Perfumarias buscam novo modelo de negócio

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As perfumarias de luxo brasileiras, que vendem as grandes marcas internacionais, passam por um momento de revisão de seu modelo de negócio. O país importa mais perfumes a cada ano - só em 2010 a expansão foi de 46% - e já é o maior mercado mundial do segmento, mas a forte concorrência pressiona as margens das lojas locais. Além de grandes redes como Lojas Renner, elas disputam espaço com o comércio eletrônico, que cresce puxado pela Sack's, hoje a maior varejista de perfumes da América Latina. E sentem o impacto do aumento das viagens dos brasileiros ao exterior - os perfumes são itens comuns nas listas de compras dos turistas.

Como reação, as perfumarias estão intensificando as negociações com os fornecedores para reduzir preços, passaram a parcelar as compras em até 10 vezes, começam a incluir itens nacionais no mix e constroem suas próprias lojas virtuais.

"Hoje olhamos o parcelamento de forma mais generosa. Assim atingimos a classe média e algumas pessoas que vão viajar, mas antecipam a compra diante da oportunidade", afirma Sun Chul Kim, sócio da Opaque, rede de perfumarias com lojas em sete shoppings de São Paulo. De dois anos para cá, a Opaque passou a permitir que o cliente parcele o pagamento em seis vezes, esticadas para dez em datas comemorativas.

O próximo passo, segundo Kim, é vender pela internet, projeto previsto para se efetivar em meados de 2012. A Opaque também avalia a possibilidade de vender produtos fabricados no Brasil, sem, entretanto, popularizar demais o mix. "Serão produtos premium, dificilmente os que já estão na farmácia ou no supermercado", diz.

Também em busca de sua fatia no orçamento dos brasileiros - que gastaram US$ 6 bilhões com perfumes em 2010, 93% com fragrâncias nacionais e 7% com importados - 16 redes de perfumaria decidiram se unir no ano passado na chamada Associação Brasileira da Perfumaria Seletiva Multimarcas (ABPS). O grupo, que inclui empresas de Brasília, São Paulo e Rio, elegeu um representante para negociar com os fornecedores todo o volume de perfumes que deseja comprar.

"Conseguimos um desconto médio de 22%", afirma Jéssica Souza, sócia de quatro lojas da rede de perfumarias Universo, integrante da ABPS, com 11 unidades em Brasília. Em novembro, a associação distribui seu primeiro catálogo conjunto, com preços tabelados para todas as redes participantes. Assim, Jéssica acredita que será mais fácil competir com gigantes como Sack's e Lojas Renner. "As importadoras acabavam dando prioridade para elas, devido ao volume de compra", diz.

Com 95 anos de história e quatro perfumarias em shoppings de Fortaleza (CE), a rede Casa Parente está de olho em um novo público. É um fato que os desembolsos dos brasileiros no exterior cresceram - em agosto avançaram 46% contra o mesmo mês de 2010 e ultrapassaram em US$ 1,3 bilhão os gastos dos estrangeiros no Brasil. "Perdemos o cliente da classe A, que viaja e compra fora. Em contrapartida, ganhamos com a inserção das classes B e C no mercado de perfumes", afirma o proprietário da rede, Livio Parente.

Há seis meses, o cliente da Casa Parente pode pagar em até dez vezes no cartão. Colônias nacionais já fazem parte do portfólio e a plataforma da loja virtual está pronta, com previsão de começar a vender para todo o Brasil no fim de 2012.

A RR Perfumes, uma das maiores importadoras de perfumes do país, tem recebido reclamações de lojistas que precisam rever a margem de lucro. "O que eles dizem é que o consumidor vai até a loja, experimenta a fragrância e depois a compra no exterior ou no free shop", diz a vice-presidente de marketing da empresa, que traz ao Brasil marcas como Hugo Boss, D&G e Chloé. Além disso, no segmento há também uma percepção de que parte dos consumidores busque as lojas físicas para provar os perfumes e depois comprar na internet.

Também a LVMH, que distribui diretamente no Brasil as marcas Dior, Givenchy, Kenzo e Acqua di Parma, afirma que as perfumarias têm insistido em preços menores na negociação. A empresa atribui a perda de rentabilidade das varejistas à alta taxação. "As perfumarias estão sofrendo uma grande queda de vendas pela evasão do consumo para o mercado externo, que poderia ser evitada com a redução dos impostos", afirma Renato Rabbat, diretor-geral da divisão de perfumes e cosméticos da LVMH no Brasil.

Segundo Rabbat, apesar do contexto mais competitivo, as perfumarias ainda são o principal canal de vendas dos fornecedores de perfumes e cosméticos importados no Brasil. A LVMH traz no começo de 2012 mais uma forte competidora para este mercado - a rede de cosméticos e perfumaria Sephora



Veículo: Valor Econômico


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