O futuro da subsidiária brasileira do francês Carrefour ainda é incerto. Grupos como Pão de Açucar (GPA), Cencosud e Walmart e um dos sócios do GPA, Abílio Diniz, já demonstraram interesse na compra da companhia, porém até o momento ninguém efetivamente apresentou proposta.
O negócio enfrenta alguns obstáculos. A Knight Vinke, companhia de gestão de ativos e acionista do Carrefour, questionou, em carta endereçada ao conselho de administração do gigante varejista francês, a lógica na venda de operações no Brasil. "A venda de atividades não europeias do Carrefour, uma por uma e de uma maneira isolada, não parece ser uma boa solução", destacou a carta da Knight, que possui 1,5% do capital do Carrefour.
A Knight vai além: "Qualquer projeto desse tipo poderá constituir uma distração adicional para a administração do Carrefour em um momento ruim".
Segundo a companhia, o Carrefour deveria focar em suas lojas de hipermercado na Europa antes de embarcar em qualquer outro projeto de grande porte. O investidor apoia os planos do Carrefour de dividir a cadeia de desconto Dia, mas se opôs ao projeto de vender ativos imobiliários, que foi adiado indefinidamente.
Porém analistas do mercado apostam em uma maior sinergia entre GPA e Carrefour para alavancar os negócios de ambas no Brasil. Maior poder de negociação, melhoria das margens, sinergias de distribuição.
Essas são algumas das vantagens mais citadas para justificar a eventual fusão entre o Grupo Pão de Açúcar e o Carrefour. Mas a associação que começou a ser desenhada há duas semanas traz também desafios. Um deles é que o negócio reforça a aposta de ambas no setor de hipermercados, um formato para lojas menores.
O problema é que, juntos, o Pão de Açúcar e o Carrefour somarão 1.400 lojas em todo o País. E boa parte delas são hipermercados - muitos fisicamente próximos. No grupo de Abílio Diniz, o peso dos hipermercados vem caindo. Em 2009, o formato respondeu por 44% das vendas líquidas. No ano passado, a fatia baixou para 35%. Parte disso é efeito do salto de 243% das vendas da Globex no total do grupo, mas o ritmo de expansão da bandeira Extra Hipermercados (9,5%) é menor, por exemplo, que o do Pão de Açúcar (12,8%) e do Assaí (48,5%).
Outra versão é que o empresário Abílio Diniz, filho do fundador do Grupo Pão de Açúcar poderia assumir as operações brasileiras do Carrefour, já que pelo o que tudo indica, a partir de 2012, o grupo francês Casino que hoje detém 50% do controle do grupo, pode assumir o comando da companhia e o filho do fundador ficaria fora do controle da maior rede varejista do País.
Lembrando que em 2005, Diniz tirou toda a sua família do capital do Grupo Pão de Açúcar (seus filhos inclusive) e vendeu 50% do controle da companhia para o grupo varejista francês Casino, com o qual já possuía um acordo acionário desde 1999.
Arbitragem
Depois de a imprensa levantar essa bola, o francês Casino, sócio do brasileiro Abílio Diniz no Pão de Açúcar, recorreu à Câmara Internacional de Comércio (ICC), pedindo uma arbitragem contra a família Diniz para que o grupo cumpra os acordos fechados em novembro de 2006. No entanto, Diniz divulgou carta negando a arbitragem. Em comunicado ele afirma não saber de nada. "Até o momento, não recebi qualquer comunicação a respeito do pedido de arbitragem. Informo, ainda, que não descumpri qualquer disposição dos acordos de acionistas arquivados na Companhia, nem dos demais contratos celebrados entre os acionistas controladores", explica o sócio.
Segundo fontes do mercado, as conversas com o Carrefour ocorrem enquanto a família Diniz se prepara para discutir o exercício de opção do Casino para adquirir o controle total do Pão de Açúcar, que se torna válido em junho de 2012 quando teoricamente Diniz deixa o cargo que ocupa no GPA.
Enquanto o Carrefour estuda as possibilidades que lhes foram apresentadas, um dos sócios do GPA, Abílio Diniz parece que não visitou apenas a França atrás de novas compras. Tudo indica que ele também antes de conversar com o Carrefour, Diniz já se havia aproximado do Makro, na tentativa de comprar a operação brasileira do atacadista holandês. E tem mais parece que para todos os passos que vem dando fora dos olhos do Casino ele contaria com o apoio da família Klein, da Casas Bahia.
Isso também seria outro motivo do mal-estar entre o Casino e o sócio brasileiro do Grupo Pão de Açúcar. Segundo fontes de mercado tudo isso veio à tona após várias tentativas no último ano de Diniz que tentou renegociar por diversas vezes a cláusula do acordo de acionistas, que garantia ao Casino o direito de assumir o controle do Grupo Pão de Açúcar e nomear um dirigente a partir de 22 de junho de 2012. Enquanto se aprofundam as divergências entre o Casino e Diniz, o Carrefour resolveu na assembleia da última terça-feira aguardar por um potencial acordo com Diniz ou com o grupo Pão de Açúcar (Companhia Brasileira de Distribuição, ou CBD), caso a joint venture entre o brasileiro e o Grupo Casino venha se desintegrar.
Veículo: DCI