Questionada por acionistas, Natura revela estratégias

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Cosméticos: Empresa promete reduzir tempo de entrega de produtos, planeja uso de mídias digitais para vendas e estuda entrega direta aos clientes.

 

Annita Cohn Rosenberg (em pé), acionista minoritária e ex-consultora da companhia: "Quero saber o que estão fazendo com o meu dinheiro""Quero saber o que estão fazendo com o meu dinheiro", disse a bem-humorada Annita Cohn Rosenberg, de mais de 80 anos, ao ser questionada sobre o motivo da presença na assembleia de acionistas da empresa de cosméticos Natura, na sexta-feira. Acompanhada pelo marido deficiente visual, Annita viajou de ônibus do Rio para São Paulo para acompanhar o evento, que atraiu cerca de 250 pessoas na manhã do dia 8.

 

Muitos deles viajaram de outras cidades e Estados apenas por se sentirem prestigiados pelo convite, feito de forma "ostensiva", no dizer de um dos minoritários, em comparação com as tradicionais publicações de pequenos editais de convocação.

 

Como previa o diretor de governança da Natura, Moacir Salzstein, o encontro foi marcado por boas "provocações" ao presidente da companhia, Alessandro Carlucci, e também aos co-fundadores Luiz Seabra, Guilherme Leal e Pedro Passos, eleitos para mais um mandato no conselho.

 

A primeira acionista a se manifestar, Maria Helena Nachif, reclamou do tempo que leva entre a encomenda e a entrega dos produtos da Natura e questionou se não seria melhor a empresa abrir lojas, já que em momentos de "emergência" ela mesma acaba comprando produtos da concorrência.

 

Na resposta, o diretor-presidente, Alessandro Carlucci, reafirmou a confiança no sistema de venda direta, mas admitiu que é possível melhorar a logística e mencionou duas metas. A primeira, que deve ser cumprida em dois ou três anos, é reduzir pela metade o prazo médio de entrega, que hoje é de 14 dias.

 

Segundo ele, parte dos R$ 300 milhões que a empresa vai investir neste ano é voltada para melhorar a logística da companhia.

 

A segunda estratégia, traçada para o longo prazo e para qual não há planos detalhados, é ainda mais ambiciosa. "A ideia é reduzir o tempo de entrega da escala de dias para horas. A consumidora faz o pedido e recebe o produto até no mesmo dia."

 

Sem entrar nos detalhes, mas dando uma pista do que planeja, o executivo disse que a Natura quer usar mídias digitais para o relacionamento das consultoras com os clientes. "Já somos uma rede social há muito tempo, só não estamos conectados", disse.

 

Nesse tipo de negócio, a consultora continuaria a participar da venda de alguma forma e teria direito à comissão, mas a entrega dos produtos seria feita pela própria Natura.

 

O aumento do custo da entrega seria marginal, de acordo com Carlucci. Os mesmos veículos que hoje levam os produtos diariamente para as consultoras fariam a entrega direta para os clientes, embora em volumes menores.

 

Essa nova estratégia não substituiria o sistema atual de venda, em que as consultoras têm contato direto com os clientes. "Seria um modelo híbrido. Não vai acabar (o sistema de hoje), mas acreditamos que daqui a dez anos vai ter muita gente querendo (comprar por mídias digitais)."

 

Outros três acionistas, entre os quais a própria Annita, perguntaram se não havia como levar produtos da Natura para fora da América Latina, seja para os países bola da vez China e Índia ou até mesmo para Israel e Letônia, com base em casos de pessoas próximas dos investidores que gostam dos produtos da companhia.

 

Na resposta, o presidente do conselho de administração da empresa, Pedro Passos, sinalizou que o assunto está na pauta. "Fico feliz quando a gente escuta esse chamamento. Isso tem sido constante e é um sinal de que a marca atravessa fronteiras. Tenho certeza de que em breve vamos apresentar alguma proposta para os acionistas", afirmou ele.

 

Segundo Carlucci, existe sim um desejo da empresa de explorar outros mercados, mas isso não será feito de forma orgânica. "Fizemos isso na Argentina e vimos que é muito difícil começar uma operação do zero. Para irmos para a China ou Rússia, apenas como exemplo, é melhor achar um parceiro", disse o presidente, dizendo que essa condição impede a fixação de prazos.

 

Embora tenha atraído dezenas de acionistas para o evento na fábrica de Cajamar, próximo à capital paulista, a assembleia formal, que durou exatos 11 minutos, foi realizada na sede da empresa, em Itapecerica da Serra (SP), como exige a legislação, e transmitida ao vivo para os investidores em um telão. Dezessete minoritátios cumpriram todas as etapas de cadastramento no sistema de procuração eletrônica, mas apenas três votaram.

 

Veículo: Valor Econômico


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