Enquanto nos EUA receita está em queda, no Brasil crescimento anual varia de 20% a 30%
Depois de 15 anos de desorganização, o mercado brasileiro de videogames parece ter voltado a reunir as condições necessárias para crescer e ingressar, de fato, em uma indústria bilionária, mas cujos resultados no país sempre frustraram a expectativa de executivos e consumidores.
A novidade é que, pela primeira vez, os quatro pilares que sustentam o negócio de videogames estão presentes no país e, ao que parece, afinados entre si. Os fabricantes de console Sony, Microsoft e Nintendo vendem todos os seus equipamentos e jogos oficialmente no Brasil. Os principais estúdios de criação de jogos têm operações diretas ou, pelo menos, representações comerciais. A distribuição de softwares e equipamentos está ganhando força, e os varejistas têm aumentado o espaço dedicado aos videogames nas lojas.
Ainda vai levar cerca de três anos para que a indústria se consolide de forma definitiva no país, dizem profissionais do setor. Apesar disso, eles concordam que o estágio atual representa um passo importante para o país aumentar sua participação no negócio, cuja receita global já ultrapassou a do cinema, e aproxima-se de US$ 60 bilhões, segundo a consultoria PwC.
No Brasil, falta um número preciso sobre as vendas de jogos e consoles. As estimativas variam de R$ 300 milhões a R$ 1,1 bilhão por ano, incluindo os canais oficiais e os produtos importados ilegalmente. A falta de consenso é reflexo direto dos anos de desorganização e da grande participação de produtos contrabandeados, ou trazidos por brasileiros do exterior.
Não restam dúvidas, no entanto, de que o país é um dos mais atraentes para as empresas atualmente. Enquanto o mercado americano, o maior consumidor de videogames do mundo, vem apresentando quedas no faturamento - o declínio foi de 8% em 2009 e de 1% em 2010 -, o Brasil vem crescendo a taxas entre 20% e 30%. O México, maior mercado de jogos na América Latina, também tem apresentado um ritmo de crescimento lento no período.
A queda nos preços é um dos fatores mais importantes para esse renascimento no Brasil. Só a Microsoft fez oito reduções de preço no seu console Xbox 360 nos últimos cinco anos. A Sony também vem fazendo cortes sucessivos nos preços dos jogos do PlayStation 3.
Os grandes lançamentos de jogos, que antes levavam meses para chegar ao Brasil, também estão desembarcando no país mais cedo, o que atrai a atenção do público e rouba espaço da pirataria.
"O bolo está crescendo para todo mundo", diz Cláudio Costa, fundador e presidente da distribuidora NC Games. A companhia é a principal distribuidora de jogos, com estimados 85% do mercado. O domínio da companhia, no entanto, vem sendo ameaçado por empresas como a Warner Games e a Arvato Games, braço da Arvato Digital Services para o mercado de videogames.
Essas empresas estão trazendo ao Brasil um modelo cada vez mais comum nos Estados Unidos, por conta da retração no mercado americano. A proposta dessas companhias é administrar todas as fases da cadeia do setor, do processo de manufatura dos jogos em DVD ou Blu-ray até sua distribuição. Em alguns casos, o trabalho inclui também relacionar-se com os varejistas. Fica de fora apenas a concepção e programação dos games.
"As criadoras de jogos querem se focar no que elas sabem e deixar as outras áreas para quem entende", diz Glauco Bueno, gerente regional da Arvato Games. A companhia, que tem acordo com a Disney, prevê fechar até seis acordos desse tipo em dois anos. A Warner trabalha com a Electronic Arts e a Codemasters, além de ter jogos próprios.
O varejo já percebeu o novo cenário, mais profissional e organizado. A Saraiva está se firmando como a maior vendedora de videogames do país, com 20% de participação de mercado, segundo levantamento da IDG Consulting, especializada em análises do setor e na representação das criadoras de jogos. Na segunda colocação vem a rede especializada UZ Games, com 15% das vendas.
Apesar das novidades, o setor ainda tem muitas barreiras a superar. Segundo Anderson Gracias, gerente-geral da divisão PlayStation, da Sony, a expansão no varejo esbarra na falta de conhecimento das redes. Gracias conta que visitou uma loja onde os jogos estavam guardados no estoque por ordem do gerente. A decisão foi tomada por conta de um furto acontecido dias antes. "Como o valor unitário é mais alto e é o gerente que tem que prestar contas nesse caso, ele preferiu não expor o produto", conta.
Segundo Luis Pazos, diretor da IDG Consulting, o PlayStation é o console mais vendido no país. Mas o Xbox 360, da Microsoft, vem ganhando espaço.
Veículo: Valor Econômico