Estudo aponta pouca sobreposição de loja

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Em avaliação a ser enviada ao Cade, consultoria também destaca redução de custos e repasse ao consumidor.

 

A união entre o Pão de Açúcar e o Carrefour vai afetar menos da metade das cidades brasileiras onde as duas redes estão presentes, permitir o envio de produtos brasileiros para o exterior e diminuir os custos das duas empresas, o que pode levar a redução nos preços aos consumidores.

 

Esses argumentos devem ser levados ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) assim que o negócio for fechado. Eles fazem parte de um estudo preliminar sobre os efeitos da fusão à concorrência.

 

A análise foi feita por especialistas contratados pelas consultorias financeiras que atuaram na modelagem da fusão. Uma vez fechado o negócio, eles pretendem alegar aos conselheiros do Cade que a união não vai representar uma redução das três principais redes de supermercados para duas, restando apenas o Walmart como forte competidor.

 

Esse ponto é crucial, pois, nas fusões e aquisições em que o órgão antitruste verificou essa redução de três para duas, as empresas sofreram restrições em seus negócios ou mesmo tiveram a operação reprovada. No caso Nestlé - Garoto, por exemplo, o Cade entendeu que a união da segunda com a terceira empresa de chocolates do país iria prejudicar a concorrência, pois apenas a Kraft, dona da marca Lacta, teria condições de competir. Ao fim, o Cade concluiu que o negócio levou à formação de um duopólio no mercado de chocolates e vetou à operação.

 

Segundo a análise feita pelos especialistas, o Walmart é um concorrente "forte o suficiente para manter os preços em nível baixo". Mas eles vão além e dizem que "a expansão de concorrentes já instalados é plausível e provável no curto prazo". Ou seja, outras redes têm capacidade para crescer e fazer frente a uma possível fusão entre dois dos líderes do mercado brasileiro.

 

A análise preliminar diz que o Pão de Açúcar e o Carrefour dividem lojas em 70 municípios. É menos da metade das 180 cidades em que ambos atuam. Em apenas 25 cidades, a concentração seria superior a 50%. E nos 70 municípios onde ambos estão presentes, há outras grandes redes, como o Walmart, que "oferece pressão competitiva suficiente em uma parte significativa dos municípios".

 

Outra alegação é a de que a maioria dos fornecedores não depende exclusivamente de Carrefour ou do Pão de Açúcar para vender os seus produtos. As duas redes respondem por menos de 3% das vendas da Ambev e menos de 7% das vendas da Nestlé. Esse cenário seria o mesmo para a maioria dos fornecedores do Pão de Açúcar. Ele demonstraria que os fornecedores têm diversas alternativas para escoar os seus produtos e dependem pouco das duas grandes redes.

 

A sinergia entre as duas redes é vista de modo a reduzir "de forma significativa os custos de Carrefour e, portanto, aumentar a rentabilidade dos acionistas sem que ocorra aumento de preços aos consumidores".

 

Com relação aos consumidores, os especialistas indicam que as empresas terão custos menores de distribuição, gestão e relacionamento com fornecedores. "As sinergias podem ser facilmente repassadas aos consumidores na forma de baixos preços, maior variedade de produtos e um maior número de lojas."

 

Essa expectativa sobre o comportamento dos preços, após a fusão, será fundamental na análise do Cade. O órgão antitruste não costuma acreditar que, por ter custos mais baixos, as empresas vão simplesmente reduzir o que cobram dos consumidores. Mas, serão feitos estudos tanto da parte do Cade quanto das empresas para estimar uma possível redução ou até eventuais aumentos nos preços dos produtos.

 

A análise das consultorias indica ainda que o negócio com o Carrefour vai permitir que produtos brasileiros tenham um canal a mais para chegar no mercado externo, em particular o francês.

 

Ontem, o Cade adiou a conclusão do julgamento da compra da rede Sendas pelo Pão de Açúcar. Esse caso pode retornar à pauta na próxima sessão, em 13 de julho. O órgão antitruste também está analisando a união entre o Pão de Açúcar, o Ponto Frio e as Casas Bahia, mas ainda não há prazo para esse caso ser julgado.

 

A compra da Sadia pela Perdigão, e a consequente criação da BRF- Brasil Foods, pode retornar ao plenário do Cade em 13 de julho. Nesta semana, representantes dessas empresas estiveram com conselheiros do Cade discutindo a venda de ativos para impedir um eventual veto à compra da Sadia.

 


Veículo: Valor Econômico


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