Funcionário do Casino em supermercado na França, onde o grupo tem concorrência acirrada com o CarrefourSe uma fusão entre Carrefour Brasil e Pão de Açúcar for concretizada, será um negócio muito bom para o grupo francês. Mas a americana Walmart pode reagir e fazer oferta alternativa para adquirir todos os ativos de Carrefour na América Latina, avaliam diferentes analistas na Europa.
Financeiramente, boa parte dos analistas acha que a avaliação relativa é favorável para o grupo Pão de Açúcar, mas o Carrefour se beneficiará de sua fatia de sinergias.
Matthew Truman, do J.P. Morgan Cazanove, nota que o Carrefour tem negócio mais fraco do que o Pão de Açúcar, tanto em lucro como fatia de mercado, e está efetivamente "vendendo" seu negócio no Brasil para uma nova companhia por 8,6 vezes o EV/Ebitda (valor da empresa/ lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização).
Em contrapartida, o Carrefour estará pagando fisicamente apenas 5,4 vezes antes das sinergias por 17% de parte incremental do grupo, oferecendo forte criação de valor desde o início, estimado em até R$ 1,8 bilhão sobre todo o acordo. No pós-sinergia, isso significaria apenas 3,3 vezes o EV/Ebitda. No total, isso é materialmente abaixo dos múltiplos estabelecidos para o mercado latino-americano de alimentos no varejo.
Cristopher Hogbin, da BernsteinResearch, firma de pesquisa famosa de Wall Street, calcula que apenas a parte de 'sinergia capitalizada" de Carrefour poderia exceder seu custo de aquisição. Usando múltiplo conservador de 7 vezes, sua conclusão é clara: como o negócio atual de Carrefour contribui com um terço da nova companhia (tanto em vendas como em Ebit), mas deterá 50% do controle, o grupo francês receberá efetivamente a diferença de 16% a "custo zero".
A questão é se a sinergia estimada de € 700 milhões é crível. Isso representa 2,2% do faturamento combinado das duas companhias (€ 31 bilhões). Analistas tendem a achar que o plano é possível, pelo potencial de aumento de barganhas nas compras, redução de custos administrativos e logísticos e poder de preço a partir de posição forte no mercado.
Do ponto de vista estratégico, analistas destacam a importancia do mercado varejista no Brasil com crescimento de 5% ao ano e devendo continuar nesse ritmo no médio prazo. O acordo proposto cria um campeão nacional com € 33 bilhões de vendas, € 2,1 bilhões de Ebitda (6,4%) e 28% de fatia do mercado de alimentos no Brasil.
Para Carrefour, o Brasil representaria 37% das vendas do grupo e os emergentes como um todo fariam € 47 bilhões de vendas. As vendas no Brasil combinadas com Ásia e mais outras áreas na América Latina representariam 41% do total, comparado a apenas 27% vindo dos emergentes atualmente.
Para Truman, do J.P. Morgan Cazenove, o grupo francês estará comprando uma posição de líder, colocando-se confortavelmente à frente do Walmart (11%).
O acordo proposto deixa o Walmart em posição difícil no Brasil, e analistas acham que isso pode levar a companhia americana fazer ofertas alternativas. "Não excluímos uma oferta defensiva em dinheiro do Walmart por todos os ativos de Carrefour na América Latina", diz Jaime Vasquez, do Santander, em Madri. Ele calcula que a oferta poderia girar em torno de € 12 bilhões.
Analistas preveem período prolongado de negociações, diante da resistência de Casino. Se vender sua participação, o grupo pode pegar € 3 bilhões, mas sairia com prejuízo no investimento, acha Truman. O sentimento é que o Casino vai tentar assegurar um melhor acordo, e alterações na proposta não podem ser excluídas.
Em todo caso, a expectativa é que Abilio Diniz usará seu poder de pressão para arrancar apoio do Casino. Estima-se que Diniz possua R$ 2 bilhões em imóveis, alugados para o Pão de Açúcar, o que significa pelo menos R$ 80 milhões por ano de renda. Se o Casino resistir, Diniz poderia aumentar o aluguel e colocar o sócio no córner.
A visão generalizada na Europa é que, com a participação do BNDES na proposta, dificuldades com a política de concorrência poderiam ser facilmente evitadas.
Em todo caso, insistem que integrar dois negócios com faturamento combinado anual de mais de € 30 bilhões e Ebitda de € 2 bilhões não será tarefa fácil, como mostram as histórias de fusão no setor varejista.
Veículo: Valor Econômico