Concorrência de produtos chineses dificulta o repasse da alta na cotação do algodão para os consumidores finais.
Nem mesmo a previsão de que a safra brasileira deste ano será recorde deve fazer os preços do algodão pluma recuarem muito abaixo do patamar histórico de R$ 9 por quilo, avalia a indústria têxtil, e, conseqüentemente, os aumentos de preços ao consumidor final devem continuar ao longo de 2011.
A avaliação foi feita ontem pelo presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Aguinaldo Diniz Filho, ao afirmar que o setor tem tido dificuldades para repassar a elevação dos insumos para o consumidor final devido à concorrência dos produtos chineses, mas deve fazer um novo reajuste nos próximos meses.
"O setor têxtil tem tido muita dificuldade para repassar o aumento dos custos da matéria-prima, mas estamos conseguindo repassar alguma coisa e continuamos a estudar novos repasses nos produtos, na medida do possível", afirmou Diniz Filho.
O repasse dos aumentos do algodão pela indústria têxtil ao consumidor variou entre 15% e 25% nos últimos 12 meses, de acordo com ele. No mesmo período, o preço do algodão em pluma no mercado interno subiu 160,8%, de R$ 151,30 (em 22 de março de 2010) para R$ 394,57 (em 22 de março de 2011), de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP). Segundo ele, cabe a cada empresa definir de que forma os reajustes serão feitos.
"O setor tem mais de 30 mil empresas e 900 produtos diferentes. Os repasses variam muito, de acordo com a quantidade de algodão que cada produto utiliza e com aquilo que o mercado está permitindo. A indústria têxtil está conseguido fazer os repasses, mas muito aquém daquilo que deveria", afirmou Diniz Filho.
Na última terça-feira, o indicador de preço de algodão em pluma, calculado pelo Cepea/Esalq/USP, ficou em R$ 3,9457 por libra-peso. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o aumento da área cultivada de algodão para esta safra foi de 56% e a previsão é de uma safra de algodão pluma de R$ 1,950 milhão de toneladas, ante 1,194 milhão na safra 2009/2010.
Mesmo que os preços do algodão recuem, não devem chegar a um nível próximo de US$ 1,00 por libra-peso, patamar considerado adequado pelo setor têxtil brasileiro. No país, o algodão representa entre 30% e 40% do custo de um tecido. "A safra recorde será muito importante para que haja uma melhoria nos preços do algodão, mas o patamar continuará altíssimo. O preço do algodão pluma subiu quase 200% em menos de um ano, algo que nunca ocorreu na história da indústria têxtil", afirmou Diniz Filho.
Perda de mercado - A principal razão pela qual a indústria tem contido reajustes é a concorrência com os produtos chineses. "Estamos entregando de forma ingênua e primária nosso mercado interno para os produtos da China, e é por isso que temos tido muita dificuldade para repassar ao menos parte do custo da matéria prima", afirmou Diniz Filho.
Na avaliação dele, o setor tem atuado como "âncora de inflação". Segundo ele, enquanto o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula uma alta de 234% de julho de 1994 a fevereiro de 2011, os preços do setor têxtil e de vestuário subiram 130% no mesmo período. "Estamos abaixo da inflação há muito tempo. Não somos geradores de inflação. Estamos subindo os preços muito menos do que deveríamos. Isso é ruim porque descapitaliza a indústria e diminui o capital de giro", advertiu.
Outra preocupação do setor é que grande parte da safra de algodão que será colhida neste ano já está compromissada com exportações. Diniz Filho disse que o setor está conversando com as entidades ligadas aos produtores sobre a possibilidade de que a produção possa permanecer no país. "Eu espero que possamos conseguir uma negociação para que o algodão fique aqui", afirmou. Ele citou o caso da Índia, que recentemente proibiu as exportações de algodão para beneficiar a indústria local e tenta a venda no exterior de produtos de maior valor agregado.
Segundo o presidente da Abit, a safra anterior foi menor que o esperado e diversas fábricas tiveram de diminuir a produção e os turnos. "Isso tem como conseqüência menos empregos. Nosso setor emprega hoje 1,7 milhão de pessoas e é o segundo maior gerador de empregos, atrás apenas do setor de alimentos e bebidas. Geramos 7 milhões de empregos de forma indireta", observou.
Veículo: Diário do Comércio - MG