Marcas fortes despertam interesse pela Sara Lee

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Nos últimos cinco anos, a Sara Lee Corp., que já teve uma colcha de retalhos de marcas de consumo, estreitou seu foco para produtos alimentícios. Mas suas divisões, que vão dos cafés Pilão e do Ponto à linha de frios Hilshire Farm, ainda têm pouco em comum, um dos motivos que tornam a empresa um alvo tentador de uma aquisição.

 

Este ano, o conselho da Sara Lee rejeitou uma proposta da firma de private equity Kohlberg Kravis Roberts & Co. Nas últimas semanas, o conselho vem considerando a venda da empresa para a empresa brasileira de processamento de carnes JBS SA, dizem pessoas familiarizadas com a situação.

 

Uma venda interromperia o esforço iniciado pela ex-diretora-presidente da empresa Brenda Barnes cinco anos atrás para transformar a Sara Lee, de uma holding com divisões bastante independentes, numa empresa operacional mais centralizada e sofisticada.

 

Um porta-voz da Sara Lee não quis comentar. Funcionários da JBS também não quiseram comentar.

 

Analistas especulam há meses que a empresa está pronta para uma venda e subsequente desmembramento. Em novembro, a Sara Lee informou que venderia sua divisão norte-americana de pães para a panificadora mexicana Grupo Bimbo SAB por cerca de US$ 1 bilhão. As divisões restantes de seu portfólio funcionam de forma praticamente independente e aparentemente oferecem poucas sinergias comerciais. Entre elas estão divisões altamente lucrativas, como a área internacional de cafés e a divisão norte-americana de carnes processadas, bem como suas divisões internacionais de pães e massas prontas e de serviços alimentares.

 

Com mais da metade de seus lucros vindo de fora dos Estados Unidos - boa parte dele da divisão de cafés -, a Sara Lee precisa importar caixa para custear a reestruturação de suas operações norte-americanas e pagar seus dividendos. Ao fazê-lo, ela incorre em uma carga tributária substancial, escreveu a analista Alexia Howard, da Sanford Bernstein, numa nota para investidores na semana passada.

 

Se for para a empresa ficar unida, seus executivos teriam de descobrir uma maneira para aumentar as margens e o fluxo de caixa na América do Norte, talvez pela compra de outra empresa de café, disse Howard. A conclusão dela: o desmembramento da empresa pode dar um bom impulso à cotação da ação da Sara Lee.

 

A ação da Sara Lee fechou ontem cotada a US$ 17,53 na Bolsa de Valores de Nova York, em baixa de 0,9%.

 

"Nós vemos a Sara Lee cada vez mais como uma empresa cujo portfólio e foco geográfico atuais são ineficientes sob a perspectiva tributária. Por isso, algo precisa mudar", escreveu Howard. "Vemos a Sara Lee numa encruzilhada e acreditamos que nos próximos vários meses vamos começar a ver sinais de qual das duas rotas a empresa planeja seguir."

 

Quando Barnes assumiu o comando da Sara Lee no começo de 2005, o conglomerado tinha dezenas de marcas que faziam desde graxa de sapato até salsicha. Cada uma delas fazia suas próprias compras e pouco hedge, quando fazia. Ela criou um departamento centralizado de compras e ajudou a gerenciar melhor a volatilidade de preços de commodities ao levar a empresa a comprar e negociar contratos futuros para algumas de suas matérias-primas. A Sara Lee também consolidou sua equipe americana de pesquisa e desenvolvimento em Illinois, concentrou os recursos de marketing nas marcas maiores e começou a tentar simplificar sua grande lista de produtos.

 

Barnes estabeleceu uma meta de uma margem operacional de 12%, o que a empresa como um todo ainda não alcançou. Ela se desfez de bilhões de dólares em divisões, terceirizou várias funções e lançou uma grande iniciativa de corte de custos.

 

Quando Barnes saiu da empresa em agosto, depois de ter sofrido um derrame, a Sara Lee tinha somente cinco unidades de negócio. A divisão internacional de café tinha uma margem operacional perto dos 18% , enquanto a divisão norte-americana de carnes, sob a liderança de Christopher John "CJ" Fraleigh, tinha mais que dobrado sua margem operacional, para cerca de 12%.

 

Uma compra da Sara Lee pela JBS seria a mais recente aquisição estrangeira do esforço bilionário da empresa brasileira para ganhar presença em mercados como os EUA e Europa. Desde 2007, a JBS, cujo faturamento anual gira em torno dos US$ 20 bilhões, comprou o frigorífico Swift & Co., duas divisões da Smithfield Foods Inc. e o controle acionário na produtora de aves Pilgrim's Pride Corp.

 

As compras fazem parte de uma onda de aquisições feitas por grandes empresas brasileiras de agronegócios que dominam seus mercados domésticos e estão usando uma moeda forte e o acesso ao capital para se expandir no exterior. Ao comprar empresas americanas, a JBS busca acesso a um mercado gigantesco que de outra forma seria inalcançável para a empresa. Os frigoríficos brasileiros não podem exportar suas carnes para os EUA devido a regras americanas de segurança alimentar, que a indústria brasileira de carnes considera como medidas protecionistas. Sem conseguir exportar para os EUA, a JBS está montando sua tenda em solo americano, dizem analistas.

 

"As regras sanitárias são vistas como medidas protecionistas disfarçadas e, para contorná-las e fazer negócios nos EUA, uma empresa de carnes precisa comprar os frigoríficos de lá", diz Alcides Torres, que dirige a firma de pesquisa da pecuária brasileira Scot Consultoria.

 

A expansão internacional da JBS é patrocinada em parte pelo governo brasileiro, que oferece financiamento subsidiado para muitas das maiores empresas do País por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, com o objetivo de ajudar a transformar essas empresas em importantes participantes do mercado global. Mas a estratégia tem ultimamente atraído críticos, que dizem que o governo está escolhendo suas potências empresariais.

 

Quando candidato de oposição à presidência, por exemplo, José Serra usou a televisão para criticar o uso de empréstimos subsidiados pelo contribuinte para ajudar a JBS a comprar a então concordatária Pilgrim's Pride. Autoridades do BNDES dizem que não estão escolhendo as grandes vencedoras nacionais.

 

Além do BNDES, que detém uma participação de 17% na JBS, o frigorífico tem outras fontes de financiamento, como a emissão de ações e os empréstimos tomados no mercado internacional.

 

Veículo: Valor Econômico


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