Fabricante também faz aquisição da Metalex e estreia no segmento de reciclagem
Limitada no aumento da produção, devido ao elevado custo da energia no país, e diante de um mercado doméstico que fecha 2010 com expansão média de quase 30%, a divisão de alumínio da Votorantim Metais, que era operada pela antiga Cia. Brasileira do Alumínio-CBA, acaba de entrar no segmento de reciclagem e já vem recorrendo a importações de alumínio primário para suprir suas linhas de fabricação de produtos transformados. Esse é um dos caminhos para conseguir atender o consumo interno, fortemente aquecido em vários setores - desde chapas para embalagens e perfis para a construção civil e indústria de ônibus até fios e cabos usados em linhas de transmissão de energia e peças fundidas para automóveis.
Marco Antônio Palmieri, diretor do negócio alumínio da VM, dá a exata dimensão do desempenho nos vários mercados da indústria de alumínio no país, que está batendo novo recorde de vendas. "Estamos com nossa fábrica operando à plena capacidade", informa o executivo, engenheiro metalúrgico formado em Ouro Preto (MG) que está no grupo desde 2006, depois de uma longa passagem pela concorrente Alcan, que hoje não compete mais nesse mercado no Brasil.
Em outubro, a VM adquiriu do grupo Silver, a concorrente Metalex, produtora de tarugos de alumínio à base de metal reciclado. O valor do negócio não é revelado. Os clientes da Metalex são inúmeros fabricantes de perfis. "Foi uma aquisição estratégica ", explica Palmieri. A VM-CBA desejava há tempo entrar na reciclagem. "Isso nos dá mais acesso a metal para suprir nossas linhas de produção, num mercado que está crescendo e onde as fontes de metal primário estão escasseando", afirma.
A questão do preço da energia para o setor industrial é o nó enfrentado pela indústria de alumínio no país. Sem competitividade para continuar fabricando, a Valesul, no ano passado, e a unidade de Aratu, na Bahia, da Novelis, há duas semanas, fecharam suas operações de metal primário. Os dois casos somam mais de 150 mil toneladas de capacidade de oferta de metal desativada. A VM-CBA tem um projeto de expansão que depende de encontrar alternativas de gerar energia a custo competitivo.
Enquanto isso, a empresa assegura ter planos ainda mais agressivos para crescer na reciclagem. Nem bem acabou de comprar a Metalex- em outubro - e a VM já está ampliando sua capacidade em 30%, para 65 mil toneladas de produção de tarugos de alumínio, no segundo trimestre. A sucata usada é formada por rebarbas de produção de perfis, peças de motor, panelas descartadas, entre outros bens obsoletos. A VM é o maior fornecedor de tarugos no país, com 35% de participação (140 mil toneladas).
Ante o descompasso entre oferta e demanda no mercado nacional, a empresa recorreu à importação de metal primário (mais de 40 mil toneladas de lingotes e bobinas) para beneficiar na fábrica situada em Alumínio (região de Sorocaba-SP), e suprir suas linhas fabris. Por exemplo, da Argentina. Com o consumo aquecido, a VM está fechando o ano com venda total de 511 mil toneladas de produtos - incluindo exportações -, ante sua produção de metal primário de 474 mil l toneladas.
"Nossas vendas, neste ano, cresceram muito", disse Palmieri. No mercado interno, a empresa fechará com cerca de 415 mil toneladas. Esse volume dará à VM uma participação 32% do total comercializado no ano, de 1,3 milhão de toneladas, conforme balanço da Associação Brasileira do Alumínio (Abal).
A demanda local superaquecida forçará a VM a reduzir à metade as exportações em 2011, que representaram 20% das vendas totais neste ano. "Nosso objetivo é atender o mercado brasileiro e nossa vocação é cada vez mais crescer em produtos transformados", diz o executivo. Segundo ele, o setor projeta aumento médio no consumo nacional de alumínio de 8% a 9% no próximo ano.
No negócio de extrudados (fabricação de perfis), a VM está investindo R$ 243 milhões na instalação de dois equipamentos que vão elevar sua capacidade fabril em 66% e garantir uma participação de mercado em torno de 25%. A primeira prensa acaba de entrar em operação e a segunda virá em março. Esse segmento é o de maior demanda no país em produtos de alumínio, puxada em grande parte pelo boom imobiliário. Vai encerrar o ano com alta de 34,5%, em 280 mil toneladas, conforme dados da Abal.
O investimento responde por 60% dos R$ 400 milhões totais da empresa no ano passado. Com isso, a capacidade de produção saltará das atuais 42,5 mil toneladas para 70 mil a partir de meados de 2011. Das vendas desse produto, quase dois terços são no mercado imobiliário - o restante para indústrias de transporte e moveleira. Nesse negócio, os concorrentes de peso são as gigantes multinacionais Alcoae Norsk Hydro
O projeto contemplou também uma linha de anodização, o que permite fazer perfis de cores variadas - indo além do cinza e preto para vermelho, vinho, azul, verde... Ao todo, pode alcançar 28 diferentes opções de acabamento, usando tecnologia italiana. "Com isso, ganhamos mais espaço na indústria moveleira, em fachadas e em interiores".
Para 2011, a VM-CBA tem previsão de investir outros R$ 400 milhões, em várias áreas, incluindo mineração de bauxita. Embora sem grandes aportes, as linhas de laminação de chapas e folhas, com programas de otimização, estão obtendo neste ano expansão de 25% na capacidade, explica Palmieri. "O benefício virá em 2011".
A VM, com três unidades de negócio - alumínio, zinco e níquel - faturou R$ 5,2 bilhões em 2009. O grupo não abre por negócio.
Veículo: Valor Econômico