Vendas devem se manter aquecidas

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As vendas do varejo eletrônico vão se manter aquecidas até o final do ano, mesmo com a elevação dos juros e a valorização do dólar, prevêem especialistas em e-commerce. A perspectiva de ausência de reajustes de preços, pelo menos até o Natal, vai compensar a piora nas condições de financiamento, afirmam. A expectativa da E-bit, empresa de informações do setor, ligada à Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, é de incremento de 35% nas vendas em 2008 sobre o ano anterior, ante 10% do varejo tradicional.

 

A professora do Programa de Administração do Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA), Patrícia Vance, afirma que o maior número de lançamentos de produtos à venda na internet, principalmente no último trimestre, "acaba segurando os preços médios". O último levantamento do e-flation, do Provar -que mede os preços na iternet - mostrou deflação de 1,99% na primeira quinzena de outubro, na comparação com o mesmo período de setembro. "Nessa época, há muitos lançamentos e uma queima dos estoques com promoções", explica Patrícia.

 

O sócio-sênior e especialista em comércio eletrônico da consultoria Gouvêa de Souza & MD, Alexandre Horta, ressalta que os lançamentos chegam aos sites das varejistas com preços "cheios" e que, em seguida, começam a apresentar queda em seus valores. O e-flation de outubro apresentou quedas nas categorias de cine e foto (-4,9%), eletroeletrônicos (-3,4%), informática (-0,7%) e linha branca (-0,6%). Em setembro ante agosto, a mesma pesquisa também apontou deflação de 0,23%.

 

Concorrência. Para o diretor-geral do E-bit, Pedro Guasti, outro fator que vai impedir a alta dos preços na internet é a concorrência no setor. Ele lembra que em outubro o Wal-Mart lançou seu portal de vendas na web e que o Grupo Pão de Açúcar ampliou em R$ 40 milhões os investimentos em e-commerce até 2010. "Os sites não devem registrar repasses significativos nos preços, nem reduções drásticas nas condições de pagamento, pelo menos até o final do ano", diz.

 

Dados obtidos com o E-bit apontam um aumento das vendas à vista de produtos eletroeletrônicos, como televisores, DVDs e câmeras digitais, na internet - com alta de 22% para 26% da fatia total de pedidos na primeira quinzena de outubro ante o mesmo período de setembro. A representatividade de parcelas entre seis e 11 vezes de pagamento caiu de 31% para 25%. Já as prestações com prazos superiores a 12 meses cresceram, passando de 19% para 22%.

 

"As empresas com operações de crédito dilatadas vão começar a diminuir os prazos pela menor disponibilidade de capital barato para financiar as vendas aos consumidores", afirma Horta. Guasti, do E-bit, ressalta que a redução nas margens das empresas, pela pressão cambial e aumento nos juros, deve provocar a retração principalmente das vendas em mais de 12 vezes, ampliando-se as da faixa média de seis prestações. Ele diz, porém, que esse cenário se configurará principalmente a partir de janeiro.

 

Patrícia afirma que, mesmo com a piora nas condições de financiamento, o sentimento do consumidor continua em alta. Pesquisa do Provar registrou em outubro o maior índice de intenção de compras na internet da série histórica iniciada em janeiro em 2005. De acordo com o levantamento, que consultou 4,7 mil domicílios no Estado de São Paulo, 90,9% das pessoas que já realizaram compras na internet vão repetir a dose no último trimestre deste ano.

 

Tíquete médio. Apesar de os preços gerais estarem caindo, o E-bit registrou um aumento no tíquete médio dos produtos vendidos na internet na categoria de eletroeletrônicos, que passou de R$ 582 da primeira quinzena de setembro para R$ 621 no mesmo período de outubro. Enquanto isso, os preços médios de eletrodomésticos aumentaram entre setembro e outubro de R$ 720 para R$ 758.

 

O e-flation tem uma cesta fixa de produtos acompanhados, que é alterada duas vezes ao ano. Já o levantamento do E-bit inclui mensalmente os lançamentos, que têm preços maiores. A categoria de produtos ligada à informática, que inclui computadores e acessórios, registrou leve queda no valor do tíquete médio, que passou de R$ 685 para R$ 679.

 

Para o diretor do E-bit, essa retração reflete, em parte, a deflação nos preços dos itens relacionados à informática. "Os componentes importados ainda não foram totalmente repassados aos produtos. O comportamento incerto do dólar dificulta a negociação entre indústria e varejo", salienta Horta.

 

O final do ano é responsável por aproximadamente 20% das vendas totais do ano na internet, que vão atingir R$ 8,5 bilhões nesse ano, na projeção do E-bit. "Não estamos blindados contra a crise, mas temos agora a injeção do 13º salário e o Natal", avalia Guasti. Ele ressalta, inclusive, que as empresas vão reduzir suas margens para não perder vendas.

 

"A redução dos prazos e o aumento dos preços iria afastar o consumidor", resume a professora do Provar. Ela afirma que as empresas se mantêm competitivas no comércio eletrônico em função de preços. "A internet é um ambiente com muitas ferramentas de busca e o cliente acessa os que apresentam as melhores condições." Segundo o Provar, os maiores crescimentos nas intenções de compras para o último trimestre em relação ao mesmo período do ano passado foram de produtos de informática (8,9%), telefonia e celular (7,3%) e eletroeletrônicos (6,9%). Já a maior queda foi de 12,3% na intenção de compra de CDs, DVDs, livros e revistas.

 


Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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