Mas dados do setor ainda são robustos e a queda não pode ser vista como tendência para os próximos meses
Mesmo com a queda na margem, a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) mostra resultados robustos: alta de 8,2% tanto em relação a fevereiro de 2010 quanto no acumulado do ano e crescimento de 10,4% em 12 meses
A queda de 0,4% no comércio varejista em fevereiro, depois de nove meses de crescimento consecutivo, pode ser o prenúncio de expansão menos intensa neste ano, principalmente no segundo semestre. E mesmo com a existência desse cenário, para alguns analistas ainda é prematuro olhar os números como tendência, já que o mercado de trabalho segue a pleno vapor e a renda média em alta.
E o levantamento confirma isso. Mesmo com a queda na margem, a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), medida pelo IBGE, mostra resultados robustos: alta de 8,2% tanto em relação a fevereiro de 2010 quanto no acumulado do ano e crescimento de 10,4% no acumulado em 12 meses. “O comércio varejista está acomodando em patamar alto, mas não dá para falar em reversão de tendência. Janeiro e fevereiro concentram altos pagamentos de tributos e seria natural que as vendas caíssem um pouco, mas março volta à normalidade e o indicador deve ficar positivo”, diz a economista do Santander Tatiana Pinheiro, que projeta alta de 4,5% para comércio varejista em 2011 — crescimento em cima de uma base de comparação já forte: os 10,9% de 2010.
Na visão da economista do Santander, uma desaceleração de fato só deve começar a partir do final do segundo trimestre. “Primeiro devem ser afetados os bens duráveis, que dependem de crédito e, dependendo da condução da política monetária, poderemos ver queda em itens mais ligados à renda”, diz.
Na análise do Bradesco, no entanto, já aparecem sinais de desaceleração. Em relatório, o Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do banco indica que as taxas trimestrais anualizadas mostram variação de 4,8% para a PMC restrita e de 7,8% para a PMC ampliada (inclui veículos, motos e material de construção) — as menores taxas desde o começo do terceiro trimestre de 2010. “Para os próximos meses, as perspectivas para o varejo continuam favoráveis, mas vislumbramos alguma moderação adicional no ritmo de expansão dos indicadores da PMC, em linha com os impactos das medidas macroprudenciais adotadas recentemente, os efeitos remanescentes das medidas de dezembro e o aperto da política monetária”, avalia o Bradesco.
Otimista, o sócio da GS&MD — Gouvêa de Souza Luiz Goes projeta alta entre 6,5% e 7% para as vendas no varejo neste ano, com queda na margem em alguns meses em função da comparação com meses que foram muito bons em 2010. “Mas em fevereiro podemos dizer que ainda não sentimos muito efeito das medidas macroprudenciais do governo. O impacto deve vir mais à frente, no segmento de bens duráveis, mas não deve ser nenhuma queda fenomenal.”
Souza observa que a melhora na renda do brasileiro, que levou à maior sofisticação e ampliação nos itens de compras, aliado a uma visão de curto prazo, é que tem sido preponderante na performance do varejo brasileiro. “A velha máxima da ‘mensalidade que cabe no bolso’ continua valendo no Brasil.”
Veículo: Brasil Econômico