Diante de tantos obstáculos ao lance surpreendente de Abilio Diniz, empresários e advogados questionavam ontem o real objetivo da proposta de união do Pão de Açúcar com o Carrefour.
Um comentário que circulou ontem no empresariado sustentava que Abilio sabe das dificuldades para ver sua estratégia vencedora e que a operação, na pior hipótese, poderá servir para pressionar o sócio Casino e levá-lo a renegociar, em outras bases, o acordo assinado em 2005.
Além de se comprometer a ceder o controle à rede francesa no ano que vem, Abilio tem compromisso de não concorrência.
Por essa versão, o empresário tentaria convencer o sócio a fazer um novo acordo, sob o argumento de que seria melhor evitar uma longa e desgastante disputa judicial -ainda mais com dinheiro do banco estatal à mesa e tantas dificuldades.
A oferta só tem chance de prosperar se o BNDESPar se dispuser a colocar bilhões de reais -um valor diferente, segundo cada ator da operação. E, no BNDES, diz-se que, se o imbróglio com Casino prosseguir, o banco estatal ficará fora.
Casino, por sua vez, dá mostra de que não aceitará o descumprimento do acordo de acionistas. Há ainda o aumento da concentração com risco de prejuízo a consumidores e a fornecedores.
Até para ser coerente, dado o rigor demonstrado no caso Sadia e Perdigão, o Cade não poderá aprovar a operação, comentava-se ontem em rodas de empresários.
No Pão de Açúcar, pessoas que participam das negociações sustentam que a união das redes dará eficiência ao negócio e melhor preço a consumidores.
"É um ganha-ganha para todos", diz uma pessoa próxima de Abilio.
Quanto ao risco de veto do Cade, um levantamento da empresa mostraria que, das 178 cidades em que Pão de Açúcar e Carrefour estão presentes, apenas em um terço há concentração acima de 30%, "que é o que o Cade não aprova". E isso poderia ser revisto pela companhia.
Veículo: Folha de S.Paulo