A disputa ocorrida ontem, pela concessão, à iniciativa privada, de cinco lotes de rodovias paulistas, envolvendo R$ 8 bilhões de aportes totais nestas vias e quase R$ 3,5 bilhões de outorga (espécie de entrada que assegura o direito a concessão), viu maior concorrência nos trechos que vão demandar menor volume de investimentos, e um número menor de participantes nos lotes considerados "estratégicos" pelas empresas. O setor presenciou a peleja entre nove grupos, com cinco vencedores distintos, ao passo que assistiu à volta do Grupo Norberto Odebrecht ao segmento, desde que deixou a Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), ao levar a cara Rodovia Dom Pedro I por uma outorga de R$ 1,34 bilhão.
O processo licitatório indicou a preocupação com a possível escassez de crédito no mercado, por conta da crise econômica, o que norteou a estratégia das participantes, que tiveram de correr atrás de grandes instituições financeiras para tornar possível o pagamento, especialmente dos 20% prévios do valor total da outorga, necessários no ato da assinatura dos contratos.
"Esperávamos pouca disputa pelo lote que levamos, por conta dos investimentos robustos necessários, em meio a um cenário de crise de liquidez", comentou Geraldo Villin, diretor de Investimentos da Odebrecht, ao salientar que apesar de não ter levado o lote Marechal Rondon Oeste, em que também concorreu, o Grupo ficou com a fatia esperada do bolo de licitações. O Grupo conseguiu a Rodovia D. Pedro I, por proposta única, já que a Triunfo Participações e Investimentos deixou a última concorrência, depois de ter ganho a anterior, da Rodovia Ayrton Senna/Carvalho Pinto - uma das mais disputadas.
Pela Rod. D. Pedro I, a Odebrecht, por meio das empresas Odebrecht Infra-Estrutura e Odebrecht Serviços de Engenharia e Participações, terá de desembolsar outorga superior a R$ 1,3 bilhão, sendo 20% no ato do contrato e o restante em 18 meses, fora o aporte de R$ 2,41 bilhões para os próximos 30 anos de concessão. Como parceiro, no início do processo, a empresa recorreu ao Banco Santander. O deságio (referência negativa do teto para a tarifa de pedágio) ofertado pelo Grupo foi 6,01% e tarifa de R$ 0,101414 por quilômetro - o menor do dia.
Concorrência
O lote mais concorrido do leilão foi o da Rodovia Marechal Rondon Oeste, sendo a segunda outorga de valor mais baixo, e teve sete propostas inscritas. O trecho foi levado pela BR Vias, que é composta por duas empresas do grupo nacional Compote. O presidente da concessionária, Martus Tavares, ex-ministro do Planejamento, analisou que o lote conquistado institui uma sinergia com a Transbrasiliana (BR 153), que corta o Estado de São Paulo, administrada atualmente pela empresa. "Como a rodovia está duplicada e em boas condições, já esperávamos uma competição forte", como disse.
Para a concessão da Marechal Rondon, a outorga foi fixada em R$ 411 milhões, com aportes médios de R$ 1,3 bilhão no trecho de 243 quilômetros. Disputaram, ainda, este lote, o consórcio Invepar OAS, a Equipav S.A., a Triunfo, Autorondon, Cegens Rodoeste e o Grupo Odebrecht.
Litoral
No caminho que divide a preferência dos usuários com a Nova Dutra, da CCR, um dos trechos rumo ao litoral norte paulista, o lote Airton Senna Carvalho Pinto, foi o segundo mais requisitado, e quem levou foi a concessionária Triunfo Participações, ao apresentar um deságio de 54,9% em relação ao teto estipulado pelo Governo, ao apresentar tarifa de R$ 0,0488560 por quilômetro. "Teremos R$ 200 milhões de empréstimo ponte do Votorantim para viabilizar essa proposta", contabilizou Carlos Botarelli, CEO da Triunfo, que já havia perdido o lote da Raposo Tavares, desistido do da Marechal Rondon Leste, e, em seguida ao levar a Ayrton/Carvalho, retirou a proposta feita pela Dom Pedro I.
O lote conquistado pela Triunfo, de outorga mais baixa (R$ 594 milhões), terá aporte na casa dos R$ 903 milhões, para 142 quilômetros. Botarelli, atento, crê que a crise financeira internacional deixa as condições para obtenção de recursos "proibitivas", com a instituição de espécie de garantia de 1,5% para conceder o financiamento necessário para a efetivação da concessão.
Veículo: DCI