As temperaturas baixas e o tempo seco registrados em Minas Gerais estão comprometendo a oferta de pastagem e promovendo a redução da captação de leite no Estado. De acordo com o Índice de Captação (Icap-Leite), elaborado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), foi identificada queda de 3% na captação de maio em Minas.
A tendência para os próximos meses é de manutenção dos resultados negativos em relação à oferta de leite no Estado. Devido à menor oferta, no mês passado, os preços pagos aos pecuaristas de leite tiveram incremento médio de 3,21% no Estado.
Os maiores preços do leite em junho foram observados nos estados em que a captação reduziu com mais força como em Minas Gerais. No Estado, a média de preços ficou em R$ 0,8646 por litro, com elevação de 3,2% ou 2,7 centavos por litro. A maior alta foi identificada nas regiões Sul e Sudeste, com incremento de 5,39% e preços máximos de R$ 0,94 e mínimos de R$ 0,80.
Indústria - O impacto do aumento do leite para os produtores ainda não afetou significativamente os resultados da indústria láctea do Estado. De acordo com o diretor executivo do Sindicato da Indústria de Laticínios de Minas Gerais (Silemg), Celso Costa Moreira, o início da safra de leite no Sul do país e o aumento das importações provenientes do Uruguai e Argentina contribuem para minimizar os impactos promovidos pela redução da captação no Estado.
O principal setor industrial afetado pelo aumento dos custos com o leite in natura é o de queijos, que também enfrenta a maior concorrência com os produtos importados. As negociações do mercado internacional com os brasileiros é crescente devido à valorização do câmbio, o que incrementa as importações de queijos. Já o mercado do leite longa vida se mantém estável. Os investimentos nas ampliações, diversificação das linhas de produtos e reformas das indústrias lácteas de Minas foram mantidos.
"As indústrias que, durante o período de entressafra, conseguem negociar a compra de leite de outros estados estão conseguindo manter o rendimento. A tendência para os próximos meses é de aumento da oferta do produto, devido ao início da safra de leite no Sul do país. Outro ponto que tem favorecido o desenvolvimento das indústrias lácteas de Minas são as vendas para outras regiões, como a Nordeste. Nestas localidades a demanda por produtos com maior valor agregado, como iogurtes e leite e pó, é crescente", disse Moreira.
A tendência de aumento da oferta de leite no país já foi identificada pelo Cepea. Em maio, a produção de leite no Sul do país, que é ponderado pela participação dos três estados, aumentou 4,5% de abril para maio. Em Santa Catarina, a produção subiu quase 8%, no Rio Grande do Sul, 6,4% e, no Paraná, o avanço foi um pouco menor, de 0,5% no período. O aumento na produção de leite no Sul do país se deve às pastagens de inverno na região (aveia e azevém).
Para os próximos meses, a expectativa é que a produção de leite continue aumentando no Sul do Brasil, podendo ter o pico em agosto. Esses agentes estão fundamentados nas condições climáticas favoráveis ao cultivo de aveia e azevém neste ano.
Já nos demais estados acompanhados pelo Cepea, houve recuo do ICAP-L entre maio e abril. A maior redução na produção, de 5,3%, foi observada em São Paulo, seguida pela baixa de quase 5% em Goiás. Em Minas Gerais e na Bahia, a diminuição foi em torno de 3%.
Na média brasileira que é calculada considerando-se todos os estados pesquisados (Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia e Santa Catarina), a captação registrou queda. O Icap-L de maio/2011 ficou 1,03% inferior ao de abril/2011 e 2% menor que o de maio/2010. De janeiro a maio, o ICAP-L registra queda de 1,5% frente a igual período do ano passado.
A menor oferta de leite no Sudeste e no Centro-Oeste continuou impulsionando o preço pago aos produtores de todos os estados acompanhados pelo Cepea no país. A média nacional de junho (referente à produção entregue em maio) foi de R$ 0,8645 por litro (valor bruto), aumento de 3% (2,5 centavos por litro) em relação ao mês anterior. Em termos reais, ou seja, descontando a inflação, o valor de junho/2011 ficou 5% acima da média de junho/2010.
De acordo com o Cepea, a tendência em relação aos preços pagos aos produtores para os próximos meses é de estabilidade. Além da maior oferta de leite do Sul, os fatores que podem pressionar as cotações são as importações elevadas e o mercado de queijos mais enfraquecido.
Por outro lado, os preços de leite UHT no atacado permaneceram praticamente estáveis em junho, o que pode fazer com que os valores ao produtor fiquem firmes. Os investimentos no rebanho podem ser limitados nos próximos meses, isto devido aos custos da produção leiteira, que neste ano estão em torno de 10% mais elevados que os do mesmo período de 2010. O incremento se deve à valorização do concentrado milho e farelo de soja.
Unificação de ICMS - Além da elevação dos preços do leite in natura e dos custos de produção, o maior desafio para o desenvolvimento do setor industrial é conseguir a unificação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), que hoje possui alíquotas diferenciadas entre os produtos locais e recebidos de outros estados. A ideia é que a taxa cobrada em ambos os produtos sejam equivalentes, o que ampliará a competitividade entre as empresas, favorecendo os produtos de melhor qualidade.
"Em alguns estados, por exemplo, enquanto o produto local é isento do ICMS, os derivados provenientes de outros estados chegam a ser taxados em até 18%. Estamos em negociação com as secretárias de Fazenda dos estados produtores para que ocorra uma unificação na cobrança", disse Moreira.
Veículo: Diário do Comércio - MG