Varejo atrai executivos de outros setores para suprir falta de talentos

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Grandes redes aumentam salários, benefícios e oferecem planos de carreira para trazer profissionais.

 

Com o forte aquecimento do mercado interno brasileiro nos últimos anos, diversos setores da economia foram impulsionados com investimentos em novos negócios e a criação de vagas, o que evidenciou a falta de mão de obra qualificada em todos os níveis. Nesse processo, um dos segmentos mais afetados foi o de varejo, que vive um momento de grandes movimentações com fusões, aquisições e expansão das grandes redes. Afinal, esse universo abrange redes de lojas de todos os tipos como Carrefour, Renner e Magazine Luiza até as especializadas como a Fototica e as de luxo como a Tiffany.

 

Para suprir a demanda por bons profissionais, especialmente no alto escalão, as organizações de varejo estão começando a romper dois paradigmas: passaram a investir mais na formação e no treinamento de seus funcionários, e abriram o leque na hora de buscar talentos.

 

De acordo com Sérgio Averbach, presidente para a América Latina da empresa de recrutamento Korn/Ferry, esse é um setor que, historicamente, nunca deu muita atenção às melhores práticas de desenvolvimento profissional, especialmente quando comparado a outros como bens de consumo, tecnologia e serviços financeiros. "Além disso, o varejo tende a valorizar excessivamente a experiência na área e não o que o executivo pode trazer de fora", afirma.

 

Averbach ressalta que, assim como já acontece em outros mercados, o recrutamento no varejo começa a se basear no perfil e nas competências dos candidatos e não somente na experiência prévia e no cargo que ocupam. "Existe a preocupação hoje nas companhias em criar o novo, em fazer o diferente. Contratar a pessoa que ocupa a mesma posição no concorrente, portanto, pode não ser a melhor solução", afirma.

 

A situação não é fácil, no entanto, mesmo para as empresas que já estão buscando executivos com diferentes 'backgrounds'. A principal razão é que muitos profissionais ainda têm ressalvas em relação à dinâmica e ao enfoque exagerado do setor no planejamento e nas estratégias de curto prazo. "Enquanto na indústria os executivos planejam ciclos que vão de 3 até 60 anos, por exemplo, no varejo esse período é, no máximo, de 3 a 6 meses", afirma Luis Giolo, diretor no Brasil da consultoria Egon Zehnder.

 

Para ele, o maior desafio não é levar talentos de outras áreas para o varejo, mas fazer com que esses profissionais permaneçam nele. "Muitos aceitam uma oferta desse tipo como forma de desenvolver a carreira. Eles aprendem como funciona o 'outro lado' e depois voltam para a indústria", afirma. Os que ficam, segundo Giolo, são os que se apaixonam pelo contato direto com o consumidor. "Você faz uma ação e vê o impacto disso imediatamente."

 

O diretor da Egon Zehnder afirma que profissionais que atuam em organizações de bens de consumo e telecomunicações costumam se adaptar mais facilmente ao varejo, mas os principais nomes em atividade no segmento foram formados internamente. "Investir mais na base é uma boa solução. É preciso desenvolver programas de trainee mais robustos e ensinar os colaboradores continuamente", diz.

 

Na opinião da sócia-diretora da consultoria Mariaca, Renata Filippi, a transição é mais fácil para quem não atua na linha de frente do negócio, como na gestão de lojas, mas em departamentos de suporte como recursos humanos, tecnologia da informação e logística.

 

A Mariaca registrou um crescimento de 70% nas posições gerenciais e de diretoria no varejo no primeiro semestre deste ano, comparado ao mesmo período de 2010. Renata, que foi da C&A antes de entrar na consultoria, afirma que muitos fundos de investimento estão adquirindo empresas nesse mercado e as redes não estão aumentando apenas o número de lojas, mas também diversificando seus negócios. "Isso amplia as oportunidades para executivos de diferentes perfis e experiências", diz.

 

O diretor comercial e de marketing Eduardo Costa, por exemplo, assumiu o cargo no grupo Scalina (dono das marcas Trifil e Scala) em março, dentro do projeto de profissionalização iniciado após a associação com a administradora americana de fundos de investimento Carlyle. Ele, que já havia trabalhado no setor de alimentos e no de cosméticos, afirma que é essencial para um executivo do varejo reagir rapidamente às mudanças. "O ideal é existir um equilíbrio entre habilidades estratégicas e operacionais. No vestuário, por exemplo, as particularidades estão relacionadas às sazonalidades de vendas como períodos de coleções, liquidações e datas comemorativas", ressalta.

 

Já o diretor de recursos humanos Mário Sérgio Sampaio trabalhou por 20 anos em setores como telecomunicações, farmacêutico, serviços e financeiro, mas há um ano entrou no varejo de moda e trocou o Banco Votorantim pelo grupo Valdac, dono de marcas como Crawford e Siberian. "Passei 40 dias conversando sobre o projeto, estudando a companhia e o mercado antes de aceitar a proposta", revela.

 

Em sua opinião, o varejo passa por um momento de reestruturação de seus modelos de gestão semelhante ao vivido pelo segmento financeiro e de serviços há dez anos. "O que me motivou foi o desafio de implementar um RH mais estratégico no grupo. Com a economia aquecida e o aumento da concorrência, existe a necessidade de conectar mais fortemente as ferramentas de RH com o negócio", explica.

 

Para o executivo Cid Perseu, por exemplo, o ritmo intenso de trabalho e a velocidade das ações são justamente as características mais positivas e atraentes do setor. Ele construiu sua carreira no Walmart, onde ficou por nove anos e, após trabalhar na indústria em 2010, retornou ao varejo e atualmente é diretor comercial do Carrefour. "O que me motivou a voltar foi a dinâmica da negociação e o desafio de trabalhar em conjunto com as outras áreas. É preciso procurar, de domingo a domingo, alternativas para vender mais", diz.

 

Com a disputa acirrada pelos melhores, muitas organizações já aumentaram a remuneração de seus principais executivos no intuito de não perdê-los para a concorrência. "As grandes redes que têm capital aberto estão oferecendo mais benefícios, bônus de longo prazo e desenvolvendo planos de carreira para os profissionais de maior potencial", afirma Renata, da Mariaca.

 

Para Sampaio, do grupo Valdac, os salários praticados pelo varejo são competitivos com os de outros mercados. A diferença, contudo, é uma maior ênfase na parte variável. "É comum atrelar a remuneração aos lucros da companhia. Por isso, é fundamental trazer resultados."

 

Veículo: Valor Econômico


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