Parmalat torna-se foco de disputa entre França e Itália

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Oito anos depois de sua quebra espetacular por causa de uma dívida de 14 bilhões (US$ 19,9 bilhões), a revitalizada Parmalat SpA se tornou o grande troféu de uma briga entre franceses e italianos que forçou Roma a correr para proteger de mãos estrangeiras empresas nacionais estratégicas.

 

O laticínio francês Groupe Lactalis aumentou a tensão de uma batalha que já dura meses pelo controle da Parmalat, anunciando ontem que já amealhou 29% da empresa italiana.

 

A Lactalis, que comprou uma fatia de 11,42% da Parmalat semana passada, mais que dobrou a fatia comprando as participações de três fundos estrangeiros.

 

A empresa francesa, conhecida pela propensão a fazer aquisições, reiterou ontem que não pretende aumentar ainda mais a fatia. De acordo com as regras italianas do mercado acionário, o acionista é obrigado a fazer uma oferta pela empresa inteira se a fatia passar de 30%.

 

A Lactalis, que já está na Itália com a marca de queijo Galbani, é uma empresa de peso na Europa mas tem menos presença em mercados como Canadá, Austrália e América Latina.

 

"A Lactalis quer ser parceira do desenvolvimento da Parmalat na Itália e mundialmente", disse um porta-voz da empresa.

 

Mesmo assim, a Itália está fortalecendo suas defesas contra aquisições. O governo italiano informou semana passada que está pensando em propor semana que vem uma lei que dificultaria para investidores estrangeiros assumir o controle de empresas consideradas estratégicas para o país.

 

"Precisamos nos preocupar com atividades estratégicas como as relacionadas a energia ou agricultura e alimentação", disse ontem o ministro italiano do Trabalho, Maurizio Sacconi.

 

No início do mês, a imprensa italiana noticiou que a Parmalat estaria em negociações com a recém-criada Lácteos Brasil, numa troca de ações que teria o propósito de evitar a perda de controle para outra rival. Pessoas próximas à Parmalat disseram que as informações não são precisas. Um porta-voz de um banco de investimentos em Milão disse que haveria interesse em algum negócio depois que a polêmica em torno da Lactalis se acalmar.

 

Pessoas no Brasil ouvidas pelo Valor Econômico no início do mês confirmaram as negociações. A Lácteos Brasil, resultado da fusão dos laticínios Bom Gosto e Leitbom, já tem o controle da marca Parmalat no Brasil.

 

A Itália é especialmente sensível a qualquer investida francesa. O grupo francês de produtos de luxo LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton SA anunciou este mês que vai assumir o controle da joalheira italiana Bulgari SpA, uma das marcas italianas mais conhecidas. Enquanto isso, a Électricité de France SA está envolvida numa batalha para adquirir a Edison SpA, a segunda maior elétrica da Itália.

 

Além disso, alguns italianos ainda acham que foram prejudicados pela decisão do governo francês de fundir as energéticas Gaz de France e Suez, em 2006, pouco depois de ser divulgado que a italiana Enel SpA estudava uma oferta pela Suez em conjunto com uma empresa francesa de água e saneamento.

 

Além de qualquer medida governamental, o Intesa Sanpaolo SpA, maior banco de varejo da Itália, já informou que está pronto para se unir a qualquer outro italiano disposto a criar uma sociedade para garantir o futuro da Parmalat como empresa local. A Granarolo, um laticínio italiano rival, indicou que também pode estar interessado.

 

A Ferrero SpA também divulgou um comunicado ontem afirmando estar interessada em se unir a um possível "plano industrial de longo prazo" para a Parmalat.

 

A disputa deve atingir o ápice na próxima assembleia geral da Parmalat, em meados do mês que vem, quando deve ser escolhido o novo conselho de administração e a nova diretoria. Vários acionistas, como a Lactalis e o Intesa, já apresentaram suas listas de candidatos.

 

A Parmalat foi totalmente reestruturada nos últimos oito anos, depois da falência, em dezembro de 2003, resultante de anos de fraude no alto escalão. O colapso, que deu prejuízos a investidores de renda fixa no mundo inteiro, foi um dos maiores escândalos empresariais da Europa na época e resultou em dois inquéritos criminais na Itália.

 

Hoje em dia a Parmalat, que voltou à Bolsa de Milão em 2005 sob a tutela de Enrico Bondi, primeiro o administrador escolhido pelo tribunal de falências e depois indicado para ser o diretor-presidente da empresa, fatura 4,3 bilhões de euros mundialmente. Ela tem um saldo de 1,4 bilhão de euros no caixa, principalmente graças a indenizações recebidas por causa de seu colapso.

 

A Lactalis, cujo portfólio inclui marcas como President, Bridel e Lactel, tem capital fechado e é controlada pela família Besnier, da França. O grupo surgiu como um pequeno produtor de leite e queijo camembert fundado em 1933 por André Besnier, cujo filho Emmanuel ocupa hoje a presidência. Recentemente, ela tentou, sem sucesso, comprar a francesa Yoplait.

 


Veículo: Valor Econômico


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