O varejo deve repassar para o consumidor final o aumento nos custos provocado pela recente alta no preço do algodão, que nos últimos sete meses subiu mais de 200%. De acordo com lojistas, além de encarecer o tecido, a cotação do insumo tem impactado toda a cadeia produtiva, fazendo com que as peças da coleção outono-inverno cheguem mais caras ao comércio, exigindo estratégias diferenciadas para manter os negócios aquecidos.
O gerente da loja de moda masculina Grande Camiseiro, Pedro Luiz Fernandes, explicou que algumas confecções reajustaram os produtos em até 30%, o que tem levado a empresa a pensar duas vezes na hora de fazer novas encomendas. "Sabemos que o preço do algodão está alto. Mas temos que ser criteriosos na hora de repassar os custos para o consumidor, caso contrário perdemos vendas", explicou.
Segundo ele, os estoques não serão remarcados e apenas os produtos reajustados nas fábricas serão repassados com alta para o consumidor. " preciso traçar uma estratégia para tentar manter a comercialização, mesmo com o aumento dos preços. Mas, no final das contas, a saída pode ser a redução das margens de lucro", disse Fernandes.
A proprietária da marca Patogê, Patrícia Castro, afirmou que os aumentos no preço do algodão têm sido quinzenais, o que tem levado a confecção - que também vende para o consumidor final - a adotar medidas para tentar diminuir a dependência do produto. "Algumas fábricas têm oferecido tecidos com outras fibras, além do algodão. Eles têm a mesma qualidade, mas precisamos submeter as peças a um processo de lavagem que acaba encarecendo a mercadoria. Pelo menos temos maior controle dos preços e podemos planejar melhor algumas estratégias", afirmou.
Conforme Patrícia, a alta na cotação da matéria-prima encarece outros itens da cadeia produtiva. "Os zíperes, as linhas e os jeans, que possuem componentes feitos com algodão, também aumentaram muito", reclamou. "Se repassarmos todos esses custos para os produtos, as vendas despencam. A saída é reduzir a margem de lucro e absorver alguns custos", completou a empresária.
Para tentar minimizar o forte impacto do aumento do preço da commodity nas vendas, a loja de moda feminina Linhas e Cores pretende investir em promoções. "Vamos ter que baixar o preço de algumas peças para atrair o cliente. Itens do estoque do ano passado também serão vendidos a preço de custo, para que o comprador se sinta estimulado a adquirir os produtos remarcados", disse a gerente de uma das lojas, Edna Rabello.
Segundo ela, em relação ao mesmo período de 2010, o alta nas mercadorias poderá chegar a 20%. "Como é um problema que afeta todos os concorrentes, temos de investir na estratégia das liquidações. Vai manter o cliente que conseguir oferecer condições mais atraentes", afirmou.
A escassez de algodão no mercado internacional tem provocado uma reação em cadeia. Segundo as fábricas e representantes da indústria têxtil, os custos de produção subiram até 35% em função da forte alta no preço do insumo. Parte desse aumento foi absorvido pela indústria, que tem repassado, em média, 10% da alta para o comércio. Já o varejo reclama do preço e repassa o custo para o consumidor final.
Veículo: Diário do Comércio - MG