Ao contrário do que tradicionalmente ocorre, os preços da celulose de fibra curta nas próximas semanas não deverão acompanhar o reajuste de US$ 30 por tonelada anunciado por produtores para a fibra longa e permanecerão estáveis em relação ao mês passado. A expectativa, da Fibria e de analistas, é a de que as cotações da fibra curta, especialidade das companhias brasileiras, consolidem o aumento anunciado em abril, também de US$ 30 por tonelada, sem descontos relevantes, porém sem viés de alta no curtíssimo prazo.
"Estamos encontrando maior pressão na China", disse a analistas o diretor comercial e de logística internacional da Fibria, João Felipe Carsalade, durante encontro da direção da companhia com investidores e profissionais do mercado financeiro nos Estados Unidos, na quarta-feira, no chamado "Fibria Day".
"Foi a única região em que encontramos alguma dificuldade para subir preços." No mês passado, as maiores produtoras mundiais de celulose branqueada de eucalipto aplicaram reajuste nas cotações de referência de todos os mercados e o preço lista da fibra chegou a US$ 880/tonelada na Europa, US$ 930 a tonelada na América do Norte e US$ 780/tonelada na Ásia.
Neste ano, as fábricas de celulose branqueada de eucalipto vão operar com taxa média de ocupação de 91%
Haveria ao menos duas razões para a maior resistência dos chineses a novos reajustes: de um lado, as papeleiras asiáticas estariam enfrentando dificuldades para reajustar seus preços no mercado interno; e de outro, mais uma vez os chineses estariam especulando com estoques. No médio prazo, contudo, a região ainda é vista como o mais importante gatilho para o crescimento dos negócios globais de celulose, em razão dos elevados investimentos para produção de papel sem que o abastecimento interno de matéria-prima consiga acompanhar.
O prognóstico para os preços da fibra curta é positivo no médio prazo. Até meados do próximo ano, nenhuma fábrica voltada a esse tipo de celulose entrará em operação, o que contribuirá para um aperto ainda maior entre oferta e demanda. De acordo com estimativa do canadense PPPC (Pulp and Paper Products Council), que reúne produtores de papel e celulose, neste ano as fábricas de celulose branqueada de eucalipto vão operar com taxa média de ocupação de 91%. No ano que vem, esse índice deve alcançar 94%.
Outro indicador que gera otimismo na indústria de celulose se refere ao crescimento da demanda mundial de papel. Entre 2010 e 2025, conforme projeção da consultoria especializada RISI, a taxa de expansão deve ficar em 3,1% ao ano. No mesmo intervalo, calcula a empresa, a cada ano, haverá adicional de 1,8 milhão de toneladas de celulose de mercado (aquela que é vendida para terceiros). "Ou seja: se considerada a linha média de crescimento, haverá espaço para uma nova fábrica de celulose por ano até 2025", comentou o presidente da Fibria, Carlos Aguiar. "Mas nada é linear e é preciso disciplina na oferta de mais produto."
Entre 2012 e 2013, pelo menos três novas fábricas de celulose de fibra curta entrarão em funcionamento, e todas na América do Sul. No país, a Eldorado Brasil, projeto controlado pelo grupo JBS Friboi, pretende iniciar as operações de uma unidade com capacidade para 1,5 milhão de toneladas por ano em Três Lagoas (MS) no segundo semestre do ano que vem. Em 2013, é a vez da Suzano Papel e Celulose dar a partida em um novo empreendimento, com 1,4 milhão de toneladas anuais. E, por fim, Stora Enso e Arauco devem começar a produzir no Uruguai ao ritmo de 1,3 milhão de toneladas por ano.
Entre analistas que acompanham o setor, o receio é de que a oferta volumosa de matéria-prima, em um intervalo de tempo relativamente curto, possa pressionar de forma significativa as cotações da celulose. "Por isso é preciso disciplina. Antes de decidirmos pela duplicação em Três Lagoas, vamos analisar com cuidado o mercado", acrescentou Aguiar. A Fibria planeja instalar uma segunda fábrica na unidade sul-mato-grossense, com capacidade para 1,5 milhão de toneladas por ano, com data de início de operação originalmente agendada para 2014.
Veículo: Valor Econômico