Makro muda forma de lançar descontos

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Gestão: Prática que considerava produto em estoque como venda feita também era adotada pelo Carrefour

 

A filial brasileira da rede Makro mudou a maneira como as verbas de bonificação - desconto que o varejista ou atacadista obtém na aquisição de mercadorias da indústria - são contabilizadas. A iniciativa contribuiu para a retração da margem bruta da empresa no ano passado, de 13,9% para 12,9%.

 

Na prática, é como se a atacadista comprasse da indústria, por exemplo, um lote de 100 produtos e recebesse por ele um desconto equivalente a 10 produtos. Esse desconto era contabilizado pelo Makro como receita, enquanto a mercadoria ainda estava em estoque. Na verdade, o valor só poderia ser considerado a partir da venda do produto na loja, como a empresa passou a fazer em 2010. "A mudança é mais saudável para o varejo", disse ao Valor o presidente do Makro no Brasil, o venezuelano Roger Laughlin, que assumiu o comando no início de 2010.

 

Caso semelhante aconteceu com a filial brasileira do Carrefour no ano passado, mas em maiores proporções. A prática levou a multinacional a arcar com uma perda de € 550 milhões no seu balanço de 2010, por causa do Brasil.

 

O Makro encerrou 2010 com lucro de R$ 38 milhões, 64% inferior ao resultado do ano anterior. Segundo Laughlin, no lucro de 2009 havia uma "provisão contábil" de mais de R$ 30 milhões relacionada a créditos tributários de Cofins e imposto de renda, que impactou positivamente o resultado.

 

Sem levar em conta essa provisão, o lucro do Makro em 2009 teria sido de R$ 75 milhões, diz Laughlin, o que representaria uma queda de 49% em relação a 2010. Esse recuo, segundo ele, é justificado pelos maiores investimentos em promoção, marketing e pessoal. Em marketing, o aumento da verba foi de 27%, para R$ 51 milhões. Em pessoal, houve a contratação de aproximadamente 500 funcionários, para integrar uma equipe que hoje é de 9,1 mil pessoas. "Estivemos empenhados em conquistar 'market share', o que também contribuiu para a diminuição da nossa margem bruta".

 

Em 2010, a empresa abriu apenas três lojas - hoje são 76 pontos. O total é bem inferior ao crescimento de concorrentes como Atacadão, do Carrefour, que inaugurou 12 lojas e encerrou o ano com 69 pontos de venda. O Assaí, do Grupo Pão de Açúcar, abriu nove lojas e fechou dezembro com 57 pontos. Para Laughlin, as redes não são concorrentes diretas. "Não somos 'atacarejo', nosso foco não é o consumidor final", afirma.

 

O executivo garante que o menor crescimento orgânico não compromete o desempenho do Makro. "Nossa receita líquida cresceu 13,5% no ano, para R$ 5,25 bilhões, acima da média do varejo apontada pela Abras [4,2%] e do que deve apontar a Abad", afirma o executivo, referindo-se, respectivamente, às associações nacionais de supermercadistas e de atacadistas.

 

Em novembro, em entrevista ao Valor, Laughlin havia afirmado que iria investir R$ 240 milhões em quatro novas lojas de atacado, 10 postos de combustível e 10 de conveniência. O plano dos investimentos se mantém e o valor pode ser até 10% maior, mas Laughlin tem dúvidas se é melhor abrir quatro lojas ou se dedicar a reformar as existentes.

 

"Temos lojas de 1972, quando o Makro chegou ao país", diz ele. "São muitos pontos com potencial de crescimento que precisam ser renovados". As mudanças envolvem, por exemplo, novos equipamentos de refrigeração, ar condicionado e novo layout.

 

Uma reforma completa, como a loja do Makro em Salvador, consumiu cerca de R$ 8 milhões. Um novo ponto de venda pode exigir investimento de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões. Em 2010, foram reformadas 15 lojas e, neste ano, o número deve ficar entre 20 e 25. Laughlin afirma que o Makro já tem terrenos para sete lojas, mas a decisão de construir ou não novos pontos ficou para julho.

 

Bonificação reduz lucro do Makro

 

Os resultados da rede de comércio atacadista Makro no Brasil pioraram no ano passado por causa de uma mudança na forma como as verbas de bonificação (desconto que o comerciante obtém em compras da indústria) são contabilizadas. A modificação, classificada como "saudável" pelo presidente da empresa no país, Roger Laughlin, contribuiu para a retração da margem bruta de 13,9% para 12,9%. Em 2010, o Makro encerrou o exercício com lucro de R$ 38 milhões, 64% inferior ao resultado do ano anterior. Caso semelhante aconteceu em 2010 com o Carrefour, que teve perdas de € 550 milhões no balanço por causa da operação brasileira.

 

 

Veículo: Valor Econômico


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