Produção de grãos avança nas chapadas do

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Cenários: Projetos como o da Insolo ganham força no Cerrado da região

 

O Seneca III decola do aeroporto Brigadeiro Lysias Rodrigues, em Palmas, toma a direção nordeste e logo sobrevoa áreas de pecuária. Após cerca de 200 quilômetros, o comandante do bimotor, Eduardo Canedo, aponta a divisa seca entre Tocantins e Maranhão. Três mil metros abaixo, no sul maranhense, despontam as primeiras fazendas de grãos da Serra do Penitente.

 

O cenário é surpreendente. Nas chapadas que emergem entre os baixões, o Cerrado é interrompido por grandes lavouras onde, nesta época, as colheitadeiras esperam a chuva parar para completarem seu serviço. Vencidos mais 100 quilômetros, quando o Maranhão acaba no barrento rio Parnaíba, a Serra da Fortaleza aparece para mostrar que a soja também prevalece nos chapadões do Piauí, onde antes quase não havia movimento.

 

Nos pés das serras, a população ainda mantém pequenas plantações de mandioca e modestas criações de gado. Alguma caprinocultura também sobrevive em meio à infraestrutura precária, enquanto no andar de cima investimentos intensivos em tecnologia agrícola apontam para um "Mapito" em desenvolvimento e com grande potencial.

 

Ao contrário do oeste da Bahia, que já amadureceu com suas qualidades e carências, o "Mapito" ainda pode ser considerado uma nova fronteira agrícola. Juntos, Maranhão, Piauí e Tocantins cultivaram 3,3 milhões de hectares de grãos nesta safra 2010/11, 6,3% a mais que em 2009/10. Deverão produzir 7,3 milhões de toneladas, um salto de 26,9% graças ao incremento da produtividade, a maior parte nesta região de Cerrado sobrevoada pela aeronave da Embraer, 1989, pilotada pelo comandante Canedo.

 

É possível identificar projetos estrangeiros, mas destacam-se mesmo os liderados por companhias nacionais. A cooperativa Cotrirosa honrou a tradição desbravadora gaúcha e foi uma das primeiras a apostar no "Mapito". As empresas Tiba Agro e BrasilAgro também têm suas fazendas, e é em terras piauienses que a Insolo deverá concluir até 2013/14 um plano de investimentos de US$ 400 milhões, um dos mais importantes da lista dos que são conhecidos.

 

Foi em meados da década de 90 que Paulo Sérgio Marthaus e outros agrônomos vieram do Paraná para prospectar a área. Pelo chão, varreram potenciais polos produtivos e encontraram uma chapada hoje conhecida como Condomínio, em homenagem ao grupo. Compraram algumas terras e fundaram a Insolo Soluções Agrícolas, focada na prestação de serviços e no gerenciamento de propriedades.

 

Em 2003, foram contratados pelo empresário Ivoncy Iochpe, que acabara de comprar a fazenda Vista Verde, no município de Palmeira do Piauí. O relacionamento evoluiu e Iochpe assumiu o controle da Insolo em 2008, para ampliar o número de clientes assessorados e partir para a aquisição de outras fazendas.

 

Nascia a Insolo Agroindustrial, que em 2010/11 colherá cerca de 130 mil toneladas de grãos em pouco mais de 42 mil hectares divididos em cinco unidades produtivas no Piauí - a principal delas, a Ipê, fica em Baixa Grande do Ribeiro. A soja, com 36,5 mil hectares, é o principal cultivo nas fazendas próprias, seguida por arroz, cultura que serve à abertura de novas áreas de produção, e milho safrinha. A soja é vendida a tradings como Bunge e Cargill, e o milho e o arroz são comercializados no mercado local. O algodão fará sua estreia em 2011/12, também impulsionado pelo aporte de R$ 70 milhões realizado na safra atual.

 

Da área própria total cultivada - outros 80 mil hectares de terceiros estão sob os cuidados da Insolo Soluções Agrícolas -, 16 mil foram ocupadas com suas primeiras lavouras. Foram 3,8 mil hectares de arroz, que posteriormente receberão a soja, e o restante já diretamente com a oleaginosa, o carro-chefe do agronegócio brasileiro tanto em valor bruto da produção quanto na pauta de exportações.

 

Conforme Salomão Iochpe, filho de Ivoncy e presidente e CEO da Insolo, a empresa também trabalhou áreas novas para chegar a entre 55 mil e 61 mil hectares na próxima safra (2011/12), 1,6 mil ocupadas com algodão e incluindo a safrinha de milho, plantada na sequência da colheita da soja de verão. "Decidimos plantar algodão antes mesmo dos atuais picos dos preços internacionais, e já estamos investindo em uma unidade de beneficiamento", afirma. Em suas fazendas, garante, a Insolo preserva as áreas de reserva legal de acordo com a legislação vigente e com a realização de auditoria externa.

 

Em um "mundo perfeito", adianta Marthaus, no futuro a soja será plantada em 50% da área "madura" (com mais de três anos de plantio) da Insolo, com algodão, arroz e milho. O agrônomo manteve uma participação minoritária na "nova" Insolo, da qual tornou-se diretor de produção. Nesta função, lidera a estratégia agronômica da empresa - ou seu "coração", conforme Salomão Iochpe. "Temos pesquisas com algodão há seis anos. Trata-se de uma cultura desafiadora [os custos de produção são muito mais elevados que os de soja e milho], mas de grandes oportunidades e possibilidade de crescimento acelerado", diz Marthaus.

 

Testemunha ocular do desenvolvimento do "Mapito", este agrônomo com especializações em administração do agronegócio na FEA/USP e na FGV, afirma que a evolução em torno das áreas produtivas da região tem sido mais acelerada do que foi em Mato Grosso ou na Bahia, ainda que as carências estruturais perdurem. Na maior parte das fazendas das chapadas, não há rede fixa de telefonia e os celulares não pegam. As estradas principais são ruins, e as vicinais, de terra, tornam-se intransitáveis sob chuva forte. Os índices de desenvolvimento humano das cidades são baixíssimos.

 

No campo em si, a evolução é mais visível. Novas sementes adaptadas ao "Mapito" são lançadas todas as safras, o plantio direto prevalece e a agricultura de precisão avança. "Como toda a área de Cerrado, há condições para um forte desenvolvimento", afirma Marthaus. As lavouras da Insolo estão em altitudes de 500 a 550 metros, com topografia plana e média pluviométrica de 1.350 milímetros.

 

No "Mapito", aponta a Conab, a produtividade média da soja é maior em Tocantins - que produz menos (ver infográfico) -, prevista em 2.940 quilos por hectare em 2010/11. A média nacional deverá ficar em 2.927 quilos, e em Mato Grosso, principal Estado produtor do grão no país, ela sobe para 3.015. Mas, como há muitas áreas "jovens" e os investimentos em sementes, adubação, defensivos e mecanização estão aumentando rapidamente, a diferença certamente será cada vez menor.

 

Para acelerar os trabalhos, a Insolo conta com três campos experimentais, que no total recebem investimentos da ordem de R$ 300 mil por ano. O primeiro deles, estabelecido há seis anos, está na fazenda Pequena Holanda, em Alto Parnaíba (MA), que pertence a um dos clientes da Insolo Gerenciamento Agrícola, que presta assessoria para terceiros. São quase 8 hectares onde nesta safra foram testadas mais de 300 linhagens de soja, além de 30 híbridos comerciais de milho e ensaios de adubação e fitotecnia com algodão.

 

"Já temos um banco de dados com mais de dez anos de pesquisas", diz Marthaus. Uma vez por ano há um "dia de campo oficial" - o último na Pequena Holanda, em 18 de março, atraiu 85 convidados -, mas clientes e interessados podem realizar visitas informais, o que acontece com frequência.

 

De tanto transportar produtores e agrônomos e acompanhar visitas como essa, o comandante Canedo, com 22 mil horas de voo, conversa com espantosa desenvoltura agronômica sobre a expansão da produção 3 mil metros abaixo. Canedo vive em Balsas, principal polo maranhense, e passaria a última quarta-feira com a família, mas foi convocado às pressas para mais um voo de pouco mais de uma hora entre Palmas e Baixa Grande do Ribeiro. Não por luxo. De carro, seria preciso percorrer 910 quilômetros, o que, atualmente, levaria mais de 12 horas. O "Mapito" é grande. E não para de crescer.

 

Treinamento e benefícios asseguram mão de obra

Não são apenas as extensas áreas de produção, os campos experimentais para pesquisas e a frota com quase 300 máquinas que desafiam a administração da Insolo Agroindustrial. A administração da mão de obra da empresa, que já soma cerca de 400 pessoas, também requer atenção especial, e para cuidar desse exército o presidente e CEO da empresa, Salomão Iochpe, trouxe da Noruega o executivo Marcos Possão.

 

Aos 53 anos, Possão tem passagens pelos grupos Vicunha, Tyco, Fintink do Brasil e, mais recentemente, pelo norueguês Aibel. O cenário mudou. As plataformas de petróleo do Mar do Norte foram substituídas pelas lavouras do Piauí, mas o trabalho é o mesmo. Foram mais de 1.000 horas de treinamento no primeiro trimestre do ano, e os benefícios continuam em expansão.

 

Em todas as unidades produtivas da Insolo, há alojamentos que seguem as normas do Ministério do Trabalho e refeitórios - para quem não consegue usá-los, a companhia distribuiu vales. A empresa mantém ônibus para o transporte dos funcionários entre as lavouras e os municípios onde residem, e a assistência médica nacional oferecida cobre familiares e já atende a quase 800 pessoas. Há seguro de vida, apoio e incentivo a estudantes universitários e auxílio para cursos de idiomas. "Estamos avaliando também apoiar extensões universitárias", afirma ele.

 

Todos os funcionários estão incluídos no plano de remuneração variável da Insolo, e Possão se prepara para a implantação do Projeto Formare, há décadas criado pela Fundação Iochpe com foco na formação socioprofissional, pela primeira vez em uma atividade agrícola, não industrial. Também já foi implementado o conhecido sistema Six Sigma de melhorias contínuas.

 

Se tudo correr como Salomão Iochpe gostaria - e a depender das regras do novo Código Florestal, que poderá impor uma moratória de cinco anos à abertura de novas áreas de produção de grãos no país -, o trabalho de Possão vai aumentar. Tranquilo, já com residência estabelecida em Balsas (MA), ele torce para que a Insolo triplique mesmo sua área plantada até a safra 2013/14, como prevê o plano de investimentos, e espera novos batalhões para treinar.

 

Veículo: Valor Econômico


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