'Guerra' vai definir o padrão da TV 3D

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Fabricantes disputam a tecnologia que vai dominar mercado da imagem tridimensional

 

Há verdadeira guerra entre os dois maiores fabricantes mundiais de televisores: a Samsung e a LG Electronics, ambas coreanas e arquirrivais. A disputa, que parece estar chegando ao fim, deverá determinar o futuro do mercado mundial de televisores 3D. O vencedor deverá ficar com a maior fatia do mercado e sua tecnologia poderá ser adotada pela maioria dos fabricantes.

 

Até aqui, o mercado de TV 3D não decolou. Seus resultados em 2010 foram frustrantes para a indústria. A expectativa era de que fossem vendidos 30 milhões de televisores 3D, ou 12% do total de aparelhos comercializados no mundo (248 milhões). Foram vendidos, porém, apenas 3 milhões de aparelhos, um décimo da estimativa.

 

A indústria, entretanto, revela otimismo surpreendente e aposta em explosão nas vendas em 2011: um crescimento de 1.000% ante o ano anterior, expectativa excessivamente ambiciosa.

 

O sonho dos fabricantes é repetir em âmbito doméstico o sucesso do cinema 3D, com os filmes Avatar e Alice no País das Maravilhas e que a produção de aparelhos 3D alcance algo próximo a 30% da produção mundial por volta de 2015. Em 2010 não chegou sequer a 1,5%.

 

Para alcançar esse porcentual, a TV 3D precisará vencer cinco barreiras: 1) preço elevado; 2) conteúdo escasso; 3) aversão de muitas pessoas pelo uso de óculos especais; 4) falta de opções em 3D em TV aberta (broadcasting) e por assinatura; 5) falta de padronização da tecnologia de óculos e de monitores.

 

1. Preços. Os consumidores das classes A e B relutam em pagar de US$ 1,5 mil a US$ 3 mil por televisores de 42 a 55 polegadas.

 

2. Conteúdo. O mundo compraria mais televisores 3D se houve mais filmes, documentários e programas da TV aberta nessa tecnologia. Raros filmes de boa qualidade, disponíveis em tecnologia Blu-Ray disc 3D, são caros.
A disponibilidade maior de programas em 3D é de jogos para garotos e adolescentes. Em Los Angeles, há no máximo uma dúzia de filmes para TV 3D em Blu-Ray à venda. Há poucos meses, os primeiros discos de Avatar 3D eram vendidos a US$ 100. Só agora os preços estão caindo abaixo de US$ 70. Mesmo assim, não entusiasmam a maioria dos consumidores, que prefere pagar de US$ 25 a 40 por Blu-Ray discs 2D, com bom conteúdo e excelente imagem de alta definição (2D).

 

3. Óculos ativos. Um dos grandes problemas da popularização da TV 3D está nos efeitos colaterais dos óculos ativos ultrassofisticados, que usam baterias e microespelhos, adotados por alguns fabricantes, entre os quais Samsung e Sony.

O problema é reconhecido pelos próprios manuais dos fabricantes, cujas advertências são assustadoras. Entre outros problemas, lembram que usar esses óculos por mais de duas horas pode causar náuseas, tonturas, câimbras e olhos ardente. Um dos conselhos é não dirigir após ver TV 3D por mais de uma hora.

 

4. Atraso. A TV ainda não descobriu o mundo 3D. Raras são as emissoras de TV aberta (ou por assinatura) que oferecem programas 3D em broadcasting ou por cabo. No Brasil, a Rede TV é uma dessas poucas que transmite programas no canal 9.2 em 3D.

Amilcare Dallevo Jr., presidente da Rede TV, proclama: "Fomos a primeira emissora do mundo a transmitir regularmente em 3D". Nos EUA, o número de emissoras com programação regular em 3D chega a 20, num universo de mais de 1.500. As redes de TV por assinatura também oferecem opções de programas regulares em 3D e começam a transmitir grandes eventos esportivos.

 

5. Padronização. Enquanto o cinema já adotou padrão consensual liderado por Hollywood, a indústria de TV ainda vive uma guerra de tecnologias de 3D nos monitores e nos óculos.

Óculos. Num horizonte de cinco a dez anos, não serão necessários óculos especiais para TV ou cinema 3D, segundo previsão de especialistas. Hoje, 99% dos televisores 3D exigem óculos. A exceção é a japonesa Toshiba, que tem opção de TV 3D sem óculos. Mas essa tecnologia ainda não alcançou maturidade, pois exige posicionamento do espectador em frente ao televisor. Qualquer mudança de posição prejudica o efeito tridimensional.

 

O mundo conta hoje com duas tecnologias adotadas pela maioria dos televisores 3D: a de óculos ativos e a de passivos. Os ativos são alimentados por baterias e dotados de milhares de lentes microscópicas que abrem e fecham dezenas de vezes por segundo, chamado de cintilação ou flicking - espécie de pisca-pisca para possibilitar a percepção de imagens 3D. Os olhos recebem alternadamente as imagens que dão a sensação 3D.

 

Desenvolvida pela LG, a tecnologia dos óculos passivos é parecida com a usada no cinema 3D. Por isso, tem nome comercial de TV Cinema 3D. A vantagem dos óculos passivos é o fato de não apresentarem o inconveniente da cintilação da imagem.

 

Os primeiros televisores com essa tecnologia serão lançados em julho no Brasil. Daniel de Almeida, diretor de tecnologia da LG Electronics Brasil, diz que "a experiência de assistir TV 3D com óculos passivos, sem bateria e sem o uso das lentes é muito diferente, pois é mais confortável: as imagens são muito mais estáveis e permitem boa visão em ângulos mais amplos".

 

Confronto. Por iniciativa da LG e sem a participação da Samsung, foi promovido em 1º de junho em Los Angeles o confronto das duas tecnologias, numa demonstração dos recursos de ambos os formatos. Diante de plateia de cineastas e jornalistas, foram exibidos filmes e clippings com os melhores televisores de cada fabricante para serem vistos com óculos ativos e passivos. Visualmente, os resultados do sistema TV Cinema 3D foram convincentes: óculos passivos são mais confortáveis e os efeitos colaterais bem menores.

 

O TV Cinema 3D traz a superposição de uma película que introduz forma de atraso na amostragem do filme, em inglês, Film Patterned Retarder (FPR).

 

A película FPR tem função de aprimorar a separação de imagens para o olho direito e o esquerdo. A seguir, são combinadas com ajuda dos óculos 3D passivos (mesma tecnologia usada nos cinemas), projetados especialmente para receber cada imagem, criando experiência tridimensional mais confortável.

 

Outra vantagem é a conversão automática das imagens 2D em 3D - embora com qualidade pouco menor que as imagens originalmente geradas em 3D, mas com boa sensação de profundidade. Ao adquirir uma TV de 55 polegadas com essa tecnologia, o comprador ganha quatro óculos passivos sobressalentes, que pesam apenas 16 gramas.

 

A apresentação da tecnologia TV Cinema 3D e o confronto com a tecnologia de óculos ativos foram conduzidos em Los Angeles por Humberto de Biase, diretor de marketing da LG Electronics Brasil em evento realizado paralelamente ao Festival do Filme Brasileiro de Hollywood.

 

A demonstração ressaltou não apenas a qualidade, mas a estabilidade da imagem, em confronto com a dos óculos ativos. Na opinião da maioria da plateia, a nova tecnologia praticamente elimina efeitos colaterais da visão prolongada de TV 3D, não provocando tonturas, ardor nos olhos ou outro mal-estar. A partir de agora, a guerra tende a definir-se entre um dos dois formatos patrocinados por Samsung e LG, seguidas por outros fabricantes.

 

A americana Vizio, produtora de TVs e de produtos eletrônicos e os fabricantes chineses de TVs aderiram à nova tecnologia. Os executivos da LG estão desde março tentando atrair a Sony - empresa que compra os painéis e monitores da Samsung.

 

Reação. A Samsung contra-ataca com televisores estereoscópicos e óculos ativados a bateria, e acusa a LG de usar tecnologia velha, de 35 anos, que entrega apenas metade do potencial de resolução e da alta definição (1080 pixels) dos filmes de cinema.

 

De fato, a LG utiliza imagens de 540 pixels em cada olho. A empresa alega que o cérebro soma essas duas imagens de 540 pixels para produzir uma imagem de 1080 pixels, com o mesmo padrão de alta definição do Blu-Ray disc.

 

Nessa guerra, a LG tem desafiado a Samsung para demonstrações públicas dos dois sistemas, mas ela até agora não aceitou.

 

Diante de reclamações de clientes, a Samsung diz que está criando novos óculos, mais confortáveis, dando ainda dois pares grátis na compra de qualquer modelo e cobrando apenas US$ 50 por óculos extras.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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