O duro ajuste da Hypermarcas

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Administrar os efeitos negativos dos ajustes em sua estratégia no curto prazo para virar a página e esquecer o ano de 2011. É a análise feita pelo comando da Hypermarcas, a maior indústria brasileira de consumo, sobre a atual situação da companhia - depois de a empresa ter anunciado ontem resultados ruins no terceiro trimestre do ano. A estimativa para o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em 2011 foi revista pela segunda vez e passou de R$ 900 milhões para R$ 700 milhões - era de R$ 1 bilhão em meados do ano.

"Não está nada fácil passar por esse processo. Ninguém gosta de mostrar esses números, mas achamos que estamos no caminho certo", disse ontem o presidente da companhia, Cláudio Bergamo. A ação da empresa na Bovespa teve a maior queda do dia ontem, com perda de 8,6%, menor valor desde abril de 2009.

Juros mais altos e variação cambial afetaram os gastos, e a demanda mais fraca atrapalhou os planos de crescimento. Desembolsos com reestruturação de negócios comprados ainda pressionaram as despesas recorrentes. Mas isso não explica o problema central enfrentado pelo grupo em 2011.

A Hypermarcas vendeu menos do que precisava porque decidiu comprar uma briga dura de vencer. A empresa adotou uma nova política comercial neste ano, que reduz generosos descontos e antigas facilidades dadas aos atacadistas pelas companhias adquiridas pela Hypermarcas. A companhia decidiu rever essa postura, considerada nociva ao negócio, o que tem gerado atritos no mercado. Foi travada uma queda de braço com os distribuidores da empresa, parceiros das companhias compradas pelo grupo nos últimos anos.

"Decidimos mudar e fomos fundo nisso. Se nós cedêssemos, não daria certo. É algo que não dava para voltar atrás", conta Bergamo. Colocada a estratégia em prática, houve reações. Como esses distribuidores entraram nessa negociação superestocados, em período de demanda fraca, eles passaram a comprar menos. Resultado: a Hypermarcas não vendeu.

"Isso aconteceu por causa da desestocagem. Nossos clientes passaram a desovar os estoques que tinham em vez de comprar de nós. Não aceitamos negociar descontos com eles. E não chegamos a perder participação de mercado porque as marcas continuaram nas lojas, mas perdemos receita", conta Martim Mattos, diretor de relações com investidores.

As vendas do grupo subiram 10,4% no terceiro trimestre em relação ao ano anterior, bem abaixo do ritmo de expansão acima de 27% no acumulado do ano e de 60% em 2010. O lucro líquido de R$ 78 milhões no terceiro trimestre de 2010 passou para um prejuízo de R$ 190,5 milhões no mesmo intervalo de 2011, o pior resultado desde a abertura de capital.

No acumulado do ano, o resultado foi também negativo (R$ 104,2 milhões, contra lucro de R$ 177,8 milhões). O Ebitda encolheu 24,4% de julho a setembro, para R$ 138 milhões. A margem Ebitda perdeu sete pontos e foi a 15,2%.

"O resultado veio muito abaixo das expectativas, o que deverá pesar ainda mais sobre o preço da ação, que já acumula queda 62,5% no ano", informa relatório da Planner Corretora.

Em teleconferência com analistas, o comando do grupo disse acreditar que começará o ano de 2012 com o problema de estocagem dos distribuidores resolvido. Além disso, espera queda na taxa de juros e inflação sob maior controle. A empresa também prevê Ebitda de mais de R$ 850 milhões em 2012, valor que deve se somar às sinergias geradas de mais de R$ 200 milhões com a consolidação dos negócios de higiene e beleza de 2012 a 2014.

"Queremos deixar tudo isso que aconteceu em 2011 para trás. E também quero deixar claro que os fundamentos da empresa continuam sólidos e entraremos o ano de 2012 melhores do que estamos", disse Bergamo.

Os analistas questionaram a existência de dados que indicassem uma mudança de comportamento futuro da empresa. O presidente da Hypermarcas disse que o grupo tem feito cálculos com base num acompanhamento semanal com alguns distribuidores. "Pelas nossas contas, o atacado deve fechar o ano com estoque no segmento de medicamentos na casa dos 70 dias, uma queda de 20 dias, o que representa R$ 120 milhões a menos de estoque parado."

De acordo com resultados apresentados ontem pelo grupo, os juros mais altos no ano e a variação cambial também pesaram nas contas, com alta nas despesas financeiras de mais de 1.240% de julho a setembro sobre 2010. A relação entre dívida e Ebitda ficou em 3,9 vezes, superando a taxa considerada adequada pela empresa, na faixa de 3,2 vezes.

Também teve impacto nos resultados o aumento das despesas não recorrentes oriundas da integração dos vários negócios adquiridos pelo grupo nos últimos anos. Foram 23 aquisições entre 2007 e 2010. Essas despesas somaram R$ 54,7 milhões de julho a setembro, 271% acima do ano passado.


Veículo: Valor Econômico


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