Projeto de 'megacooperativa' de lácteos sob ameaça

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O projeto de criação da maior cooperativa de lácteos do país e da América Latina está na corda bamba. Depois da saída da mineira Cemil, em agosto, a Minas Leite e a goiana Centroleite acabam de se retirar do projeto, que é encabeçado pela também mineira Itambé. Com a saída das três centrais, restaram apenas a Itambé e a Confepar, do Paraná, nas negociações.

 

Pelo projeto inicial, lançado há mais de um ano, a fusão das cinco cooperativas criaria uma empresa com receita anual de R$ 4 bilhões e captação de 7 milhões de litros de leite por dia.

 

A Itambé já iniciou conversações com outra cooperativa de leite para uma eventual união das operações, mas analistas avaliam que concretizar uma fusão ficou mais difícil, já que as negociações voltaram à estaca zero.

 

O presidente da Centroleite, Haroldo Max de Sousa, disse que a central decidiu sair das negociações após uma mudança no projeto original. De acordo com Sousa, o modelo inicial previa a criação de uma grande central focada na organização da produção, captação e comercialização do leite in natura, a Nova Central de Lácteos, e de uma S/A focada na industrialização e na comercialização do produtos. Na central, o comando seria proporcional ao volume de leite produzido e na S/A, proporcional ao capital de cada cooperativa. A Nova Central teria parte da S/A.

 

Após a saída da Cemil e da Minas Leite, a Itambé propôs uma mudança no modelo, segundo Sousa. Nessa nova proposta, as cooperativas seriam controladoras de uma holding que será acionista da S/A. "Descaracterizou o projeto", afirmou o presidente da Centroleite. Em sua visão, a substituição da cooperativa central por uma holding "descaracterizou as premissas de manter o controle da produção e dos preços da matéria-prima pelos produtores associados às cooperativas".

 

O presidente da Itambé, Jacques Gontijo, disse que "não houve mudança" e que "o produtor não perde força". Ele explicou que, após aconselhamento de assessores jurídicos, decidiu-se pela criação de uma holding, pois este seria um modelo mais transparente para atrair um investidor externo para o projeto.

 

"Estamos procurando um investidor para esta empresa, e um interlocutor único [a holding] facilita o processo". O plano de fusão das cooperativas contempla também a abertura de capital da nova empresa na bolsa no futuro. Ele disse ainda que o modelo anterior, em que as cooperativas eram acionistas da S.A, poderia dificultar decisões futuras da empresa.

 

Apesar da saída das três cooperativas do projeto, Gontijo afirma que a fusão ocorrerá. Segundo ele, a aglutinação com a Confepar será concretizada em breve. "Deixaremos a porta aberta para outras cooperativas interessadas em entrar no futuro".

 

Ainda que a mudança de modelo tenha pesado para a saída da Centroleite e da Minas Leite, o valor de cada cooperativa associada no novo negócio também explica as defecções. Como é bem maior que as outras cooperativas e tem mais ativos, a Itambé teria um peso bem maior na nova companhia, conforme avaliação realizada pela PricewaterhouseCoopers, contratada em 2009 para avaliar os ativos de cada central de laticínios e estabelecer o peso de cada um dos sócios no negócio. Foi essa a razão para a saída da Cemil.

 

O presidente da Centroleite, Haroldo Max de Sousa, admitiu que a participação "muito inferior para as cooperativas detentoras somente da produção" no valor avaliado pela Price também levou à retirada do projeto. Disse, porém, que desde o início estava claro que a Itambé teria mais peso. Na última avaliação da Price considerando a fusão das três cooperativas, a Itambé teria fatia de 87% da empresa, a Centroleite, 3%, e a Confepar, o restante, segundo Sousa.

 

Veículo: Valor Econômico


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