A expansão dos negócios da São Paulo Alpargatas no exterior - principalmente pela força das sandálias Havaianas em praças como Nova York e Paris - deve ganhar novo fôlego. A companhia estuda a possibilidade de crescer lá fora por meio de aquisições de empresas na área de calçados, e haveria uma atenção especial ao segmento de sandálias, conforme informações apuradas pelo Valor.
"Nunca tivemos tanto dinheiro disponível em caixa", diz Marcio Utsch, presidente da companhia, com quase meio bilhão de reais em recursos livres para investimento ao final do mês de setembro. O volume é quase duas vezes maior que o apurado no mesmo período do ano anterior. "Isso abriu espaço para que passássemos a olhar negócios lá fora e já vimos que há ativos bem interessantes", afirma ele. Utsch não dá detalhes sobre quais empresas já foram sondadas e como as negociações têm avançado.
A fabricante fez duas movimentações de peso nos últimos anos nesse sentido: a ampliação na participação acionária na Alpargatas na Argentina em 2010 e a compra da Dupé há três anos. Com R$ 1,9 bilhão em receita bruta de janeiro a setembro (16,5% acima do apurado em 2009), a Alpargatas administra sete marcas no Brasil e é dona de Havaianas, Topper, Rainha e Dupé. Tem a licença para produção e comercialização da Mizuno.
Os indícios de nova movimentação são vistos não só como positivos, como até mesmo necessários. "É preciso dar um direcionamento para esse caixa", diz Renato Prado, analista da Fator Corretora. "A Alpargatas pode distribuir dividendos, mas não é algo indicado agora. Com os recursos, o que se espera por parte da companhia é a expansão das fábricas, para atender a demanda futura, ou a compra de novos negócios", afirma ele. Neste ano, até ontem, as ações da Alpargatas se valorizaram 81,29% na Bovespa.
Da soma total de R$ 492 milhões disponíveis em caixa para aplicações e investimentos pela empresa, mais de R$ 400 milhões refere-se a ganhos operacionais obtidos pela Alpargatas nos últimos 12 meses.
A avaliação de novas aquisições ganhou força dentro da empresa nos últimos meses não apenas pelo caixa disponível, como pela percepção de que esse caminho pode levar a uma expansão mais rápida das receitas internacionais do grupo. Apesar do efeito negativo do câmbio na receita em moeda estrangeira neste momento, o investimento da Alpargatas está sendo estudado para obter ganhos a longo prazo. O mercado externo representa 29% da receita líquida da companhia - há um ano essa taxa era de 24%.
Em março deste ano, a companhia concluiu uma oferta pública de compra das ações da Alpargatas na Argentina, que levou a empresa a deter 70,32% do capital da subsidiária. Em setembro de 2007, o grupo adquiriu a fabricante Dupé por quase R$ 50 milhões.
Havia uma expectativa de que os investimentos da empresa se concentrassem basicamente na ampliação da produção local e no aprimoramento da estrutura de distribuição e venda. Até porque a Alpargatas informou meses atrás que poderia investir em uma nova fábrica no país. O projeto continua de pé, diz Utsch. Mas ele esclarece que isso tem sido planejado em paralelo com os projetos de novas aquisições.
"Estamos melhorando o que já temos sem deixar de avaliar possibilidades novas". Ele cita, por exemplo, o projeto de reorganização da cadeia logística e de suprimentos da empresa.
A Alpargatas está buscando formas de atender o varejo de forma mais eficiente e para isso, desenhou um plano de iniciativas que deve estar completado até meados de 2011. A ideia é ter sistemas de controle mais apurados na área de vendas, de maneira que consiga vender o produto certo no lugar certo, evitando gargalos. A empresa também tenta buscar maneiras de ser mais ágil no lançamento de produtos. Ela conseguiu reduzir de até 18 meses para nove meses o prazo que vai da criação até a venda de um chuteira.
Veículo: Valor Econômico