A maioria dos pais passou pelo menos uma noite na vida procurando freneticamente uma mamadeira limpa, misturando e esquentando leite em pó e esperando esfriar até a temperatura adequada - tudo isso enquanto tentava acalmar um bebê faminto. A Nestlé, a empresa que transformou suas máquinas domésticas de café expresso Nespresso em uma divisão de US$ 3,9 bilhões, acha que tem como ajudar: uma pequena máquina Nespresso só para as crianças.
A nova máquina BabyNes da empresa suíça esquenta cápsulas de leite em pó Nestlé, eliminando os grumos que às vezes se formam quando se mistura leite em pó, e despeja uma quantidade exata numa mamadeira deixada em espera. Pode ser operada com uma só mão, deixando a outra livre para lidar com a criança aflita.
Essa praticidade não sai barato. O BabyNes - que estreou no mercado suíço em maio e vai ser comercializado em âmbito mundial a partir de 2012 - custa US$ 300. As cápsulas de leite em pó Nestlé próprias para a máquina custam o triplo do preço do café expresso lacrado da empresa. O uso diário do BabyNes aumenta em US$ 650 o custo anual de uma nova boca a alimentar, comparativamente ao leite em pó tradicional, segundo cálculos da Bloomberg.
Susanne Seibel, analista do Barclays Capital, considera que o BabyNes é um produto para famílias sem restrições orçamentárias e que não vai se tornar de uso generalizado de imediato. Isso pode explicar por que a Nestlé - a maior empresa de produtos alimentícios do mundo - está começando na Suíça, onde uma em cada dez famílias tem um patrimônio de mais de US$ 1 milhão, segundo o Boston Consulting Group. "Não há sensibilidade ao preço quando o assunto são bebês", diz Seibel. "As pessoas até tendem a ultrapassar ligeiramente o limite."
O BabyNes reforça as fileiras dos produtos caros e sofisticados desse segmento que vão desde os carrinhos Bugaboo, que custam US$ 979, para todos os tipos de superfície, até um aparelho de US$ 29,95 que esquenta lenços umedecidos antes que eles toquem a pele dos bebês. Entre os produtos dessa área mais vendidos da Amazon.com estão um monitor de vídeo em cores, a US$ 139, e o aspirador nasal NoseFrida Snotsucker, comercializado a US$ 14,54.
As vendas anuais das máquinas BabyNes poderão alcançar 500 milhões de francos suíços (US$ 600 milhões) dentro de dois anos, estima Jon Cox, analista da Kepler Capital Markets de Zurique. O sistema, que livra de apuros, também poderá contribuir para prolongar o tempo que os pais dão leite em pó aos bebês antes de iniciá-los na ingestão de comida sólida, diz ele.
Ansiosa por reeditar as taxas de crescimento das vendas anuais do Nespresso, de 40%, a Nestlé está fabricando máquinas que preparam chá e até "smoothies" (uma espécie de vitamina ou milk-shake de frutas). Ao vender as máquinas e cápsulas exclusivas on-line, a empresa suíça "prende" os clientes a suas marcas e elimina intermediários.
A Nestlé concorre com a Béaba, a fabricante francesa do Bib'expresso, que custa cerca de metade do preço do BabyNes e não aprisiona os pais a uma única marca de leite em pó. A publicidade pode ser uma dificuldade maior, no entanto, uma vez que o código de marketing da Organização Mundial de Saúde (OMS) para leite em pó e fórmulas para bebês recomenda que os países proíbam a promoção de substituto ao leite materno.
A Nestlé é alvo de boicotes desde 1977, quando um grupo chamado Infant Feeding Action Coalition disse que os bebês estavam morrendo nos países em desenvolvimento, onde as mães diluíam excessivamente o leite em pó para fazer com que durasse mais, ou o misturavam a água contaminada.
Martin Grieder, que trabalhou por oito anos na Nespresso antes de chefiar a divisão de leite em pó, diz que a Nestlé adota o código da OMS. Uma porta-voz diz que a Nestlé segue as diretrizes em 152 mercados "de alto risco", como China, Índia e Rússia. Em países de baixo risco, como os Estados Unidos, a empresa segue a legislação nacional, que pode ser mais liberal. O site e o manual do usuário do BabyNes dizem aos consumidores que a amamentação é a melhor opção.
Para contribuir para aumentar as vendas, a Nestlé permite que os compradores devolvam uma máquina BabyNes dentro de 30 dias, caso não gostem. Na tentativa de atender às preocupações com custo, a Nestlé também planeja autorizar os consumidores a alugar os aparelhos ou a devolvê-los por cerca de 30 francos suíços (cerca de US$ 36) assim que o bebê crescer e deixar de precisar deles. Mesmo assim, nem todos os pais estão convencidos que o BabyNes seja um produto obrigatório. "É gasto desnecessário", diz Andrea Pantoja, mãe de uma garota de 21 meses de Genebra. "Para fazer uma mamadeira de leite em pó, não se precisa mais do que esquentar água."
Veículo: Valor Econômico