Fusão de iguais

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As drogarias São Paulo e Pacheco vão lançar ações em bolsa para financiar sua expansão e manter a liderança no processo de consolidação no varejo farmacêutico


Um almoço frugal,  na sede do escritório de advocacia Machado, Meyer, Sendacz e Opice, na avenida Faria Lima, em São Paulo, selou mais de um ano de negociação entre os empresários Ronaldo Carvalho, dono da rede paulista Drogaria São Paulo, e Samuel Barata, da carioca Drogaria Pacheco. A refeição comemorou a assinatura, no final da manhã da terça-feira 30, da papelada que criou a maior empresa do varejo de medicamentos, higiene e beleza do País. A DPSP nasce com faturamento anual de R$ 4,4 bilhões obtido em 691 farmácias. Trata-se de um negócio um pouco maior do que o da Raia Drogasil, fruto da fusão da Droga Raia e da Drogasil, que surgiu em julho, com receita bruta de R$ 4 bilhões e 700 pontos de venda, e marca mais uma etapa importante no processo acelerado de consolidação do setor,  que faturou R$ 43 bilhões no ano passado, segundo a consultoria Euromonitor.


Empresários de pulso forte, cujas famílias se conhecem há 30 anos, Carvalho e Barata começaram a conversar sobre uma associação em meados de setembro do ano passado. Advogados e bancos só foram chamados em dezembro, quando o ponto mais sensível já estava decidido: o controle na nova empresa seria compartilhado. O acordo de cavalheiros definiu o formato final: apesar de a Pacheco ter 51% da nova empresa, o controle será dividido com a São Paulo por 20 anos. Barata presidirá o conselho de administração, e o presidente da DPSP será Gilberto Ferreira, que dirige atualmente  a Drogaria São Paulo e é um homem de confiança de Carvalho. “Os acionistas já começaram a ensaiar a gestão conjunta durante as negociações”, conta uma fonte próxima à negociação. “As duas empresas têm culturas muito parecidas”, disse Ferreira à DINHEIRO.
 
Não faltaram tentativas de atravessar a operação. Durante as conversas entre Barata e Carvalho, houve manifestações de interesse de bancos de investimento que representavam a Drogasil e a Brazil Pharma, empresa do BTG Pactual, e contataram tanto a Drogaria São Paulo quanto a Pacheco. Os contatos não avançaram e a Drogasil acabou ficando com a Droga Raia. Mas a intensa movimentação dos grupos deixa claro que as fusões e aquisições estão longe de acabar na área farmacêutica, uma das mais fragmentadas do varejo. São mais de 60 mil estabelecimentos no País.  “As cinco maiores empresas detêm uma participação de mercado de apenas 25%”, afirma o consultor Eduardo Seixas, da consultoria especializada Alvarez & Marsal.
 
Não por acaso, o próximo passo da nova líder  é estrear na bolsa para financiar a expansão. Estima-se que a oferta inicial de ações da DPSP, prevista para o ano que vem, levante entre R$ 3,5 bilhões e R$ 5 bilhões. Ferreira, ciente de que o primeiro lugar não está garantido, tem metas claras para não perdê-lo. “Nossa prioridade é o crescimento orgânico, mas se surgirem novas oportunidades que avaliarmos serem importantes para a empresa, vamos investir”, afirmou.  Neste ano, a DPSP abrirá 30 lojas, número que deverá dobrar a partir de 2012, preferencialmente em Estados em que a presença da rede é menor, como Minas Gerais e Espírito Santo. A sobreposição de lojas entre as duas redes é muito pequena, já que a Pacheco concentrava-se no Rio de Janeiro e a Drogaria São Paulo, no interior e capital paulistas.  
 
As metas do novo gigante: a DPSP abrirá 60 novas lojas por ano, prioritariamente em Minas e no Espírito Santo, e considera fazer aquisições entre as redes regionais 
 
A  concentração de lojas nos dois principais dois mercados nacionais, paradoxalmente, é o maior problema das duas novas gigantes (juntas elas estão presentes em apenas nove dos 26 Estados). Tanto a Raia Drogasil quanto a DPSP não podem ser consideradas redes nacionais. Por isso, acredita-se numa disputa entre as duas, nos próximos meses para comprar redes regionais. Entre os possíveis alvos  estão a Panvel, do Rio Grande do Sul, a Drogaria Araújo, a maior de Minas Gerais, e a Big Ben, do Pará. A Pague Menos, do Ceará, cobiçada pelos grandes grupos do Sudeste, já se movimentou para sair da lista de alvos e virar caçadora. Dois dias depois do anúncio da criação da DPSP, deu o pontapé inicial para seu processo de abertura de capital na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
 
A rede, com 450 lojas em 26 Estados, é a terceira maior em faturamento e a mais pulverizada. A intensa consolidação local busca defender o mercado da entrada de eventuais concorrentes estrangeiros, afirma Guilherme Assis,  analista da corretora Raymond James. “Agora ficou muito mais caro entrar no mercado brasileiro”, diz, referindo-se principalmente à rede britânica Boots, que tem 3.200 farmácias espalhadas por 25 países. Como a DINHEIRO revelou recentemente, a companhia britânica sonda o mercado brasileiro para fincar sua bandeira.

 




Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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