudança representa uma mudança de paradigma para o varejo, que é muito dependente das vendas no cartão de crédito. Quanto maior o número de parcelas, mais as redes desembolsam na antecipação do pagamento de recebíveis para os bancos, o que compromete o seu capital de giro. Com a redução do número de vezes parceladas fixas, o Pão de Açúcar deseja reduzir as despesas financeiras e, ao mesmo tempo, ter mais dinheiro em caixa.

 

"Nós estávamos oferecendo crédito de graça para quem não precisa", diz o vice-presidente do Pão de Açúcar, Hugo Bethlem. "Quem comprava um produto de R$ 2,4 mil em dez vezes de R$ 240 pode perfeitamente pagá-lo em oito vezes de R$ 300", afirma. "Quem precisa de crédito compra com juros e, para esse consumidor, diminuímos a taxa", diz.

 

Trata-se de uma mudança fundamental para o varejo, uma vez que as redes se tornaram de certa forma dependentes das vendas no cartão. "Essa prática, de parcelar no cartão, foi iniciada com Casas Bahia há pouco mais de cinco anos, e se mostrou um tiro no pé, uma vez que o carnê, que era mais vantajoso para as empresas, perdeu força", diz o especialista em varejo Eugênio Foganholo.

 

Segundo ele, a oferta de dez vezes sem juros pela Casas Bahia no passado forçou todos os varejistas a seguir a mesma prática. "Era preciso que o varejista tivesse um poder de compra muito bom para, em uma base ligeiramente menor de custo de mercadoria, oferecer o sem juros no cartão", diz Foganholo. "Para acompanhá-los, o varejista chegava a trabalhar com rentabilidade negativa". Agora, se o líder muda, todos devem seguir a nova política.

 

E o Pão de Açúcar tem bons motivos para mudar. Na divulgação dos resultados do terceiro trimestre, o grupo registrou queda de 30% no lucro líquido, para R$ 115,1 milhões em comparação ao mesmo período de 2009. O resultado teve impacto de despesa financeira líquida do grupo e da Globex (que reúne os ativos de Ponto Frio e, a partir do próximo trimestre, também de Extra Eletro e Casas Bahia).

 

De julho a setembro, as despesas financeiras líquidas somaram R$ 191,7 milhões, um aumento de mais de 184% sobre o mesmo período do ano passado, quando somaram R$ 67,4 milhões.

 

Segundo Bethlem, o aumento da dívida líquida foi provocado pelas aquisições, como a do Ponto Frio, e da expansão orgânica. Do lado da Globex, houve ainda uma despesa financeira de desconto de recebíveis, que acabou sendo adequada à política do Grupo Pão de Açúcar.

 

O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (lajida) consolidado correspondeu a R$ 493,5 milhões entre julho e setembro, o que significa elevação de 41,8% perante os R$ 348,1 milhões somados em igual intervalo de 2009. A margem Lajida passou de 5,7% para 7%.

 

As vendas brutas consolidadas somaram R$ 7,939 bilhões no trimestre, com expansão de 15,6% em relação aos três meses até setembro de 2009. As vendas líquidas subiram 16,6%, atingindo R$ 7,1 bilhões.

 

No conceito "mesmas lojas" (pontos com no mínimo 12 meses de operação, que inclui Ponto Frio), as vendas brutas cresceram 12,5% em relação ao terceiro trimestre de 2009 e 7,2% em termos reais (deflacionadas pelo IPCA). Nesse conceito, as vendas líquidas nominais cresceram 13,1%.

 

Para a analista Juliana Campos, da Ativa, o resultado está em linha com o esperado. "O problema está nas despesas financeiras, principalmente do Ponto Frio, mas a empresa já sinalizou que isso pode melhorar, com a captação de FDIC [fundo de investimento de direitos creditórios], oferecido a uma taxa bem inferior à de mercado", afirma.

 

Juliana elogia a redução do parcelamento sem juros, mas lembra que há a preocupação de a medida tirar parte da competitividade da empresa. Daniela Bretthauer, analista da Raymond James, pensa o mesmo. "Pode ser que a medida certa retração nas vendas em um primeiro momento, porque o brasileiro se acostumou às dez vezes sem juros, mas é uma mudança fundamental para o varejo".

 

Bethlem garante que não houve recuo nas vendas. "Em outubro, quando começamos a implantar essa política, as vendas cresceram 7%", diz.

 

Veículo: Valor Econômico


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