Faturamento de supermercados com produtos importados cresce 36,5%

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Quem diria que o brasileiríssimo churrasco pudesse tomar ares gringos. Picanha argentina, temperada com molho americano, brindado com cerveja belga, alemã ou mexicana? Até o tradicional arroz com feijão pode ser espanhol, acompanhado por lombinho mineiro, mas temperado com especiarias asiáticas. Para fechar, cafezinho colombiano. De 2008 a 2010, a participação dos produtos importados no faturamento dos supermercados cresceu 42%. Entre 2009 e o ano passado, o ritmo se manteve, com avanço de 36,5%, segundo a Associação Mineira de Supermercados (Amis). Já nos últimos 10 anos, a evolução surpreende. De praticamente inexpressivos, os produtos estrangeiros saíram de um peso de menos de 1% quadriplicando sua participação para 4% no faturamento do setor, que este ano deve movimentar R$ 14 bilhões em todo o estado.

 

Nas redes que investem em produtos diferenciados e são fortes na oferta de importados existem corredores inteiros criados para abrigar somente itens que podem chegar de mais de 40 países, da Europa à África. São gôndolas que dão a volta ao mundo. “A tendência é que a participação destes produtos no mercado aumente gradualmente”, observa o presidente da Amis, Adilson Rodrigues. Ele diz que além da desvalorização do dólar e do euro frente ao real, a demanda reprimida das classes C e D contribui para o crescimento dos importados. Para este ano, aposta em um crescimento de até 10%.

 

Entretanto, em redes que apostam na importação como diferencial, a participação desses itens no faturamento já chega a bater na casa dos 30%. “Hoje, existe uma grande infidelidade em relação a marcas. O consumidor está disposto a experimentar novas opções. A importação também é um incentivo para a indústria nacional, que já muito boa, investir ainda mais em qualidade”, defende Rodrigues.

 

Desde que descobriu o prazer de cozinhar, a designer Mary Figueiredo Arantes incluiu os importados em seu dia a dia. Ela compra os mais variados itens, produzindo receitas com o sabor particular de diversos países. “Cozinhar é como viajar sem sair de casa.” Segundo a consumidora, a oferta nacional evoluiu de forma surpreendente nos últimos anos, o que deixou os preços mais competitivos. Mary nota também que já existe competição entre os importados. “As massas são um exemplo, são vários produtos que chegam a competir em preço com a indústria nacional.” Segundo Mary, até o sal brasileiro pode ser trocado pelo produto sofisticado vindo da Ásia, vendido sob a forma de cristais.

 

Nacionalmente, até 2009, o peso dos importados no faturamento das redes cresceu na mesma proporção que no estado. O percentual de 2010 ainda não foi divulgado pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras), mas, segundo o presidente Sussumu Honda o índice nacional deve ser parecido com o registrado em Minas, que superou 2009. “O real está forte, o mercado europeu, fraco, o que incentiva as importações." O diretor-comerical do Verde Mar, Alexandre Poni, diz que em breve mais novidades irão invadir as gôndolas. No ano passado, o mix de importados cresceu 20% e o executivo aposta em um crescimento de outros 20% para 2011. “A importação cresce apesar das dificuldades, como os prazos de validade, questões aduaneiras e tributárias”, afirma. Para ele, a importação é “uma ameaça e uma oportunidade à indústria nacional.”

 

O gerente da rede Super Nosso, William Basílio, diz que os produtos internacionais competem em qualidade e preço. Em algumas lojas da rede, 40% do mix é importado. Ele cita exemplo de produtos como as geleias europeias vendidas a R$ 6,49, preço similar ao nacional. No carrinho de compras da dona de casa e advogada Fernanda Fattini tem sempre lugar reservado para produtos internacionais. Ela comenta que muitos preços já não são tão caros. “A massa italiana custa pouco mais de R$ 3. As bebidas, o azeite e alguns molhos também têm preços razoáveis.”

 

Desembarque nos populares

 

Os produtos importados chegaram também aos supermercados populares, especialmente no segmento de peixes, frutas, azeites, queijos e doces, que contribuíram para o avanço da participação do segmento no faturamento das grandes redes, mas também daquelas de menor porte. No ano passado, as importações brasileiras de alimentos industrializados somaram US$ 3,7 bilhões. Apesar de o valor corresponder a 2% do total da pauta de importação do país. O crescimento entre 2008 e 2010 foi de 20%.

 

Especialistas do varejo consideram que de um modo geral cresceu a disposição do consumidor para experimentar novos produtos. Segundo Sandro Benelli , diretor de importação e exportação do Grupo Pão de Açúcar, líder no segmento hipermercadista, apesar de o volume total de itens importados ter crescido 30% no ano passado, o consumo dos dos mesmos acelerou mais que a oferta de alimentos. A melhoria da renda da população mudou os hábitos de consumo. “Quem não tomava vinho passou a tomar. Quem consumia o vinho argentino, passou a experimentar o italiano ou francês.” Para ele, os importados não representam ameaça à indústria nacional porque estão focados em itens que o país não produz em larga escala.

 

Na avaliação do economista Tharcísio Souza Santos, a importação de alimentos ainda não é um fator de preocupação porque ocorre em segmentos específicos. “Não temos uma invasão de produtos estrangeiros em setores de grande consumo nacional”, diz. “Caso este quadro comece a mudar, aí sim teremos que nos preocupar.”

 

Veículo: O Estado de Minas


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