A inflação no forno

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Com trigo em alta, moinhos ameaçam reajustar de 10% a 12% os preços da farinha, que subiu 5,16% este ano. Pães de forma e francês, biscoitos e massas vão ficar mais caros

 

A alta dependência do Brasil do trigo importado, combinada aos estoques reguladores baixos do produto no país e aos preços mais altos da commodity na comparação com o ano passado, lançam nova fonte de pressão sobre os preços dos derivados da matéria-prima na mesa do consumidor. Depois do sinal vermelho aceso pela alta da farinha de trigo superior à inflação de janeiro a abril em Belo Horizonte, a indústria de moagem do trigo avisa que o repasse é insuficiente. Na queda de braço com as indústrias de massas e de panificação, os moinhos alegam que não sustentam mais adiar repasses de 10% a 12% de aumento dos custos que estaria represado, de acordo com as empresas do setor.

 

Ingrediente básico na fabricação de pães, bolos, biscoitos e macarrão, o trigo produzido no Brasil só cobre metade das necessidades de consumo interno e, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra brasileira será 9,6% menor em 2011, alcançando 5,3 milhões de toneladas. O consumidor já sentiu no bolso um reajuste médio de 5,16% da farinha de trigo nos primeiros quatro meses deste ano em Belo Horizonte, conforme pesquisa da Fundação Ipead/UFMG. No mesmo período, a inflação acumulou 4,47%. Os gastos 5,57% maiores com o pão de forma também superaram a inflação, retratada no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). As massas e o pão de sal sofreram correções no varejo, mas ainda bem abaixo da variação geral do custo de vida, de 0,86% e de 1,39%, respectivamente.

 

Os moinhos, agora, prometem elevar a temperatura das negociações com a indústria nas próximas semanas. “Será inevitável. Só teremos trigo brasileiro em setembro e a tendência da matéria-prima de qualidade é de alta no mercado internacional”, afirma Christian Saigh, diretor do Moinho Santa Clara e vice-presidente do Sindicato da Indústria do Trigo de São Paulo. O grão está na entressafra brasileira. Em Minas, toda a produção, de 90 mil toneladas, da safra passada, já foi comercializada, conforme informações da Secretaria de Estado de Agricultura e Pecuária. A indústria de moagem repassou entre 3% e 5% do aumento de custos observado neste ano, de acordo com Christian Saigh.

 

A concorrência é que está segurando os repasses de preços sobretudo nos moinhos que conseguiram fazer estoques maiores, conforme Lincoln Gonaçalves Fernandes, presidente do Conselho de Política Econômica da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e sócio do grupo Carfepe, propreitário do Moinho Sete Irmãos. “Este ano, a subida dos preços tem se mostrado mais intensa e não podemos nos esquecer de que o Brasil decidiu reduzir a sua política de estoques reguladores de grãos para diminuir custos, Isso traz efeitos sobre o mercado”, afirma.

 

QUEDA DE BRAÇO A briga não será fácil com a indústria de massas e de pães. O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Massas (Abima), Domingos Costa, proprietário da Massas Vilma e do Moinho Vilma, de Contagem, na Grande BH, diz que ainda há estoques para evitar grandes oscilações nos preços do trigo. “Portanto, não acreditamos em alterações que possam ser representativas para o consumidor”, diz o industrial. Os panificadores também vão resistir às pressões, na avaliação de José Batista de Oliveira, vice-presidente da Associação Mineira da Indústria de Panificação (Amipão) e da Associação Brasileira do setor (Abip).

 

“Há, de fato, um movimento inflacionário que muito desagrada a indústria da panificação e é injustificável, num cenário de taxa cambial extremamente favorável às importações”, rebate Batista de Oliveira. O industrial diz que o setor já absorveu ajustes nas compras de farinha de trigo neste ano e está pagando mais pela mão de obra, que se tornou escassa. “As empresas não têm mais condições de absorver novas pressões de custos”, afirma.

 

O consumidor tem o papel de rejeitar os aumentos, alerta Wanderley Ramalho, diretor-adjunto da Fundação Ipead. O pãozinho de sal começa mal este ano, tendo em vista que o produto foi reajustado em 12,95% no ano passado, mais que o dobro da inflação de 5,68% também medida pela Fundação Ipead. Analistas do setor de trigo verificaram aumento ao redor de 10% das cotações do grão de boa qualidade. Em Minas, o trigo pão (o de melhor qualidade) foi vendido na faixa de R$ 540 por tonelada neste ano, frente ao patamar de R$ 490 a R$ 500 em 2010, informa Lindomar Lopes, coordenador do Comtrigo, programa mineiro de incentivo aos produtores.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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