A sueca Tetra Pak desenvolve no Brasil embalagens mais baratas para facilitar o acesso a produtos como leite e suco em países emergentes
A mudança na balança do poder econômico mundial está refletida diretamente no faturamento da sueca Tetra Pak. Há dez anos, 55% do faturamento da fabricante de embalagens vinha da Europa. Em 2010, a fatia europeia nas receitas era de 40%. Como o potencial de crescimento no consumo está concentrado nos países em desenvolvimento, é bem provável que a importância do "velho continente" para a companhia venha a cair ainda mais nos próximos anos.
Hoje, os dois principais mercados individuais para a Tetra Pak são o Brasil e a China. Os dois países respondem, cada um, por uma parcela de 13% da receita da empresa, que somou quase 10 bilhões no ano passado. Por isso, diz o vice-presidente executivo da Tetra Pak, Nils Björkman, os esforços da inteligência da empresa visando a ampliação do consumo de embalagens longa vida estão concentrados nas nações emergentes.
Em 2010, a Tetra Pak vendeu 11 bilhões de embalagens no Brasil. Contando apenas com a expansão "normal" da economia, o mercado cresce entre 5% e 6% - reflexo direto do aumento da renda das famílias, que passaram a consumir mais produtos como leite, iogurte e sucos prontos. Para "turbinar" a expansão ainda mais, elevando o consumo atual em cerca de 20% (ou pelo menos 2 bilhões de unidades), a empresa aposta suas fichas na redução de preços das embalagens de 1 litro - as mais consumidas localmente - em pelo menos 30%.
Seu trunfo é usar o modelo sem pontas dobradas das embalagens de 200 ml (as do suco Kapo, da Coca Cola, por exemplo) nas caixinhas de 1 litro. O protótipo já foi desenvolvido. Segundo Paulo Nigro, vice-presidente da Tetra Pak para a América do Sul, uma embalagem mais em conta acarreta a redução no preço final do leite e do suco pronto - com isso, a classe D, ainda pouco representada nessas categorias, passaria a contribuir mais para as receitas da Tetra Pak.
Nível mundial. Björkman observa, no entanto, que o desenvolvimento de embalagens mais baratas não é uma necessidade exclusiva para o Brasil. A experiência com o modelo sem pontas dobradas de 1 litro, que chegará ao mercado brasileiro no fim deste ano, deve ser levado a outras nações nos próximos anos. "Grandes mercados ao redor do mundo, como a Índia, têm um contingente de consumidores muito sensível ao fator preço", afirma.
De acordo com o executivo, o papel da filial brasileira no desenvolvimento de embalagens usadas em nível mundial é grande: hoje, segundo ele, as prateleiras dos supermercados brasileiros oferecem uma variedade maior de caixinhas do que os franceses ou os alemães. "O desenvolvimento é rápido, o público está mais exigente e as novidades estão sempre focadas na conveniência", afirma. Embora a "vedete" do mercado local ainda seja a versão de 1 litro, o País já desenvolveu produtos de sucesso no exterior - entre eles, um dos menores recipientes confeccionados em papel cartão, de 80 ml.
Concorrência. Os resultados da Tetra Pak no Brasil já despertaram o interesse de outros grandes grupos de embalagens, como o suíço SIG Combibloc, que inaugurou semana passada uma fábrica em Campo Largo (PR), a menos de 100 km de uma das unidades da Tetra Pak no País, em Ponta Grossa. A unidade receberá investimento de 90 milhões (ou US$ 130 milhões) até 2013.
A fábrica, que foi inaugurada para produzir 1 bilhão de embalagens, deverá ter a capacidade duplicada nos próximos dois anos. A estratégia da SIG para a operação local é a mesma da Tetra Pak: a maior parte da produção deverá ficar no mercado interno, com o excedente exportado para países da América do Sul. "Nossa fábrica já nasce com a capacidade totalmente tomada. A expansão só não será feita antes por causa do prazo de entrega das máquinas", explica Luciana Galvão, gerente de marketing da empresa suíça.
Para evitar a perda de terreno para a concorrência, a Tetra Pak afirma que trabalha com uma "margem" de ociosidade em suas fábricas - em Ponta Grossa e em Monte Mor (SP) - de quase 10%. Hoje, as vendas totais a partir do Brasil somam 14 bilhões de unidades - incluindo 3 bilhões exportados -, mas a capacidade instalada é de 15 bilhões. A expansão da produção é planejada ano a ano: no período de 2009 a 2011, o valor médio investido pelo grupo na operação brasileira foi de US$ 45 milhões.
Veículo: O Estado de S.Paulo