Videira já chora a perda da marca Perdigão

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Acordo entre a Brasil Foods e o Cade, que suspendeu a marca, foi mal recebido na cidade catarinense e em municípios vizinhos, que temem o impacto da mudança na economia da região
 


O acordo que resultou em suspensão temporária no uso da marca Perdigão caiu como uma bomba em Videira, cidade de 47.294 moradores, no meio-oeste de Santa Catarina, a 453 quilômetros de Florianópolis.

 

Autoridades e população acreditam que, ao aceitar as restrições exigidas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a Brasil Foods (BRF) prestigiou a Sadia e deixou em segundo plano a empresa que entrou com mais vigor econômico na fusão.

 

Há um temor de que as vendas de ativos, exigidas pela decisão do Cade, se concentrem nas áreas de atuação da Perdigão. Em Videira, cidade declarada por lei estadual de 11 de dezembro de 2002 o "Berço da Perdigão", já se fala na desativação das unidades de abate de suínos e codornas e no fechamento de uma fábrica de ração.

 

O acordo provocou também um clima de apreensão em outros municípios do meio-oeste catarinense que têm suas economias fincadas na avicultura e suinocultura, como Joaçaba, Herval do Oeste, Capinzal e Lages. Mais de 5 mil granjas integradas dependem diretamente da empresa.

 

Pelo acordo entre a BRF e o Cade, nove categorias de produtos com a marca Perdigão não poderão ser comercializados por um período entre três e cinco anos.

 

Terão de ser vendidas dez fábricas, oito centros de distribuição, quatro abatedouros, quatro fábricas de ração, doze granjas de matrizes de frangos e dois incubatórios de aves, além de doze marcas menores, mas o prazo para a venda não foi revelado. Para ex-funcionários, o desmonte já começou a ocorrer na região.

 

"Vão desativar o abatedouro de suínos de Joaçaba e de Videira", afirma Antonio Lunelli, 58 anos, que trabalhou 32 anos na empresa. O abate de 5.500 porcos por dia está sendo transferido para um frigorífico arrendado na cidade de Campos Novos. Ele conta que algumas fábricas de ração também serão fechadas nas duas cidades. "Estão dizendo que vão reduzir o número de integrados, mas o fato é que alguns já estão parando."

 

Desestímulo. Moradores comentam que a antiga sede administrativa da Perdigão está virando um edifício fantasma. Dezenas de salas do prédio com cinco andares foram fechadas depois que os ocupantes de cargos de gestão foram transferidos para Itajaí e Curitiba.

 

O clima de incerteza, desde que a fusão foi anunciada há dois anos, levou a uma queda no movimento econômico da cidade, segundo o vereador Eron Rossi (PP), de Videira. "Além de termos perdido os executivos e funcionários graduados, que tinham bons salários e foram transferidos, transportadoras e outras empresas que planejavam investimentos reduziram a atividade. Houve um desestímulo geral e até a produção nas granjas está caindo", relatou.

 

Os integrados reclamam da redução na margem de ganho. De acordo com Otávio José Benedetti, ele e a esposa Vera recebiam, há dois anos, R$ 4,5 mil por lote criado nos aviários da integração. "Desde a fusão a margem foi apertando e agora estamos recebendo R$ 3,9 mil." Os dois já discutem a possibilidade de se mudar do sítio para a cidade. "Como doméstica, posso ganhar mais trabalhando menos", disse Vera.

 

O integrado Davide Rufini, de 54 anos, já trocou a placa da Perdigão pela da BR Foods na entrada do sítio, mas está descontente. Com o aviário necessitando de reforma, ele não dispõe de reserva para o investimento. "Como posso entrar numa dívida de R$ 60 mil se estou ganhando só para comer?" Muitos, como o suinocultor Onésio Cenci, de 40 anos, do bairro Rio das Pedras, estão partindo para a produção independente.

 

O vereador Rossi mobilizou a Câmara em defesa dos integrados. Ele quer que o processo seja discutido com toda a cadeia de produção. Também propõe que a marca Perdigão seja mantida. "É uma empresa querida em toda a região, pois alavancou o progresso. Sou ex-perdigueiro (como são chamados os funcionários), mas vejo que não é só Videira que está perdendo, e sim o Estado de Santa Catarina."

 

O prefeito da cidade, Wilmar Carelli (PMDB), viajou várias vezes a Curitiba e a São Paulo na tentativa de evitar que a economia seja afetada. Ele disse que o nível de emprego está sendo mantido.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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