Comércio eletrônico cresce, mas esbarra na lentidão da logística

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No semestre, vendas on-line aumentaram 15,7%, enquanto nas lojas físicas houve recuo de 0,7%. Supermercados investem em centros de distribuição para dar apoio a negócios virtuais



As vendas no comércio eletrônico crescem a cada ano, e o varejo, de uma maneira geral, tem divulgado investimentos para suas operações, os quais passam pela diversificação do sortimento, construção de depósitos para armazenamento dos produtos, além da implantação de novas tecnologias. No entanto, a poucos meses do Natal, a data mais importante do comércio, essas companhias têm um desafio pela frente: acertar o passo com as transportadoras. Para os varejistas, as empresas de entrega não têm conseguido acompanhar o crescimento do e-commerce.

Este ano o Walmart espera aumento de 60% nas vendas realizadas pela web e para evitar problemas de entrega pretende ampliar o número de transportadoras com as quais a companhia trabalha. O grupo Pão de Açúcar, por sua vez, tenta encontrar maneiras para que as empresas de entrega se tornem mais eficientes. Para a varejista, uma das soluções seria o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) criar linhas de crédito para que as transportadoras possam aplicar em expansão. Enquanto isso, as duas redes de supermercados investem em novos centros de distribuição para sustentar suas operações virtuais. Recentemente, oWalmart inaugurou mais um depósito em Minas Gerais e o Pão de Açúcar abriu uma unidade no Rio de Janeiro e outra em São Paulo.

No entanto, para a diretora de inteligência de mercado do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), Maria Fernanda Hijjar, os varejistas também têm sua parcela de culpa. “O gargalo da logística não é um problema só das transportadoras. O varejista precisa realizar uma previsão correta de entregas e fechar com antecedência um contrato com as empresas responsáveis pelo transporte, o que nem sempre acontece”, diz (leia mais ao lado). A cada dia o varejo virtual confirma sua importância e mostra que não deve ser deixado de lado. Dados da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio) mostram que de janeiro a junho deste ano, as vendas do comércio eletrônico cresceram 15,7% em relação ao mesmo período de 2010. Enquanto isso, nas lojas físicas as vendas caíram 0,7%.

Problemas

As dificuldades enfrentadas pelo comércio eletrônico brasileiro ficaram evidentes a partir do final do ano passado, quando algumas companhias tiveram problemas relacionados a entrega. A B2W, formada por Americanas. com e Submarino, chegou a ser proibida de vender seus produtos no Rio de Janeiro. “O principal problema alegado pelos clientes é que a B2W vende e não entrega ou vende e não troca o produto”, diz Carlos Andrezano, promotor de justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro. A companhia assinou umtermo de ajustamento de conduta. Caso ele seja descumprido, a B2W terá de pagar multa diária de R$ 1 mil.

Varejo tradicional

Quem também enfrentou problemas no Rio de Janeiro, mas nas lojas físicas, foi o Ponto Frio, bandeira do grupo Pão de Açúcar. Na semana passada, o Ministério Público executou uma liminar contra a empresa por conta de problemas na entrega de produtos. “Uma reclamação comum tem sido a entrega de parte do produto. Por exemplo: o móveis chegam com gavetas, mas sem portas e vice-versa”, diz Andrezano. Caso a justiça considere a companhia culpada, a multa a ser paga pode chegar a R$ 50 milhões, segundo o promotor. Ele afirma que desde dezembro do ano passado, 58 reclamações relativas ao Ponto Frio chegaram ao Ministério Público. De acordo com Andrezano, para todas elas, o Ponto Frio alegou problemas com logística. O gargalo da logística não é um problema só das transportadoras. O varejista precisa realizar uma previsão correta de entregas e fechar com antecedência um contrato com as empresas responsáveis pelo transporte Maria Fernanda Hijjar Diretora do Ilos

RECEITA
60% foi quanto cresceram as vendas no segundo trimestre deste ano da Nova Pontocom, empresa de comércio eletrônico do grupo Pão de Açúcar formada pelas marcas Ponto Frio, Casas Bahia e Extra. As empresas são especializadas em eletroeletrônicos.

VENDAS VIRTUAIS
15,7% foi o crescimento do comércio eletrônico, na região metropolitana de São Paulo, de janeiro a junho deste ano. Os dados são da Fercomercio. O varejo tradicional, ou seja, formado pelas lojas físicas, teve queda de 0,7% no período.

TRABALHO RECUSADO
82% de 61 transportadoras ouvidas pelo Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos) afirmam ter recusado propostas de serviços em 2010. Entre os principais motivos está a remuneração oferecida pelos clientes, considerada baixa.


Transportadoras recusam clientes


Remuneração pouco atrativa e falta de capacidade de atendimento estão entre os motivos

Pesquisa do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), com 61 transportadoras, mostra que em 2010, 82% das empresas recusaramserviços. Remuneração não atrativa foi o principal motivo alegado, seguido pela falta de capacidade de atendimento. As empresas também recusaram propostas por não desempenharem as atividades solicitadas pelos clientes e por considerarem o setor de atuação do contratante desinteressante.

Por outro lado, as companhias de transporte reconhecem que precisam buscar o aperfeiçoamento. Do total de entrevistados, 67% responderam que melhorar a eficiência é o caminho para conquistar margens de lucro mais atrativas. Outros 21% acreditam que o aumento do preço é a solução e 12% responderam que os dois caminhos devem ser usados para incrementar os ganhos.

No final de 2010, os problemas de logística ficaram ainda mais evidentes quando algumas varejistas que operamno comércio eletrônico não conseguiram dar conta de todas as entregas. “O Natal éumaépoca onde as empresas enfrentam picos de venda. Devido ao aumento da demanda, muitas tiveram problemas para fazer as entregas e, semalternativas, tiveram que apelar para empresas que não estão acostumadas a prestar este tipo de serviço”, diz Maria Fernanda Hijjar, diretora de inteligência de mercado do Ilos.

Agravantes
Mas não são apenas a falta de eficiência das transportadoras e a desorganização das varejistas os responsáveis pelo gargalo na logística. “Muitas cidades impuseram restrições de horário para a circulação de caminhões. Segundo as transportadoras, entre as principais exigências feitas pelos contratantes estão o rastreamento dos veículos, o não envolvimento das companhias de entregaemacidentes ou roubos e coleta com hora marcada.

Além das transportadoras, grande parte das varejistas também conta com os Correios para entregar os produtos vendidos. “Pela primeira vez os Correios começam a dar sinais de que não estão conseguindo dar conta da demanda”, alerta Maria Fernanda. Correios, uma das alternativas dos comerciantes, também dão sinais de que não conseguem atender a demanda da clientela on-line

 

Veículo: Brasil Econômico


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