A 25 dias da assembleia de acionistas que deve reunir Abílio Diniz e Jean-Charles Naouri, os sócios seguem trocando farpas sobre o destino do Grupo Pão de Açúcar (GPA). Dia 2 de agosto está marcada a reunião de ambos os executivos, porém até lá a novela pela fusão, ou não, do GPA com o Carrefour tende a ganhar ainda mais acidez. À imprensa francesa, Diniz disse que havia avisado, em dezembro, o presidente do Casino sobre o plano de fusão com o Carrefour. A jornais do Brasil, Naouri afirmou que desde 2009 sofre pressões do empresário brasileiro para alterar cláusulas do contrato firmado em 2005, segundo o qual os franceses podem controlar a rede de supermercados a partir de 2012.
"Eu não acho que Jean-Charles será contrário a esse projeto, que é bom para todo mundo", opinou Diniz a Le Figaro, um periódico da França. Em entrevista a publicações brasileiras, no Rio de Janeiro, Naouri deu a entender que Diniz não abre mão do controle do GPA, e portanto pressiona o Casino para aceitar a união com o Carrefour. O empresário francês, que considera a proposta uma "expropriação" que o vitima, afirmou que só falará com o brasileiro na assembleia da Wilkes (controladora do GPA), marcada para o dia 2 de agosto.
Caso o Pão de Açúcar e o Carrefour venham a se tornar uma companhia só, como deseja Diniz, o Casino perderá a chance de controlar as operações brasileiras do GPA.. Porém, dividirá o comando da nova empresa e participará do capital de seu maior concorrente na França, o Carrefour, que já aprovou a fusão. Dizem os favoráveis ao negócio que ela trará benefícios a acionistas, clientes e fornecedores."Minha intenção é de discutir isso com ele [Naouri] e convencê-lo. Não acho que fracassarei", declarou Diniz ao Le Figaro. Com uma semana de atraso, a contar do pedido do Casino, o empresário brasileiro agendou nesta semana a assembleia do grupo Wilkes, que controla o Pão de Açúcar.
Amigo de políticos do Partido dos Trabalhadores (PT), Diniz havia obtido apoio do governo, na voz do ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento), e do Banco Nacional do Desenvolvimento Social (BNDES), presidido por Luciano Coutinho, para engrenar seu projeto monopolista. Depois, entretanto, os representantes públicos deram para trás, em face de críticas. Declararam que, em primeiro lugar, os sócios franco-brasileiros devem entrar em acordo. Ontem de manhã, as comissões de Fiscalização Financeira e Controle e de Relações Exteriores, na Câmara dos Deputados, aprovaram um requerimento que convida Coutinho a explicar a eventual participação do BNDES (estimada em R$ 4,5 bilhões) na realização do negócio articulado por Diniz. A audiência não tem data e o presidente do banco não precisa comparecer, mas o caso ilustra o furor público contra o uso de recursos nacionais numa jogada corporativa.
Impasse jurídico
Com direito garantido de exercer controle sobre a holding Wilkes, ou seja, ter 50% mais uma das ações do grupo, a partir de junho do ano que vem, o grupo Casino tem a possibilidade de prolongar até essa data o seu posicionamento contrário à fusão. Dessa forma, é capaz de evitar a diluição do poder que já detém sobre as operações da rede brasileira. A empresa francesa divulgou comunicado, esta semana, em que diz pretender a antecipação do controle sobre a Wilkes. O Casino chegou a crer numa quebra de contrato que o levaria ao comando do GPA neste ano, com base na justificativa de que a convivência com o sócio, Diniz, se tornou difícil após o caso.
O advogado Daniel Alves Ferreira, que estudou o contrato de Pão de Açúcar e Casino, disse ao DCI que a antecipação é impossível. "Não há essa condição no acordo", afirmou. Por outro lado, de acordo com Diniz, mesmo que o Casino assuma o controle do GPA em 2012, o empresário brasileiro terá direito de indicar os futuros dirigentes da companhia, ainda que perca sua cadeira no conselho de administração do grupo. Tal condição estaria prevista no contrato.
Miniblog
Usuário assíduo do Twitter, onde costuma publicar informações práticas sobre academias de ginástica, Abílio Diniz usou ontem o miniblog para reafirmar sua defesa em prol da fusão que ficou conhecida por "Carreçúcar". No começo do dia, ele publicou o link de um artigo que defende o casamento franco-brasileiro. "O potencial negócio deve ser visto pelo prisma de todos os acionistas e da companhia", defende o artigo, em referência ao Casino. "Abílio não hesitou em abrir mão de direitos pessoais ao defender a proposta", continua, sem explicar quais "direitos pessoais" foram estes. Para concluir, o texto reconhece: "Ele [Diniz] ganhará muito mais com os lucros da [nova] empresa". O autor da publicação, Eduardo Rossi, presta consultoria a uma das empresas que pertencem à família Diniz, a Península Participações.
Veículo: DCI