Leite acumula alta e litro passa de R$ 2

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No início do mês de abril o litro do leite em Sorocaba custava, em média R$ 1,97, valor que saltou para R$ 2,14 no começo de maio, aponta o Laboratório de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade de Sorocaba (Uniso). O coordenador do laboratório, o economista e professor Manuel Payés, lembra que o leite não tem substituto e dificilmente pode deixar de ser consumido. Por isto, avisa ele, o consumidor terá de preparar o bolso pois o movimento de alta deve continuar durante os próximos meses. O cenário de alta, segundo o professor, é consequência do período de estiagem e temperaturas mais baixas. Isto acontece pois com menos pasto, o gado leiteiro diminui também a produção diária.

 

Os dados da universidade, tanto sobre a alta atual como a projetada para os próximos meses, são rebatidos pela direção da Cooperativa Laticínios Sorocaba (Colaso), que produz 220 mil litros de leite por dia. O diretor da empresa, Antônio Julião Damásio, afirma que o mercado teve uma leve alta causada também pela alta de insumos mas já voltou à normalidade. Damásio diz não vislumbrar alta nos preços do produto. Ele destaca o início da safra em outras regiões produtoras do País, como os Estados do Sul do Brasil, por exemplo. Antônio afirma que com o produto vindo de outros mercados não haverá problemas de oferta em São Paulo.


 
Pressão de alta


 
Apesar das altas terem começado recentemente, o leite já pressiona o bolso do consumidor e o preço final da cesta básica. O estudo da cesta básica sorocabana - divulgado mensalmente pela universidade - mostra que este ano o leite foi o quarto produto com maior alta, acumulando 12,62% de aumento. Para a realização do estudo os preços são acompanhados semanalmente. Neste cenário o leite também se destaca entre as elevações de preço tendo ficado 7,5% mais caro nos últimos 30 dias.

 

"Essa alta é sazonal. O leite é um produto que depende do clima. Com o início da estiagem, ou seja, sem as chuvas, o pasto fica mais pobre", explica Payés. Com alimentação mais fraca as vacas diminuem também a produção diária de leite. Assim, a oferta do produto também sofre queda durante este período.

 

Mercado normalizado
 


A alta do leite não é reconhecida pelo diretor da Colaso, Antônio Julião Damásio. Ele afirma que os produtos mais caros na prateleiras devem ser consequência ainda de estoques comprados a preços mais altos. "Tivemos sim uma alta que já foi normalizada. Não concordo com a projeção de alta que está sendo feita", rebateu ele referindo-se aos dados da Universidade de Sorocaba.

 

O diretor da cooperativa destaca que a alta foi causada pelo início da entressafra mas, segundo ele, o mercado já está normalizado. "Agora no dia 15 vamos começar a safra no Sul (do Brasil) que tem prazos diferentes da safra no sudeste e no centro-oeste", pondera o diretor. Damásio cita ainda o aumento nos insumos da criação de gado. "Tivemos alta no preço do milho e da soja. No transporte tivemos impacto com o encarecimento do diesel", comentou ele. Assim, a majoração do produto também foi influenciado pela alta dos insumos.
 


Aumento de 10% e migração de marca
 


No supermercado Coop do bairro Árvore Grande o litro do leite de caixinha varia de R$ 1,89 a R$ 2,56. O gerente da unidade, Augusto César Joaquim, explica que no início do mês a loja recebeu o produto com aumento de 10% aproximadamente. "O aumento foi por parte do fornecedor e não tivemos como segurar um repasse parcial deste reajuste", explicou o gerente. Segundo ele, com o início do período de estiagem, o produto tende a ficar mais caro.

 

"A nossa bacia leiteira é baseada no gado de pasto e, nesta época, com menos chuvas tem uma queda na oferta", pondera ele. Como o leite é considerado alimento essencial na mesa do brasileiro, o consumidor não deixa de comprar o produto. "Nessas épocas o que vemos é uma migração de marca. O consumidor deixa de comprar a marca que ele está acostumado e passa para uma mais em conta", explica Joaquim.

 

Para manter a fidelidade do consumidor a loja costuma fazer ofertas e procura negociar com fornecedores tendo a quantidade comprada do produto como ferramenta de barganha. Diminuir a margem de lucro e absorver parte do aumento são estratégias usadas pelos comerciantes. Nos estabelecimentos o leite é tido como um atrativo para o consumo de outros produtos, então, a diminuição do lucro é forma de fidelização de clientes.

 

Produto não pode faltar, dizem consumidores

 

O leite é um alimento que não pode faltar à mesa do sorocabano. O encarregado de ferramentaria, Marcos Paes de Almeida, 38, conta que em sua casa são consumidos 36 litros de leite por mês. Ele explica que são quatro crianças. O mais novo, de dois anos, consome uma marca específica. "A dele a gente não deixa faltar. Pode estar o preço que for que compramos por conta da qualidade. Acho importante na idade dele", diz referindo-se ao filho mais novo, de dois anos. Os outros, de 9, 11 e 14 anos, consomem marcas variadas. No final das contas, o gasto mensal ultrapassa os R$ 50.

 

A migração de marca é um comportamento típico dos consumidores em épocas de entressafra. "Não tem como não tomar leite. É um alimento importante. Em casa a gente consome um litro por dia. Se está muito caro a gente procura outra marca", afirma a professora Lilian Renata de Oliveira Pontes, 27. Junto com o marido, o torneiro mecânico Márcio Ribeiro Pontes, 29, ela comenta que fazer pesquisa e aproveitar promoções são estratégias para não sofrer com o impacto das altas típicas dos períodos de tempo frio.

 

"A gente sabe que está aumentando, então a gente procura preços mais em conta e compra mais de uma caixa", esclarece Márcio. Apesar de haver migração de marca por grande parte dos consumidores, alguns não abrem mão da qualidade acostumada. Este cenário é encontrado sobretudo em famílias menores, onde o consumo de leite não é tão intenso. O professor universitário Evaldo Teixeira Calado, 58, e sua esposa não abrem mão das marcas de costume. "Somos só nós dois em casa. Acho que podemos nos dar este pequeno luxo", diz o professor. Ele observa ainda que há pouca diferença de preço entre as marcas. "A que gostamos é coisa de dez centavos mais cara que a mais barata. Acho que compensa", finaliza.

 

Preço Médio Semanal (Cx. 1L)

 

01/03/2011 - 1,92
08/03/2011 - 1,92
15/03/2011 - 1,94
22/03/2011 - 1,95
29/03/2011 - 1,94
05/04/2011 - 1,97
12/04/2011 - 1,99
19/04/2011 - 2,04
26/04/2011 - 2,09
03/05/2011 - 2,14
10/05/2011 - 2,14

 

Veículo: Jornal Cruzeiro do Sul - Sorocaba-SP


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