Companhia muda parcelamento de compras e negocia estoques e pagamentos com fornecedores
Aumento da participação das vendas com juros, redução do prazo médio de parcelamento e readequação do pagamento aos fornecedores são alguns dos esforços do grupo Pão de Açúcar para reduzir o impacto das despesas financeiras em seu resultado. No primeiro trimestre de 2011, as despesas financeiras líquidas foram de R$ 325,7 milhões ante R$ 101,2 milhões no mesmo período do ano passado, época em que os números da Casas Bahia ainda não haviam sido incorporados ao balanço da empresa.
Para o analista do Santander, Tobias Stingelin, o aumento das despesas financeiras foi o “grande vilão” do resultado trimestral da companhia. Rafael Cintra, analista da Link Investimentos, concorda. “As vendas estão crescendo de maneira consistente, mas as despesas financeiras estão em um patamar elevado”, diz.
Na tentativa de reverter esta situação, a varejista mexeu na forma de pagamento do cliente. Existe, por exemplo, um esforço para aumentar a venda com juros. Atualmente, as vendas sem juros da Globex, que inclui as operações de Ponto Frio e Casas Bahia, representam 50% do total. Quando a companhia comprou o Ponto Frio, em2009, este percentual era de 67%.
Na divisão GPA Alimentar, que engloba as bandeiras de supermercados, postos de combustíveis, drogarias, atacarejo e conveniência, 55% das vendas são realizadas semjuros. No terceiro trimestre do ano passado, elas representavam 75%.
Menos prazo
A varejista também quer reduzir o prazo médio de pagamento, o qual chegou a ser de 10 meses e hoje está em oito. Este raciocínio vale, por exemplo, para o consumidor que tem um limite pré-aprovado em seu cartão de crédito. “Percebemos que para este cliente não adianta vender em 20 parcelas ou em 10 vezes sem juros. Se ele tem limite aprovado de R$ 2 mil para comprar uma TV pode tranquilamente pagar a compra em oito vezes de R$ 250. Para ele não faz diferença”, diz Hugo Bethlem, vice-presidente executivo do grupo Pão de Açúcar. “Quanto mais o prazo médio for reduzido, menor será o impacto das despesas financeiras no resultado do grupo”, completa. No entanto, para o cliente que não tem este crédito no cartão, a tendência é expandir o prazo. “Para este consumidor o que importa é se o valor da parcela cabe no bolso. Ele não pode, por exemplo, comprar o televisor emdez vezes,mas consegue pagá- lo em doze parcelas com um pequeno juro ”, afirma.
Negociação com fabricantes
Grandes varejistas como o Pão de Açúcar têm fama de durões durante as negociações com a indústria. E a tendência é que estas conversas encrespem ainda mais. Atualmente, a Globex trabalha comumestoque de dois meses e um prazo médio de pagamento junto aos fornecedores de 51 dias. Dessa forma, a empresa fica nove dias, digamos, no negativo, os quais representam cerca de R$ 50 milhões.
“Acabamos financiando estas empresas”, diz Bethlem.
A saída para ajustar esta conta está em diminuir a quantidade de estoque ou esticar o prazo de pagamento. Os fabricantes de móveis, por serem pequenos e com pouca estrutura comparados às grandes indústrias, serão os que mais vão sentir estas mudanças.
Veículo: Brasil Econômico